44. O dia seguinte...e as semanas também

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Acordei com o rosto tão inchado que parecia que um trator tinha passado nele

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Acordei com o rosto tão inchado que parecia que um trator tinha passado nele.
Tomei banho, coloquei um vestidinho leve, me maquiei para esconder o inchaço causado pelo choro incessante da noite anterior, peguei a chave do carro e o celular, ergui a cabeça e saí decidida a conversar com Pierre e explicar a ele toda essa confusão. "O que temos é forte!" Pensei comigo mesma. " Ele vai entender tudo".

A casa de Pierre estava silenciosa e meu peito estava apertado. Vim o caminho todo tentando me convencer de que ele só estava chateado com o fato de saber pelo irmão de todo meu passado, mas como iria contar se eu mesma não lembrava?. Toquei a campainha e aguardei.

- O que você quer? - Os olhos de Pierre estavam injetados de...raiva?
- Acho que precisamos conversar, Niall! Pode me deixar entrar?          
- Acho que é tarde, Cassíope! Não temos nada a dizer! Fui um babaca, caí na sua conversa. Você mentiu, me enganou e ponto. Tudo explicado.
- O que aquele ordinário do Paollo te falou? Saiba que ele... - E sem me deixar terminar ele explodiu.
- Cala essa boca, caralho!!!! E não ouse falar do meu irmão!!!! Você conseguiu destruir ele com seu feitiço de boa moça! Mas a mim você não vai conseguir! SOME DA MINHA FRENTE!!!!
- Ok, Niall! Seja o que for que ele disse está claro que é uma mentira, mas você prefere acreditar no seu irmão, claro! Adeus! - Precisava sair dali, não derramaria nenhuma lágrima! Não mesmo!
- E outra coisa, Cassíope. - Não me virei só ouvi mais de suas dolorosas palavras - Se está mesmo esperando um filho e for meu, arcarei com os custos.  Após um exame minucioso de DNA na melhor clínica da cidade. Acho que está bom para você, não é? - Meu peito se inflou de raiva e me virei caminhando de volta.
- Não preciso do seu dinheiro, não preciso me humilhar, Pierre! Se eu tenho ou não um filho aqui, você nunca vai saber se é seu porque eu quero que enfie esse exame e o seu dinheiro em rolinho no seu cú!!!! Passe mal, cagão dos infernos!

Morta de ódio e me sentindo humilhada ao extremo segui para o carro e ao dar partida olhei para a varanda do segundo andar da casa e lá estava Paollo com o mesmo olhar irritante, pose arrogante e um sorriso cínico nos lábios de quem conseguiu o que planejou. "Filho da puta!!!".
No momento que saí da casa de Pierre dirigindo rápido, as comportas se abriram novamente e lágrimas grossas encharcaram meu rosto. Quando entrei na rodovia mais movimentada ainda chorando convulsivamente e não vi um carro saindo de uma das ruas, meu último pensamento antes de  tudo escurecer foi: Nunca dirija e chore sem cinto de segurança! É o mesmo que beber!

                             ***

- Cassi, Cassi, por favor, me responde! - Ouvi ao longe o choro de menina de Kiara mas não conseguia abrir os olhos. Meu corpo inteiro doía.
- Prin...prince... - Tentei chamá-la para pedir que parasse de chorar.
- Não fale nada! Vou chamar uma ambulância! Raul, faz alguma coisa!
- Não é melhor chamar seu pai, senhorita Kiara?
- Nã...- Queria gritar mas minha voz não saia. Ouvia o diálogo de Kiara com o motorista, mas não conseguia reagir.
- Não fale, Cassi! Por favor...Zayn! - Ela tentou aparentar uma calma que não sentia -  Príncipe, me ouça!...Raul liga logo pra porra da ambulância!!

Devo ter apagado novamente, mas quando senti uma dor lancinante na perna, algumas pessoas falando e um cheiro de éter insuportável concluí mesmo ainda sonolenta que devia estar em um hospital.
Não sei quantas horas haviam passado, mas quando voltei novamente a ouvir alguns sons e consegui enfim, abrir os olhos, estava em um quarto branco, com um monitor apitando de um lado e outro fazendo uma sinfonia com o primeiro em sincronia perfeita.

- Ela está se mexendo! Filha! - Minha mãe parecia ter chorado.
- Minha rainha!!!, Graças a Deus!!
- Se...de - minha garganta arranhava, minha língua parecia uma lixa e eu parecia ter andado no deserto por dias.

Logo entraram duas enfermeiras checando cada uma um monitor e olhando o relógio. Tinha plena consciência de que sofri um puta de um acidente, mas não entendia o porquê de dois monitores cardíacos.

- Cassíope, né? Bom dia! - A enfermeira de olhos azuis e rosto enrugado sorria - Você é forte, mulher! Mas não apronte outra dessas!!
- Bom...dia...- Falei baixinho - Zayn...mãe...
- Calma, criança! Vou pegar água para você! - Ela saiu enquanto a outra permaneceu checando o monitor do meu lado esquerdo.
- Mãezinha...- Zayn agarrou meu braço - Eu tive tanto medo!
- Tô...aqui... - Tentei sorrir e me mexer e foi quando vi minha perna direita com um gesso horroroso até a coxa - Pôrra...
- Você está em um hospital, garota! Olha essa boca! - Minha mãe disse fingindo estar brava mas sabia que estava aliviada. Tentei sorrir.
- Pronto! Beba devagar! - A enfermeira gentil retornou com um copo d'água e um canudinho.
- Obrigada... - Agradeci e ergui o braço que Zayn soltou. O outro tinha fios e soro.
- Mais alguns dias e você já estará bem para sair daqui, mocinha! Isso porque além de forte é ótima motorista! Pelo que soube do acidente e como ficou seu carro...
- Pôrra... - Revirei os olhos. Primeiro minha perna, agora meu carro?
- Eu não acredito que está preocupada com seu carro, Cassíope! Faça-me um favor!!!! - Olhei feio para minha mãe e com os olhos indiquei minha perna com o gesso. A enfermeira percebeu minha agonia.
- Ah, isso! Já sei que é uma dançarina! Algumas sessões de fisioterapia e ela estará novinha em folha! Infelizmente vai ficar uma cicatriz, mas nada que uma boa tatuagem não cubra! -  Ela mostrou a parte interna do antebraço - Vê alguma coisa? - Balancei a cabeça em negativo.
- Minha rainha...temos coisas mais importantes para cuidar!
- Zayn...acho que não é a hora... - Minha mãe disse e eu arregalei os olhos. Se minha perna e meu carro não são importantes, o que é?
- Fica tranquila, D. Samia! Ela vai ter que saber mesmo! Caso queira sair logo daqui e não ser uma paciente rebelde que não vai querer se alimentar!
- Quanto tempo eu es... - Merda! Não conseguia nem falar direito!
- Está aqui há cinco dias, recebeu inúmeras visitas e se for boazinha, acredito que no fim de semana que vem está saindo daqui.
- Ele... - Olhei para minha mãe, ela entendeu e sua resposta foi baixar os olhos. "Ele nem sequer veio me ver". Uma lágrima escorreu e quis limpá-la, mas Zayn o fez por mim.
- Não vale isso, mãe! Ele quem está perdendo uma mulher maravilhosa!
- Kiara... - Foi Kiara quem me encontrou, pelo menos ela veio. Mas Zayn também baixou os olhos antes de responder.
- Ela estava saindo para ir ao meu encontro na casa de Giane e viu o acidente...veio aqui nos três primeiros dias...mas depois sumiu... não consigo contato com ela, nem tem ido à escola...
- Filho da puta...ele não pode... - Estava com tanta raiva que o monitor começou a apitar.
- Calma! Muitas emoções para um dia só! Acho que por hoje está bom, não é, filho? - A enfermeira disse e gentilmente foi levando Zayn para fora.
- Mãe...
- Hoje não, Cassi...seja boazinha, ok? Depois a gente pega aquele filho da puta e dá uma surra!!

Nos dias que se seguiram recebi várias visitas e me sentia melhor. Leona que todos os dias estava plantada no hospital com Jaime, os amigos de Zayn, as meninas do Studio de Dança, Mahaila e até alguns amigos que fiz na empresa, mas ele e Kiara? Pareciam ter sumido na poeira. Depois que a enfermeira Branca, sim, o nome dela é esse, me contou com toda a calma do mundo que eu estou grávida e o bebê inspira cuidados, tento ser a paciente exemplo deste hospital. Um filho de Pierre...chega a ser cômico se não fosse trágico!!!
Minha mãe tentava disfarçar, mas conheço D. Samia muito bem e sabia que ela estava escondendo alguma coisa e que isso a deixava muito triste. Quando perguntei por Seu Tito, ela desconversou às duas vezes. Concluí que Paollo conseguiu enredar também seu tio. O que ele tinha dito para todos se afastarem eu ainda vou descobrir!! Que raiva!!!!
Aliás, raiva que se transformou em um ódio profundo quando depois de já estar em casa  e bem, soube de tudo que tinha realmente acontecido...



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