— Dá próxima vez que você me responder, eu vou quebrar seus dedos. — E assim começava mais uma manhã em Crisfield , uma cidade tão pequena que poderia ser esquecida com o tempo.
Crisfield é conhecida por ser a capital do caranguejo no mundo inteiro , tudo nessa cidade tem haver com frutos do mar , até os perfumes daqui tem esse cheiro de coisa podre. Meu pai me disse uma vez que tinha certeza que iriam produzir um sorvete com gosto de caranguejo um dia.
Não me julguem por falar mau da minha cidade , afinal eu nasci aqui e meus pais , Margaret e Arthur nasceram também aqui e se apaixonaram no ensino médio e cometeram o erro de esquecer de usar preservativo e agora eu estou aqui.
Quando eu tinha sete anos , meu pai morreu em um acidente de barco em uma manhã de sabádo, eu não me lembro de nada depois disso, tudo é um borrão, lembro-me claramente de ouvir minha mãe gritar e chorar. Isso é tudo. Margaret Polivvers sempre foi uma mulher linda , olhos castanhos e um cabelo tão negro quanto a noite se encaixavam perfeitamente com a pele chocolate e o rosto perfeitamente conservado com os anos que se passaram.
Encaro a foto do meu pai em cima da mesinha ao lado da minha cama. Meu pai vestido de vampiro em seu último dia das bruxas. Consigo ver claramente, Seu cabelo ruivo cortado e seu olhos verdes escuro brilhavam na fotografia. Eu carregava os seus olhos e isso já era uma motivação para mim, apesar da cor de pele da minha mãe e meu cabelo ser mais cacheado.
Era uma bela mistura.
Cinco anos depois da morte do meu pai, ela se casou novamente com Bill Jollys, um pescador bebâdo que me deixa enojada só de imaginar ele perto de mim. O motivo dela se humilhar para esse homem todos dias nesse inferno que ela insiste em chamar de casa, é um mistério. Ele a agride a todo momento e se eu me meter, ela fica sem falar comigo por uma semana e sem contar, com a parte em que Bill também pode me bater caso eu interrompa seu joguinho doentio.
— Eu vou embora , Mãe. É a última vez que te chamo pra vir comigo. — Falo terminando de arrumar minha pequena mala cinza. Eu nunca tive muita coisa, então não terei problema em arrumar minha bagagem.
— Lugar de mulher não é em faculdade! — Ela fala mais uma vez seu pesamento machista e antiquado. Bill fez lavagem cerebral na minha mãe, eu a perdi há anos.
— Ele te machuca tanto, mãe. — Falo sentindo as lágrimas se acumular mais uma vez nos meus olhos.
— Ele me ama, você não entenderia. — Ela responde venenosa.
— Tio Jonh ligou mais cedo, falando que vai me esperar amanhã. — Falo mudando de assunto. Eu não queria chorar novamente. Não na frente dela.
É incrível como o acidente de barco não matou só meu pai. Minha mãe também morreu naquele dia e o único problema é que eu continuei vivendo, ou tentando viver.
— Meu amor, você não pode ir pra Pensilvânia. É do outro lado do mundo.
— Mãe, não é tão longe. E não é todo dia que se consegue uma bolsa integral para estudar na Swarthmore College, ainda mais Literatura. — Falo colocando o porta-retrato do meu pai na minha mala e fechando-a.
— Nós vamos sentir saudade de você. — Ela fala e não consigo segurar um riso irônico quando menciona a palavra "nós".
— Você pode vir comigo. — Falo novamente segurando suas mãos. — Você pode conseguir
uma entrevista com ajuda do Tio John. — Mamãe era secretária em uma companhia telefônica.— Bill precisa de mim, meu amor. — Largo suas mãos bruscamente e vou em direção ao pequeno banheiro no corredor pouco iluminado.
-— Faça o que quiser, eu desisto. — Falo pegando meu hidratante facial e meu shampoo favorito e jogando de qualquer jeito na mala. —Estou cansada, Boa noite. — Falo e ela sai quarto fechando a porta atrás de si.
Ouvir algumas músicas da Adele sempre me deixaram mais relaxada toda vez que eu discutia com minha mãe. Todos os dias, eram assim desde os meus 12 anos e agora que tenho 19 anos, eu posso cursar a minha faculdade e seguir a minha vida. Eu amo a minha mãe, sempre vou amar , mas como ajudar alguém que não quer ser ajudado ?
Lembro-me do natal de dois anos átras. Bill estava bebâdo e bateu na minha mãe no meio da ceia e eu fiquei apavorada, minha primeira reação foi pegar uma faca de cortar carne apontar pra ele que riu e me chamou de "fracote ". Minha mãe se colocou na frente, ela me deu um tapa tão forte que a faca caiu no chão. Chorei por dois dias, eu queria morrer, queria ficar com meu pai. Eu estava pronta pra morrer e finalmente sumir. Uma semana depois, roubei uma pequena lâmina do banheiro e esperei o intervalo da escola para colocar em prática o meu plano mais infeliz.
— Não deveria fazer isso. — Uma voz grossa e suave ao mesmo tempo me alertou. —Sua vida é valiosa demais, não importa qual seja seu motivo, não seja covarde e desista assim. Sempre vai existir outra saída.
Eu virei por alguns segundos para encarar a figura. Os olhos castanhos me encaravam tentando me desmontar aos poucos. O cabelo negro ainda estava molhado e pelo físico , eu diria que ele esta no time de futebol.
— Qual seu nome ? - Ele perguntou exibindo o sorriso perfeito.
— Aly...
— Seu nome todo, morena? — Ele peguntou cruzando os braços e ajeitando a jaqueta cinza que usava.
— Alyssa Nathalie O'Sullivan — Falo voltando a encarar a pequena lâmina fria em meu pulso esquerdo.
— Não vale a pena, Alyssa. — Ele falou sem se mover.
— Você não sabe nada sobre mim !
— Eu sei que você é jovem, bonita e eu espero que seja inteligente. Olha, você pode superar isso de qualquer jeito.
— Eu não tenho amigos, não tenho mãe, não tenho pai ,não tenho irmãos. Eu não tenho nada. — As lágrimas começaram e por um segundo eu abaixei a lâmina. Senti os braços daquele estranho me rodear.
— Eu sou o Gabe Kravitz e agora nós somos amigos — Ele falou e eu apoiei meus minha cabeça em seu ombro.
Eu amava o Gabe, sempre amaria. Ele se mudou para Nova York há quase dois meses para cursar publicidade em Yale. Eu sempre me orgulharia dele e agradeceria eternamente por tudo que ele fez por mim. Gabe Kravitz me ensinou a me amar, me ensinou a dirigir e também me eninou a beijar. Meu primeiro beijo foi com meu melhor amigo e isso me provoca risos constantes. percebemos que nossa amizade era forte demais para tentarmos ter qualquer outra coisa.
Fechei os olhos e deixei meu corpo descansar por algumas horas, antes de acordar e sentir o cheiro do porco do Bill, pela última vez.
Agora é oficial!!!
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O Maior erro da minha vida
RomanceSérie ERROS- livro 1 " Eu te amei tanto que acabei perdendo pedacinhos de mim. A forma como você me destruiu chega ser poética, Rick Jenkins." Marcada por um passado desastroso, a jovem Alyssa O'Sullivan recomeça sua vida como uma caloura na univer...