Não existem cores no paraíso

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Sempre idealizei a universidade como um daqueles lugares onde toda a magia acontecia. A começar pela vaga ideia americanizada de que ensino superior se resumia a pessoas mal humoradas, ressaca pós festinhas no final de semana em repúblicas e virgindades extinguidas. Tirando essa teoria um tanto quanto generalizada, eu estava bastante empolgado para a nova fase da minha vida monótona de exatos vinte anos de idade.

A maior parte das minhas coisas ainda estavam encaixotadas, já que a mudança de cidade ainda era recente e juntando-se a preguiça, elas permaneceriam assim por um bom tempo. Eu havia decidido dividir o apartamento apertado ― porém, aconchegante ― com meu pai e seu gato irritante de estimação. Resultado de trabalhar como um condenado para conseguir juntar uma boa quantia de dinheiro e ao menos ingressar numa universidade reconhecida.

E lá estava eu, Park Chanyeol, um rapaz sorridente até as orelhas, com uma mochila velha nas costas, o sol escaldante no rosto e os passos apressados. Meu olhar alcançava qualquer detalhe, não deixando passar os grupos reunidos e os carros caríssimos que faziam questão de acelerar antes de estacionarem. Parecia uma guerra de quem ganhava mais atenção.

Algumas garotas riam das prováveis piadas que os jogadores de basquete contavam. Haviam professores subindo as escadas e alguns alunos faziam sinais obscenos por trás, como se fossem incríveis, mas não passavam de idiotas. Suspirei fundo, tentando não deixar a imagem em minha mente. Não era como se um diploma fosse libertá-los da mente infantil para ensinar a se comportar como gente. Infelizmente as coisas não funcionavam dessa forma!

O que mais me chamava atenção naquele lugar enorme, era o jardim que havia em frente à universidade com árvores para todos os lados e flores bem cuidadas, além, é claro, da grama verde e bem aparada, limpa o suficiente para servir de assento na hora de ler livros. Eu estava empolgado!

A universidade era antiga, havia sido construída por um professor há muitos anos atrás e era toda arquitetada semelhante a um daqueles castelos antigos que víamos em filmes de terror. Era necessário subir uma longa escada até a recepção, e subi-lá exigiu muito do meu porte físico, quase me levando a um provável desmaio e me fazendo imaginar que seria difícil me acostumar à luta contra o meu melhor amigo sedentarismo.

Antes de subir o último degrau, ouvi um barulho de material caindo e um dos livros veio parar bem próximo aos meus pés. Abaixei-me e peguei o livro em mãos, o analisando. Levantei o meu olhar e me deparei com um garoto de baixa estatura, com a mochila nas costas de forma correta demais e roupas pouco fora de moda, desesperado em conseguir reunir todos os papéis e cadernos que havia derrubado.

― Isso é seu? ― Apontei o livro para o garoto que estava agachado.

Ele não levantou o olhar, nem respondeu em positivo, apenas pegou o item das minhas mãos e continuou reunindo tudo que estava espalhado pelo chão. Gentilmente, abaixei-me e ajudei a reunir os papéis junto com ele. Tinha inúmeras partituras desenhadas à mão em alguns dos papéis, e em outros, havia notas musicais e ensinamentos.

― Desculpe, não precisa... ― De repente a voz suave soou acanhada, como um melodia em meio a tanto barulho. ― Não se incomode, por favor.

― Não será incômodo, não se preocupe! Há tantos papéis, você não conseguiria reunir tantos, sozinho. ― Comentei enquanto me esticava pelos cantos da escada, resgatando algumas folhas.

Quando finalmente percebi que não havia mais nada do material do desconhecido no chão, ele se reverenciou, me agradecendo.

― Obrigado, muito obrigado!

Ele estava a ponto de subir as escadas às  pressas, quando o questionei:

― Estuda aqui? Eu preciso de ajuda, não sei onde fica minha sala. Me sinto totalmente perdido, são tantas portas que acho que vou acabar desistindo. ― Dei um riso baixo e ele continuou de costas para mim, imóvel no lugar onde havia parado.

FLUORESCENTES | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora