As páginas em minhas mãos estavam gastas de tanto que eu as folheava a cada minuto, buscando calar as curiosidades que perturbavam meus pensamentos durante a aula ou quando eu estava sozinho no apartamento com um Lancelot dorminhoco deitado em meu colo.
Semanas se passaram e eu estava me acostumando com a rotina que havia construído na nova cidade. Pela noite, eu visitava meu pai no consultório, e praticamente duas vezes por semana me deparava com Baekhyun na recepção, ele sempre me olhava de canto e depois para a mãe ao lado, e saia em passos ligeiros para fora do mesmo espaço que eu, sem dizer nenhuma palavra. Eu estava começando a me incomodar, afinal, o muro que me separava de sua amizade, não era bem o que todos julgavam como sua única característica, mas sim, os olhares flamejantes de sua mãe, esta que agia como uma leoa tentando proteger o filhote.
Meu pai havia contado muita coisa sobre seu paciente. Contou-me que acompanhava o caso de Baekhyun desde que ele era pequeno. Com seis anos de idade, o garoto foi levado até o consultório pela mãe do Byun, esta que rogava por sua ajuda, já que o marido havia falecido, a deixando sozinha e com um filho para criar, além de uma loja de penhores para cuidar.
Apesar de todo o conhecimento que meu pai tinha na área, ele acreditava que aquela mãe não aceitava muitos de seus conselhos, como quando o garoto começou a entrar na adolescência e precisava começar a ter espaço para aprender a fazer certas coisas possíveis para sua idade e voltar sozinho para casa. Porém, a mulher insistentemente conseguia impor futuros problemas, como se estes fossem realmente acontecer. Meu pai não insistiu mais, até que de acordo com o que estava escrito naquelas folhas, no começo desse ano, ela resolveu se juntar a visão de meu pai como profissional e ensinar o filho a fazer pequenas coisas rotineiras, doando a responsabilidade que ele conseguiria adquirir depois de muito esforço.
― Então, ele ainda está se acostumando a voltar sozinho para casa? ― Questionei meu pai, abaixando as páginas que estavam em meu peito para fitá-lo, visto que ele estava sentado do outro lado da sala, em sua cadeira giratória.
Ele brincava com um cubo mágico em mãos.
― Semanas atrás, ele chegou a contar que voltou para a casa sem a mãe, mas disse que estava acompanhado. Desde então, não quis tocar mais no assunto.
― Espera! Antes ele não era acostumado a voltar para a casa, sozinho?
Meu pai continuou atento ao cubo em mãos.
― Não, ele não pode ficar em lugares muito barulhentos ou com luz em excesso. Colocá-lo no centro da cidade, no meio de uma multidão seria como colocar um passarinho no meio de uma orquestra. Os sentidos de Baekhyun são diferentes dos nossos.
Arregalei os olhos, surpreso.
― O que ele te contou quando voltou para casa sem a carona da mãe?
― Contou que fez um amigo na universidade. Eu até me surpreendi com a novidade, nos anos anteriores, Baekhyun nunca citou ninguém nas consultas, pelo contrário, ele dizia não querer fazer novas amizades. Como portador, seus assuntos eram sempre excêntricos, ele não conseguia elaborar diálogos com ninguém.
― Amigo. ― Repeti a palavra para mim mesmo, batendo as costas contra o estofado do sofá. ― Como eu poderia saber se é realmente isso que ele pensa?
― Indivíduos que possuem essa síndrome são capazes de ter sentimentos, assim como qualquer outra pessoa. Com eles, acontece quase o mesmo que conosco, ou gostam de uma pessoa ou não gostam. Não existe meio termo.
― A mãe dele não parece muito contente do filho dela ficar perto de desconhecidos.
Meu pai finalmente levantou o olhar para mim. O cubo mágico foi deixado em cima da mesa, ainda incompleto.
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FLUORESCENTES | ChanBaek
FanfictionByun Baekhyun enxergava cores extravagantes onde possivelmente os olhos de Park Chanyeol só conseguiriam alcançar cores apagadas. Um idolatrava a escrita, o outro, o piano. Chanyeol gostava de fazer novas amizades, já Baekhyun era isolado em seu pró...