𝐕 𝐀 𝐋 𝐃 𝐀O som melodioso do alaúde atravessava a porta, misturando com as vozes embriagadas dos homens na taverna, mal dava-se para ouvir a voz do cantor. A mulher não conhecia os versos. A história era sobre um jovem fidalgo que havia se apaixonado por uma sereia, mas ela o arrancou o coração quando teve a oportunidade. Não a julgo, pensou, é provável que ela tenha tido motivo para isso. O pensamento fez com que um pequeno sorriso crescesse em seus lábios.
Naquela noite a mulher não tinha tempo para se distrair com suas próprias piadas. Era ela quem guardava a porta do estabelecimento, escondida nas sombras, podia ver quem entrava e saía. Estava reclinada na parede de pedra, podia sentir uma leve dor nas costas pelo mal jeito, mas precisava passar por despercebida. Tinha os cabelos cobertos por um capuz e o restante do corpo era revestido pelo manto preto. A única coisa que podia ser vista eram seus olhos, profundos e ambiciosos, fora daí que surgiu seu apelido: Olhos de Corvo. Diziam que ela conseguia ver há quilômetros de distância, era assim que localizava seus alvos.
Talvez fosse verdade, Valda gostava de alimentar os boatos sobre si mesma. Queria ter seu trabalho reconhecido, logo sabia que a melhor forma de fazer isso era deixando que falassem sobre ela. Quando a viam se aproximando de uma vila, podia se ouvir os cochichos. Homens e mulheres mantinham certa admiração por ela, afinal todos tinham um serviço para lhe oferecer. Seja ladrões que roubavam o povo, brutamontes que sequestravam crianças ou até mesmo vizinhos incômodos, as pessoas sempre tinham alguém para eliminar.
Na maioria das vezes, não se sentia orgulhosa do que fazia. Nunca escolheu matar pessoas em troca de dinheiro, havia sido um ofício que as dificuldades da vida lhe trouxeram. Tentou algumas vezes deixar essa vida para trás, até perceber que era a única coisa da qual sabia fazer direito. Qual outra opção tinha? Não moraria na rua, ainda mais com a sua mãe. Ambas precisavam sobreviver, o sustento precisava vir de algum lugar. Embora soubesse que não era um trabalho digno, fazia o melhor que podia. As mortes eram rápidas e sem sofrimento, principalmente quando não havia um propósito para ser violenta.
Dessa vez, sabia que não seria fácil. O contrato era para matar um elfo. Não sabia muito sobre ele, apenas que ele lutava nos torneios da cidade e que a esposa o flagrou dormindo com outra. Apesar de achar uma proposta superficial, tinha um código moral que não a permitia julgar os motivos de seus contratantes, mesmo que eles não fossem bons ou questionáveis. Nesse caso, não via necessidade de matar o homem. Quando algo não lhe serve bem, melhor deixar ir embora. Entretanto fazia o trabalho pelo dinheiro e não para determinar quem estava certo ou errado. Valda apenas cumpria o que era preciso para garantir o seu sucesso nas missões que lhes eram direcionadas. Perguntas não eram parte disso.
A luz da lua era a única iluminação das ruas de Haedwen. Boa parte dos moradores estava adormecido dentro de suas casas, já se passava da meia noite. O povo naquela região costumava dizer que aquela era a hora dos lobos, o momento em que as bestas saem para caçar e as ovelhas que ficam no caminho são suas vítimas. Por isso, tomados pelo medo, quase ninguém ousava por o pé para fora da porta de seus casebres. Ficando escondidos até que a primeira luz apontasse nos céus. Valda nunca gostou da luz do dia, sempre preferia vagar pela noite escura, quando não tinha ninguém para ver o que estava fazendo. Em sua opinião, era o melhor momento para executar o seu trabalho.
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REINO DAS CINZAS
FantasyA paz entre dois reinos poderosos entra em cheque quando a única coisa que os separavam parece finalmente possuir uma falha. Em uma região onde as notícias de uma futura guerra se espalham mais rápido do que a peste, a insônia se torna cada vez mais...