Capitulo 2

5 2 0
                                    

Para minha ansiedade que me faz querer escrever compulsivamente.
.
.
.
.

Anoiteceu tão rápido que eu só vim perceber que ainda estava de calça jeans e jaqueta pesada de couro sintético, quando o calor provocado pelo aquecedor do quarto me atingiu em cheio com um suor que escorria pela minha testa e se acumulava aos poucos no meu nariz.

Fechei o livro Romeu e Julieta e o deixei em cima da cama para ler antes de dormir pela milésima vez. A Jaqueta foi parar em algum canto perto da janela logo depois que eu consegui achar uma toalha branca de algodão para conseguir tomar banho quente.

Andei com cuidado pelo corredor, pra não esbarrar em ninguém ou incomodar alguém. Deus me livre ser um incômodo.

- Alyssa. - A voz de Carol me fez virar para encara-la na escada. - Que bom que esta acordada. O jantar está servido. - A voz dela saiu como um suspiro e eu imaginei o quanto ela poderia estar cansada.

- Eu estava indo tomar banho. - Afirmei levantado a toalha branca para que ela conseguisse ver.

- Querida, guarde isso. Pode tomar banho mais tarde. - Ela disse com um sorriso. - É bom que você pode interagir com as crianças.

Crianças?

Guardei a toalha no quarto de qualquer jeito sob a cama e dei um olhada rápida no espelho. Meu cabelo estava um pouco embolado nas pontas mas nada que um rabo de cavalo não resolvesse. Puxei a camiseta dos the beatles pra baixo para ficar com um aspecto mais "lisinho" de quem havia passado a roupa.

Desci as escadas, respirando fundo para não me estabacar no chão e conferi se meu all star branco estava limpinho como eu o havia deixado. O barulho da cozinha se transformou em risos altos que cessaram quando eu adentrei a sala de jantar.

- Aly, sente-se aqui. - Tio Jonh apontou para a cadeira ao seu lado esquerdo.

Antes de me sentar, consegui ver o corpo pequeno de uma figura de cabeça baixa na ponta da mesa e de frente para tio Jonh. Ela resmunga algo e levanta a cabeça na minha direção.

Os olhos de um castanho claro estavam em perfeita harmonia com o cabelo castanho médio que ia até seu cotovelo e as ondas eram militimetricamente perfeitas e coordenadas. Ela era tão bonita que eu me arrependi de fazer um rabo de cavalo, porque agora eu estava me sentindo muito pior.

Ela era ruiva e a raiz avermelhada lhe entregava.

- Agatha, levante da mesa. - Carol falou colocando o suco de morango na frente dela.

Agatha revirou os olhos e se jogou para trás de forma dramática. Depois de alguns segundos, seu olhar caiu sob mim. Ela me analisou com cautela sem esboçar um único sorriso ou qualquer tipo de emoção.

Alguém mande ela parar!

Depois de alguns bons minutos de análise silenciosa, ela me encarou e não disse uma palavra. Eu não consegui senti nada sobre ela.

Eu sinto coisas com pessoas.

É meio difícil de explicar mas algumas pessoas me dão arrepios ou excitação. É estranho, mas pra mim é como ler um sorriso ou um gesto.

- Você come salada? - Robert me perguntou com um sorriso amigável encarando o pote ao meu lado que estava cheio de mato.

- Não é minha praia. - Eu respondi dando de ombros. Ele sorriu largamente e pegou o pote pra si. A montanha verde em seu prato fazia jus aos músculos que pulavam de sua camiseta.

Eu nunca gostei muito de comida japonesa. Eu sempre amei carne vermelha e churrascos conquistam meu coração, porém é muito difícil achar carne em uma Cidade marítima como Crisfield.

- Qual sua musica favorita? - A voz distante e baixa de Agatha me supreendeu e eu quase cuspi o sushi da minha boca.

- Ah.... musica ? - Eu gaguejava tão ridiculamente que quase enfiei minha cara no molho shoyo.

- Não me diga que você é mais uma daquelas garotas burras, que vestem camisetas de bandas que não conhecem? - Ela perguntou com um sorriso debochado no rosto apontando com um garfo para minha camiseta dos the beatles.

- Agatha! - Tio Jonh repeendeu a garota alto.

- Hey, Jude. - Eu respondi e o sorriso debochado seu lugar para um sorriso sem dentes.

- Por que ? - Ela perguntou em um misto de curiosidade e dúvida.

- Meu... - Eu respirei fundo para tocar naquele assunto.

Você consegue.

- Meu pai cantava pra mim. - Eu disse sem encara-la.

- Nós sempre fomos grandes fãs. - Tio Jonh se pronunciou olhando para o sushi. Perdido em seus pensamentos. - Ele idolotrava o Lennon. Nós passamos 3 meses, arrumando trabalho e fazendo várias loucuras pra conseguir ver un show deles em Nova York.

Tio Jonh deixou uma risada triste sair de seus lábios, antes de pegar o suco e se servir com abundância.

- Como ele era ? - Eu perguntei atraindo sua atenção.

- Uma praga. - Ele falou e meu sorriso se alargou junto ao seu. - Terrivelmente galinha, mas o coração bom. Arthur batia em qualquer pessoa que chegasse a tentar me ameaçar. Defendia os mais fracos, aquele magistrado. - Ele me encarou por alguns segundos. - Sua mãe não foi nada fácil, Aly. Margaret levou ele a loucura, brigavam toda hora, mas o amor.... esse sim era forte.

Eu quis deixar aquela lágrima escorrer, mas eu não queria parecer uma chorona, ainda mais na frente de Agatha Intimidadora O'Sullivan.

- Rob, você estudou essa tarde ? - Tio Jonh perguntou pegando um sashimi.

- Claro, meu pai. - Ele respondeu tão automaticamente que não se deu o trabalho de encara-lo.

- Ótimo. O primeiro médico da família. - Seu orgulho era palpável, assim como o riso sarcástico de Agatha que foi silenciada por um olhar mortal de seu pai.

- Amanhã, eu posso fazer biscoitos pra você. - Carol disse com um sorriso doce.

- Ela vai pra faculdade, não pro Jardim de infância. - Agatha falou e logo bufou alto.

- Não tem problema. - Eu falei mas meu olhar foi direcionado pra própria Agatha.

O cabelo tingido de castanho caia livremente por seus ombros toda vez que ela se movia. O corpo magro e pequeno lembrava a de uma boneca de porcelana, mas o olhar sanguinário e sarcástico provava que seu rostinho tímido escondia uma personalidade terrível.

- Eu posso mostrar o campus pra vocês, amanhã. - Rob respondeu depois de um tempo comendo seu mato.

- Podemos nos virar. - A menina respondeu dando de ombros.

- Fique longe de encrencas. - Rob falou com um sorriso brincalhão.

- A única encrenca que eu quero é a dos capuletos e Montéquios. - Deixei escapar e Agatha soltou sem graça.

- Romeu e Julieta ? Sério? - Ela perguntou arquaesndo as sobrancelhas.

- Não é necessariamente um romance. - Eu disse sem me importar muito com a opinião alheia. - É um história sobre impulsividade e crítica a uma burguesia "mimada". - Me sirvo de sushi e volto a encara-la - Romeu é um cara de coração partido que se entrega muito fácil e covarde o suficiente pra não assumir a mulher que amava pra família. Fugir era a melhor solução na cabecinha dele.

O rosto de Agatha se contorceu e um sorriso largo que brotou ali e é seu silêncio deu lugar para uma gargalhada alta e espontânea.

- Você não é tão sem graça. - Ela falou ainda gargalhando. Eu tive que revirar os olhos pro seu comentário.

Quando o jantar acabou, eu me ofereci pra lavar a louça mas Carol me impediu. Segundo ela, era o momento sagrado dela com Tio Jonh.

Respirei fundo depois de tomar banho e me deitar na minha maravilhosa cama pela primeira vez para passar a noite porque eu ja sabia que quando eu acordasse, me tornaria uma universitária.

O Maior erro da minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora