Ghost of You

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ATENÇÃO: este capítulo pode conter gatilhos para audiências sensíveis. Tema: abuso, drogas.

"Cleaning up today, found that old Zepplin shirt
You wore when you ran away, and no one could feel your hurt
We're too young, too dumb, to know things like love"

Ghost of you (5 Seconds of Summer)

****

Nós brigamos feio naquele dia. Will havia sumido por 4 dias sem dar notícias a ninguém. Eu e Héctor ficamos desesperados esperando que o pior tivesse acontecido, até que ele chegou em uma tarde na oficina como se nada tivesse acontecido, fazendo sua maior cara de paisagem. Ele vestia as mesmas roupas da última vez que eu o vira e tinha um cheiro forte de álcool, suor e cigarro.

- Onde diabos você estava, seu moleque? - Héctor berrou assim que ele entrou pela porta.

Uma mistura de alívio e raiva correndo por minhas veias.

- Eu estou bem. - Ele disse. - Estou bem.

- Eu estou vendo que está bem, mas poderia estar morto! - Disse Héctor fincando uma chave de fenda na velha mesa de madeira próxima a parede de ferramentas. - Você sabe quantas vezes sua mãe me ligou e eu tive que dizer a ela que você não havia voltado pra casa? Sabe quantas vezes eu a ouvi chorar no telefone nos últimos 4 dias?

Will permaneceu calado. Haviam círculos arroxeados em volta de seus olhos. As pálpebras caídas. O cabelo bagunçado e visivelmente sujo. Um hematoma vermelho em seu pescoço. Vários na verdade, recentes.

- Vamos! - Héctor agarrou a gola de sua jaqueta. - Diga alguma coisa!

Seu corpo cedeu ao movimento do tio, inclinando-se para frente, ele parecia fraco.

- Desculpe. - Ele disse num fio de voz rouco e grave que mais parecia um ruído. Héctor puxou sua gola ainda mais fazendo-o inclinar mais o corpo. - Desculpe mesmo. Desculpe. - Ele reafirmou.

- Héctor, - eu finalmente interrompi. Minhas mãos trêmulas queriam trocá-lo e ter certeza de que ele estava bem, ao mesmo tempo que eu queria soca-ló com toda a força. - deixe ele tomar um banho, comer alguma coisa. Depois vocês conversam.

- Eu devia enfiar isto bem na sua cabeça pra ver se entra um pouco de juízo. - Héctor se afastou de Will pegando a chave de fenda de volta. - Suma da minha frente, antes que eu faça.

Will caminhou lentamente para fora da presença do tio, que o acompanhou com olhar furioso. Ele levantou levemente a cabeça me encarando com os olhos marejados. Eu o segui.

Fomos caminhando até os fundos em um pequeno cômodo com uma cama, um armário velho, uma escrivaninha e um pequeno banheiro. Will parou no meio do quarto como se não conhecesse o local. Eu o abracei, pousando minha cabeça em seu peito. Ele não se moveu. Seu coração batia mais rápido do que o normal.

- Eu te amo tanto. - Eu disse, sentindo as lágrimas salgadas chegarem até meus lábios. Eu o apertei mais forte contra o meu corpo. - Tanto.

Eu o encarei novamente. Sua expressão era completamente perdida. Seus olhos estavam vermelhos. Toquei suas mãos e senti casquinhas de machucados nas juntas de seus dedos. Eu não queria nem imaginar o que podia ter acontecido nesse tempo em que ele esteve fora.

The things I never knew | Tom Holland Onde histórias criam vida. Descubra agora