No Limiar das Trevas

O Cientista

"Andando com um propósito, andando com um propósito, andando com um propósito."

Era isso que passava na cabeça de Mason durante aquela manhã gelada, mantinha seu pensamento focado e evitava que sua péssima mania o distraísse.

Curiosidade, essa era a sua péssima mania. Todos temos uma, a de Mason não era necessariamente nociva para ele, mas com o passar dos anos ele criou a tendência de deixar a sua curiosidade o atrair para problemas que originalmente não eram seus.

Após receber a carta, quase duas semanas atrás, ele finalmente lera a mesma, era impressionante, toda vez que conseguia tempo para observar o envelope do professor algo acontecia e exigia toda a sua atenção, fazendo com que esquecesse da carta por dias, era como se o destino conspirasse para que ele não a lesse.

O sentimento de estranheza ao ler a carta o fez se arrepender profundamente de ter adiado por tantas vezes tal ação, tratava-se de algo de extrema urgência. Um conhecido estava acamado e requisitava a visita dele.

Enquanto caminhava para a estação, Mason repensou suas impressões sobre a situação, parecia maldade pensar no Professor Rupert como um conhecido, afinal o mesmo havia participado dos melhores capítulos de sua vida, mas ambos não se falavam em anos.

Bem, sabia que aquilo não era culpa do professor, o mesmo sempre enviara cartas de Arkham para Nova York, mas Mason nunca se deu ao trabalho de responder nenhuma delas. Como o professor não passou a odiá-lo era um mistério, mas a verdade era que ele odiava relações sociais, não por odiar as pessoas, mas havia tanto a aprender e a vida sempre lhe pareceu tão curta para tal tarefa.

Entretanto o professor sempre foi uma alma bondosa, ele parecia compreender a mente de Mason sem mesmo ter uma resposta. Após quase um ano de cartas ignoradas, Rupert parou de perguntar sobre a vida de seu pupilo, suas cartas agora eram apenas atualizações de sua vida pessoal e de suas pesquisas.

Mason se sentia mimado, sempre recebia os artigos do professor antes de serem publicados, que mente maravilhosa tinha aquele senhor, mesmo em seus 60 anos ainda arrecadava grandes descobertas, apesar de que, nos últimos quatro meses, ele havia notado que nenhuma carta nova do professor chegara a sua residência, até cogitara buscar notícias do senhor, mas achou que seria um incomodo desnecessário, mas não ao professor (ele adoraria isso), mas sim a si próprio, ele tinha muito para atualizar em sua nova pesquisa sobre a reação de partículas sobre observação, haviam boatos de que um físico teórico austríaco trabalhava com as mesmas hipóteses que ele e nenhum dos dois estava disposto a perder meses de pesquisa porque um lançou seu trabalho ao público antes que o outro.

Mas após a leitura da fatídica carta, ele não teve opção a não ser seguir para Arkham para ver seu velho mestre, o pior havia se provado verdade, Rupert Merriweather estava à beira da morte e, por mais íntimos que tivessem sido no passado, Mason só conseguia ver aquilo como uma perda enorme para a sociedade acadêmica arqueológica.

Pegou o primeiro trem, partia às quatro da madrugada, estava consideravelmente frio, até mesmo dentro de sua cabine, a viagem não deveria levar mais que quatro horas de Nova York até Arkham, afinal Massachusetts era um estado vizinho.

Mason tinha seus trinta e três anos bem conservados, mas os olhos eram rodeados por olheiras enormes de inúmeras noites sem dormir, ele tentara ler o jornal na viagem, os efeitos da crise ainda não haviam passado, ele lembrou o desespero dos pesquisadores, que sempre trabalhavam com recursos consideravelmente limitados, e que agora teriam de lidar com cortes de gastos severos. Ele deu sorte de ter uma poupança segura para esse período de crise, mas até mesmo seu departamento de física teórica na Universidade Columbia havia sofrido algumas demissões, mas conseguira se manter devido ao seu histórico de pesquisas consideráveis para o nome da universidade.