Capítulo 07 - Caminhada?

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Dia seguinte, muito sol e calor, tínhamos tomado um belo café da manhã antes de saírmos e já voltamos a caminhar em direção a uma trilha bem arenosa e cheia de rochas, havia algumas placas no meio do caminho indicando possível perigo por causa da areia na trilha e alguns penhascos que se você caísse teria duas opções de morte, as rochas e pedras pontiagudas ou o mar, onde as ondas se formavam e colidiam com muita força nas pedras. Um fim trágico.

Encontramos um trapiche bem conservado, que não indicava nenhum perigo de desmoronar e nem desabar com a nossa presença em cima dele, melhor assim. Tinha mais pessoas ali então acho que estava tranquilo. Tiramos fotos por todo aquele trapiche, de todos nós fazendo palhaçadas, de nós duas e principalmente daquela paisagem maravilhosa. Enquanto os meninos foram comprar algo gelado para bebermos, já que o calor estava de matar e já tínhamos comprado água para eles anteriormente, nós duas ficamos tagarelando sobre as coisas no trapiche, perambulando por lá.

- Que lugar maravilhoso amiga... Devíamos ter vindo pra cá antes! - Loren disse pra mim, dando dois passos para trás, apontando o celular na minha direção, sinalizando com as mãos para eu dar um passo para trás. Ela apertou o celular para gravar ao invés de tirar foto e quando se ligou começou a rir loucamente.

- O que foi louca? - perguntei meio sem entender direito e ela me respondeu quase aos berros que estava gravando e não tirando foto, comecei a rir junto com ela, mas como sou bem desastrada, tive a pior decisão da minha vida ao tropeçar em um pedaço da madeira solta do trapiche e cair de bunda no chão. Fez um barulhão muito alto, tão alto que as pessoas que estavam em volta se assustaram e até se distanciaram de nós. Me ergui com sucesso, mas antes que eu pudesse andar para sair dali da ponta do trapiche, em questões de segundos, deu um estrondo super alto e tudo desabou, metade daquele trapiche foi água abaixo, inclusive eu, que por sorte não me afoguei porque não cai no mar, mas torci meu pé com a queda e bati minha cabeça nas rochas. Perdi a consciência, acho que desmaiei com o impacto. Despertei com os gritos da Loren de desespero, ela realmente não parava de gritar por socorro e pra eu ficar calma e acordada.

Abri os olhos e olhei de relance para o lado, pude ver as ondas batendo contra as rochas ali presentes, os pedaços gigantes de madeira indo e vindo conforme a correnteza. Tentei me mexer e notei que algumas partes da rocha onde eu caí estavam esfarelando e caindo ao mar. Droga! Não posso cair daqui! Tentei me manter acordada, estava zonza, minha testa estava sangrando e meu pé me matando. Olhei pra cima e quase me ceguei com o sol, mas encontrei a Loren com uma cara de espanto. Gritei pra ela pedindo ajuda e ela gritou de volta dizendo que já tinham chamado socorro e que eles já estavam vindo, que não era pra eu me mexer e ficar calma.

O estrondo voltou e as rochas começaram a estremecer, tentei agarrar em tudo que eu conseguia mas foi em vão, alguns pedaços se soltaram e caíram ao mar, fui obrigada a escorregar na parte mais abaixo da rocha pois onde eu estava, já não existe mais, se encontram agora no fundo do mar. Estava em pânico, tentando não hiperventilar sentindo os respingos do mar na minha pele, observando as ondas gigantes se chocarem com as rochas ainda existentes, e os gritos da Loren pedindo pra eu me acalmar não estava ajudando em nada. O tempo passou devagar, mas no fim da minha esperança, conseguimos ouvir de longe o som das hélices do helicóptero de resgate e bem ao fundo a sirene ligadas.

Foi um parto até me localizarem e a maré já estava dando sinais que queria subir, eu estava em um lugar nada estratégico e bem perigoso. Os policiais já haviam isolado a área e estavam se comunicando comigo através de um alto-falante. Fizeram os primeiros socorros a distância, perguntaram se eu havia perdido a consciência e se tinha me machucado em algum momento, todas as respostas foram sim, o que preocuparam eles ainda mais. Eles não podiam descer pois toda a estrutura ali em cima estava instável e o helicóptero de resgate não tinha uma visão clara minha, era impossível me tirarem de lá. Por alguns minutos pude ouvir a discussão deles de como me resgatariam, se eu me jogasse ao mar quanto tempo eles teriam para me encontrar e me puxar pra cima ou como eles desceriam para me encontrar na rocha. Era uma discussão sem fim e graças a uma onda imensa, eu fui mais uma vez obrigada a entrar no mar. Obrigada sim, pela força da natureza!

Fui jogada a poucos metros de uns pedaços de madeiras, mas a correnteza estava muito forte e me puxou para baixo sem eu ter chances de me agarrar a algum pedaço de madeira. Era onda sob onda, estava perdida, sem poder subir na superfície para respirar porque meu pé não funcionava, muito azul e peixes a minha volta. Tentei me puxa com as mãos para cima e com o maior esforço consegui, abri a boca para poder respirar e já afundei novamente. Mar do caralho, vai querer que eu morra aqui como meus pais, eu te odeeeeio mar!!! Relutei o máximo que pude para respirar, mas todas as vezes eu era puxada para baixo.

Vou morrer, vou morrer, vou morrer...

As espumas das ondas eram densas e eu estava sendo puxada cada vez mais pela correnteza. Fui engolida por uma onda gigante e arrastada mais para o fundo, fazendo entrar água pelo meu nariz, pela minha garganta e todos os outros orifícios que eu podia imaginar. Senti aos poucos o ar se esvaindo dos meus pulmões e se enchendo rapidamente de água, é agora, terei uma morte lenta e desgraçada, igual a dos meus pais, obrigada deus!  Abri meus olhos pela última vez e vi aquela imensidão azul, peixes passando rapidamente por mim e apaguei.

No instante em que apaguei, senti uma pressão imensa no meu peito e ao redor de mim, senti uma brisa de ar frio e fui puxada com uma força descomunal da água. Meu corpo desacordado ficaria sem vida? Me deixariam ali para morrer? Eu estava voando? A morte é assim? A morte é assim.

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