O céu não parece ser um lugar tão sem graça assim

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Existem coisas na vida que não exigem uma explicação. É como quando nos deparamos na rua com um amigo que não vemos há muito tempo ou quando encontramos algum dinheiro guardado no bolso daquela velha calça, jogada nos fundos do guarda-roupa. São coisas que em nossa concepção, não parece necessário ser esclarecido e não acontecem por um motivo científico, mas nos causa uma sensação de felicidade momentânea, transformando o restante do dia de forma positiva. No meu caso, Baekhyun era esse tipo de sorte.

No caminho para o meu apartamento, preferi escolher ficar em silêncio, afinal, depois do que ele havia me dito na sorveteria, eu não consegui elaborar frases prontas. 

― Chanyeol?

O fitei rapidamente e voltei com o foco na direção do carro.

― Minha língua está de qual cor?

Pisquei ligeiro e o olhei novamente. Era o tipo de pergunta que desafiava minhas dúvidas com cores, o que durante toda minha vida, eu sempre tentava fugir.

― Azul. ― Arrisquei.

Aos meus olhos, obviamente a tonalidade na língua espichada do garoto estava quase imperceptível. Mas julgando pelo sabor do sorvete anterior, era um tanto quanto evidente que azul seria a cor consequente.

― Então está igual o céu? ― Ele me questionou inocentemente e eu assenti entre o sorriso.

Voltei meu olhar para frente e com a mão livre liguei o rádio, procurando por alguma estação com músicas relaxantes. Quando encontrei uma que estivesse pegando nitidamente, o som de piano ressoou pelo carro.

― Yuhg Beauty de Shoe. ― Baekhyun explicou ― Foi criado em 1995, especialmente para uma mulher que ele amava.

Olhei de canto para Baekhyun, impressionado. 

Era realmente incrível sua capacidade de decorar os pequenos detalhes e expô-los como se tivesse dando uma aula. Uma aula bastante interessante, devo ressaltar. E era exatamente assim com o quebra-cabeça e o cubo mágico. Ele não havia nascido com o dom de conseguir terminar qualquer que fosse o jogo em questão de segundos, mas era algo quase inconsciente, uma genialidade por si só. Claramente o gosto por literatura recorreu da falta de contato social, resultando em aprimoramento em diversos assuntos. Informações que talvez outra pessoa jamais se importaria em decorar eram aquelas que ele mais custava a prestar atenção. Ele atentava-se a qualquer parte, guardava dentro de si tudo por inteiro e comentava sem se importar se era realmente necessário, principalmente num mundo onde apenas pedaços eram lembrados. E eu gostava da sinceridade em se expor dessa forma, pois era preciso coragem.

Baekhyun era verdadeiro em seu nível máximo, não sabia mentir, tanto que quando insisti em levá-lo embora, ele protestou, alegando que antes iria me acompanhar até o meu apartamento para levar os quadros assim como tinha prometido a mãe. Num todo, Baekhyun possuía a principal característica que todo ser humano deveria ter. A sinceridade.

Quando cheguei no meu apartamento, Baekhyun me ajudou carregando uma ponta da junção de todos os quadros enquanto eu fiquei com o outro lado. Tivemos dificuldade na escada e quando chegamos até a porta já estávamos cansados e com os pulsos doloridos.

O ofereci um copo de água e ele aceitou.

― Desculpe pelas escadas. Eu já pedi para o meu pai que nos mudássemos para o primeiro andar, mas ele insiste que a paisagem é melhor do último.

Os quadros ficaram apoiados no sofá e eu aproveitei enquanto Baekhyun parecia se entreter com a vista da janela para pegar um copo de água. 

― Acho que o seu pai tem razão ― ele disse assim que voltei. ― A paisagem daqui é incrível. 

FLUORESCENTES | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora