Capítulo X - Sonho

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O caçador de dragões caiu nocauteado em cima de mim, movendo visivelmente apenas seus pulmões dentro de sua caixa torácica, enquanto eu ainda sentia meu corpo eletrizar, tentando recompor o ritmo normal de minha respiração.
Fixei minha visão no teto de meu quarto, suportando o peso do outro sobre minha pessoa, pensando no que havia acabado de acontecer. Com meu semblante transparecendo um verdadeiro contentamento, eu afagava minha testa por baixo de minha franja "O que você acabou de fazer, Lucy?" me questionei "Mas foi muito bom, não foi?" pensei em seguida.

— Obrigada por isso, Natsu... Espero que você tenha gostado tanto quanto eu. —O acariciei as costas, onde minha mão alcançava.

Ouvi apenas um ronco como resposta.
Admirei seu rosto e seu corpo sobre o meu, tão delicado e ingênuo, ao mesmo tempo que pode ser feroz e brutal. Talvez seja disso que eu goste mesmo, dessa dualidade harmônica que ele tem e, acima de tudo, eu gosto dele, sempre gostei, sempre gostei tanto que eu nunca imaginei que fosse possível gostar ainda mais, mas foi e é!
Nesse momento eu estava muito feliz. Ainda quero muito que Aquarius saiba disso e esse acontecimento me deu ainda mais vontade de encontrá-la.
Me retirei debaixo do mago, com cuidado. O cobri com o edredom que amarrotamos e beijei seu rosto, ele deu um delicado sorriso e virou-se para o outro lado.
Peguei um pijama em meu roupeiro e fui me lavar. Preparei meu banho e, ao entrar na banheira cheia, senti vários locais arderem em minha pele, o que me fez ter um pouco mais de cuidado ao passar sabonete em mim. Fechei o registro, deixei a água ir embora pelo ralo, sequei o excesso de líquido que ainda escorria por mim e me troquei. Penteava meu cabelo ao voltar para minha cama, quando notei que Happy estava tremendo deitado na poltrona.

— Happy? —seu corpo paralisou no instante em que o chamei. Segui para perto dele e toquei em sua cabeça— Happy... Está acordado? Tá tudo bem?
— Lu... Lucy, eu tive um sonho, um sonho horrível! Uuuaaaah! —abraçou minha perna que estava mais próxima dele.
— Oh... me conte esse sonho. —Coloquei minha escova no braço da poltrona, o peguei em meus braços e sentei com ele no estofado— Sempre que contamos um sonho ruim para alguém, ele não se realiza, sabia?
— É que —seu rosto se avermelhou— eu sonhei que... que... —chegou para mais perto e, sussurrando em meu ouvido, contou que ouvia e via o Natsu e eu em uma momento íntimo.

Minha estrutura enrijeceu, meu olhar engrandeceu, minhas bochechas provavelmente ficaram mais vermelhas que o cabelo da Erza.
Segurando em seus bracinhos, investiguei:

— Como é que é, Happy?!
— Siiim, foi muito feio! Que bom que você disse que não vai acontecer, eu até tava assustado, uaaaaah! —seus olhos poderiam nadar em suas próprias lágrimas, tamanho seu desespero.
— É... é isso ai, Happy, que absurdo, né?! Natsu e eu, puff ha ha ha ha —disse, um tanto receosa, dando tapinhas em sua cabeça e rindo de nervoso.
— Aye, aye. Lucy... —me fitou, incomodado— Agora pode parar! Tá machucando, idiota!
— Não grita comigo na minha casa não! Seu gato baru-
— Não foi sonho, Happy. —Apareceu Natsu, encostado no batente da entrada de meu quarto, vestindo apenas sua cueca, cachecol e munhequeiras, com os braços cruzados e um pé cruzando o outro.
— Natsu! —o gritei— Sssh! —enrugando minha testa como desaprovação, coloquei um indicador na frente de meus lábios, para que ele mantivesse o sigilo da nossa noite.
— Ué, provavelmente o Happy nos ouviu ou até mesmo viu algo de relance e acabou sonhando com isso. —Andou se arrastando em direção ao banheiro, coçando suas costas e bocejando, enquanto o gatinho e eu o seguíamos com o olhar, boquiabertos.
— Lucy... —o Exceed me chamou tão baixinho que pensei o ter escutado apenas em meus pensamentos.
— Happy?
— Como você pôde?! Sua imunda! Você corrompeu o Natsu! Buuuaaa um garoto tão puro, tão cheio de sonhos! —descontava seu descontentamento em mim em meio às lágrimas e tapinhas com suas pequenas patas.
— Ei! Pare com isso, Happy! Para de me bater! Não fizemos nada de errado! —consegui paralisar seus movimentos agressivos e o encarei, severa, enquanto ele me observava com tristeza.

Na frente da poltrona onde estávamos, Natsu se posicionou e acariciou entre as orelhas de seu velho amigo. Sorrindo, falou:

— Tá tudo bem, Happy! —com sua famigerada aparência alegre, tranquilizou o companheiro,
— Natsu... —o mago azul chamou pelo outro, olhando para cima, erguendo também suas sobrancelhas.

O filho de Igneel bocejou mais uma vez e seguiu até meu quarto.

— Viu o que ele disse, Happy? Independentemente do que tenha acontecido, tá tudo bem. —Tentei acalmar a criaturinha, também sorrindo para ela.
— Aye... —encarou a parte de baixo de onde estava, abatido.
— Ei... Por que você não está brincando dizendo "eles se goxxxtam"? Logo agora que seria um momento apropriado. Parece até que acha estranho poder estarmos juntos em um sentido... romântico. —Tentei compreendê-lo.

Virou de costas para mim e me respondeu:

— Eu não me importo com o que vocês fazem ou deixam de fazer em suas vidas pessoais, vocês já estão bem grandinhos para decidirem o que querem. E também sempre esteve na cara que vocês se davam bem, muito bem —enfatizou a palavra "muito"—, mas... por favor, ninguém precisa ouvir ou correr o risco de vê-los em um momento desses. Eca! —terminou a frase colocando a língua para fora da boca, traduzindo sua repulsa.
— Ha ha ha até parece que você nos enxerga como figuras paternas.
— Hm? —confuso, voltou seu olhar em minha direção.
— Normalmente as pessoas têm gastura só de saber que os próprios pais têm relações.
— Argh, Lucy! Para de falar esse tipo de coisa! —a pelagem azul se arroxeou devido sua aversão.
— Tá bem, tá bem, vou dormir. —O posicionei ao meu lado e me levantei— e pode jogar fora ou comer esse peixe morto ai!
— Aye! —ajeitou-se no estofado e abraçou o animal aquático desfalecido— Boa noite, Lucy!
— Boa noite, Happy. —O admirei, sentindo o coração aquecer, sorri. Realmente tive sorte em conhecer esses dois.

Voltei para o quarto. Reparei em Natsu desleixado e estirado sobre a cama, o edredom trançava em suas pernas. Cuidadosamente, deitei ao lado dele e me cobri com a pouca parte desocupada do acolchoado. Virei para o lado contrário do adormecido.
Me surpreendi quando o outro, ainda dormindo, acertou forte sua mão em meu ouvido ao se mover, fazendo com que eu ouvisse um forte zumbido.

— Ai! Que droga foi essa?! —resmunguei, envolvendo minha orelha com metade de meu travesseiro.

Sibilando ao respirar, envolveu meu ventre com um braço. Senti minha barriga congelar e soltei a almofada. O escutei murmurar, em uma fala rouca um "bô notchi, Luxi", traduzi como um desejo de boa noite para mim. Segurei uma risada e apenas o devolvi o desejo de que eu tivesse um sono agradável:

— Boa noite, Natsu. —Abracei seu antebraço em mim, fechando meus olhos.

Estranha SinfoniaWhere stories live. Discover now