Capítulo 4 - Longa Noite

587 68 3
                                    

Depois de Will conseguir nossos cocos, ele logo desceu do coqueiro com um sorriso vitorioso, que fez-me sorrir também.

— Eu disse que teria de subir. — declaro e o mesmo pega um dos cocos e se senta na areia ao meu lado.
Ele apenas ignorou meu comentário e se levantou novamente me encarando pensativo.

— Poderia se retirar daí, Milady? — perguntou fazendo um ênfase e eu o encarei suspirando pesado e me levantando da pedra. E logo ele taca o coco com tudo contra a pedra, o que fez-me olhar na direção dele com uma expressão confusa, raivosa e assutada.

O mesmo pegou o coco do chão e sorriu.

— Servida? — perguntou oferecendo-me o coco e eu sorri agradecida pegando de suas mãos o coco.
Ele havia rachado, e então eu levantei o mesmo em direção a boca e senti a água escorrer minha garganta a dentro.

O gosto era divino, comparado aos problemas que enfrentamos até agora.

Então, William jogou o outro contra a pedra e pegou o mesmo do chão e se sentou.

O dia já estava se acalmando até ali, e o sol, já não estava mais tão forte.
Então, me sentei ao seu lado.

— Uma das coisas que nunca me imaginei fazendo, era estar sentada com uma completa estranha no meio de um ilha, completamente perdidos. — declara William bebendo da fruta. E eu virei meu olhar para ele.

— William? — o chamei e ele me olhou de relance. — Sei que pode ser bem chato, mas eu sou uma pessoa bem curiosa... — Declaro mudando de assunto e o mesmo sorri. — Seu pai era pirata... Mas... Já foi ao mar com ele? — pergunto. E ele bebe do seu coco.

— É complicado... Papo para outros dias...

[...]

As horas haviam passado, apesar de tudo que ocorreu durante o dia, acabou que eu e William havíamos nos dado muito bem.
Alguns pensamentos distintos, mas sempre acabamos rindo no final das conversas.

Acabamos bebendo mais cocos e os comendo logo em seguida.

E, sem nem percebermos, a tarde foi dando as brechas para a noite chegar, e com isso, William, ficava cada vez mais preocupado.

— Temos de procurar algum lugar para dormir. — comenta e o vejo levantar e logo esticar o braço para me ajudar.
— Não podemos ficar aqui? — pergunto e ele olha em volta.
— Apesar de termos ficado aqui o dia todo, é perigoso. Pode ter animais mais para dentro. Ou alguma civilização... Não sabemos... — comenta e eu me levanto com sua ajuda e suspiro derrotada. Vendo o sol quase se pondo.

— O que podemos fazer? — pergunto e ele bufa lentamente.
— Está escurecendo... Não podemos fazer muita coisa... No máximo, uma fogueira, mas temos que ficar atentos. A fogueira vai atrair atenção de qualquer coisa que esteja lá dentro. — comenta apontando para a mata e eu suspirei.
— Tudo bem... Eu vi uns gravetos no caminho de nossa vinda, eu posso pegar.
— Tá legal, vamos juntos. — diz seguindo o caminho de nossa vinda. E fomos andando lado a lado fazendo o percurso de volta.

— Acha que tem algo perigoso mais para dentro da ilha? — pergunto e vejo William com a expressão preocupada que esteve durante todo o dia. — Pode até não ter... Mas sua preocupação me preocupa. — digo sincera e vejo o mesmo me encarar, mas logo tirar seus olhos de mim e pegar os gravetos que vimos no chão.

— Sou um fugitivo da guarda real. Devo estar sendo caçado em todos os reinos e vilas das redondezas. — declara. — Acho que tenho meus motivos de preocupação.— completa pegando mais alguns galhos.
— Não faz sentido você ter sido preso por um ato que nem mesmo cometeu... — comento mais para mim do que para ele, mas sinto seus olhos em mim. Enquanto eu pegava também alguns gravetos.
— Para o rei, não precisa fazer sentido para tirar mais um inútil de suas ruas.
— Nem todas pessoas que estão nas ruas são inúteis, William. — nossos olhos se cruzaram e ele suspirou.
— Talvez... Mas se livrar da raça inferior deve ser muito bom para economia... Eu suponho. — diz dando meia volta e voltando aos coqueiros onde ficamos o dia todo perto da grande pedra. Eu o encarei enquanto vi o mesmo andar. Ao olhar para o horizonte, eu conseguia ver o sol se pondo aos poucos. E o céu já ficando escuro.

— Ou não, quando o problema da realeza talvez seja posicionamentos de defesas contra uma suposta guerra eminente. — digo e William vira seus olhos para mim sorrindo de canto.
— Entendes muito bem de política Mary... — comento e eu suspirei pela ironia de sua frase.
— Aprendi nos livros. — minto e ele suspirou.

Ao andar, logo chegamos ao nosso posto. E então, juntando nossos gravetos e galhos.
Enquanto eu ajeitava as varetas, William tentava acender o fogo.

E sem muita dificuldade, foi acesso.
Sorrimos pelo sucesso.

Então, nos acomodamos, nos sentando um do lado do outro na areia, admirando a chama acessa em nossa frente na direção do mar.

— Dia longo. — comento e me deito na areia branca e fina.
— Muito... Descanse que amanhã teremos um dia mais longo ainda... — declara ainda sentando e eu suspirei, por imaginar o que faríamos na manhã seguinte.
— Não irá, dormir? — pergunto e ele me encarou.
— Quem vai vigiar se um canibal vir te atacar? — comentou rindo e eu me levantei de novo.
— Podemos revesar. Posso tomar conta agora, já que a chama não está tão alta ainda. Pode dormir enquanto isto. — comento tirando a areia de meus braços e ele me encarou.
— Tudo bem. Pode dormir, sei que é muito mais pesado pra você do que para mim. Pode dormir. — diz olhando o horizonte.
— Você é misterioso William Turner. — comento e o mesmo me olhou de relance.
No fundo de meus olhos. — Só não me abandone durante a noite... Sei que não sou a melhor pessoa para se viajar, mas até que está sendo divertido. — ele riu se virando um pouco mais para mim.
— Divertido? O que pra você, é divertido? — perguntou e eu me ajeitei na areia.
— Geralmente não sou sequestrada e fujo de golpes de espadas. — comento e ele sorriu.
— É... Meio que precisei da sua ajuda. — diz e eu sorri.

Ao olhar para William ali, eu conseguia ver o qual diferente ele é.
De todos os lordes que já conheci durante minha vida.
William era suave, ao mesmo tempo intenso e determinado com suas decisões.
Eu gostei disso.

E com certeza, ele não era o pirata que todos diziam ser.

— Hoje foi um bom dia, Will. — digo o encarando e ele faz o mesmo sorrindo quando o chamei pelo apelido.
— Tirando a parte da minha quase morte, também achei. — seus olhos cintilavam com as chamas da fogueira.
Eu sorri de leve pelo comentário dele.

— Durma, amanhã acordamos cedo. — declara e eu suspirei profundamente.
— Boa noite Will. — digo deixando um beijo no canto de seu rosto e ele sorriu.
— Boa noite Mary. — diz baixinho, e eu me deito ao seu lado, fechando os meus olhos, tentando cair no sono depois daquele dia completamente louco.

[...]

— Droga! — escutei e acordei no susto meio atordoada escutando também um barulho de espada.
Abri meus olhos rápido, fazendo eu ficar meio tonta. E logo levantei depressa me sentando, olhei em volta e a falta da claridade me deixou alerta.
— Will! — o chamei baixinho e ele se aproximou de mim, logo se sentando de novo ao meu lado.
— Eu pensei que havia escutado algo. — comenta guardando a espada novamente e eu respirei aliviada.

— Tudo bem... — comento meio fraca, e percebi que nossa fogueira já havia apagado.
Não fazia ideia de que horas eram naquele momento.
— Volte a dormir. — pediu se aproximando e eu tentei achar seu rosto.
Fui procurando seu rosto, e com as mãos, fui subindo lentamente, até chegar em seu pescoço e finalmente em seu rosto. Quando o achei sorri
— Acha mesmo que irei conseguir, depois desse susto? — pergunto e mesmo no escuro consigo ver seu sorriso branco. — Ainda mais agora, com esse frio da maré. — comento e ele suspirou, e seu ar quente bateu perto de meu rosto, o que fez me arrepiar por inteira.

— Deita aqui, vem. — diz Will me puxando pela mão e se deitando comigo.
— Não vai ficar de guarda? — perguntei e ele suspirou. Já deitado.
— O fogo já cessou. Acho que não é tão perigoso agora. — diz deixando de lado, e eu por impulso me aconcheguei mais em seu corpo, e percebi que Will me puxou mais para si.
O frio não era tanto, mas ao juntar meu corpo com o de Will, pareceu que nem mesmo o frio do Ártico poderia me afetar ali.

Então enquanto me aconchegava com minha cabeça encostada em seu peito e escutava as batidas de seu coração. Percebi que já estava pegando no sono de novamente. E fiquei feliz por isso.

Pelo menos um bom sono eu teria.
Minha preocupação de acordar casada, se dizimou e isso me deixou aliviada naquela noite.

Paixão Marítima;; 𝒘𝒊𝒍𝒍 𝒕𝒖𝒓𝒏𝒆𝒓Onde histórias criam vida. Descubra agora