CAPÍTULO 1

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VIVIENNE THOMAS

Minha irmã Verônica tagarela toda animada no quarto ao lado. Podia-se ouvir os gritinhos estridentes da minha mãe do meu quarto que vangloriava-se toda orgulhosa. Afinal, Verônica era a menininha de ouro que ela sempre quis ter.

Era o baile de formatura do colégio que estudávamos e era óbvio que Verônica iria com o namorado dela, o jogador de futebol americano super popular, provavelmente seria a rainha do baile junto à ele, enquanto eu não consegui nem mesmo um par para me acompanhar. 

Tento não pensar nisso enquanto passo um batom rosa claro, nada chamativo. Eu sufoco um gemido de dor quando me espremo na calcinha de cós alto que tentava em vão esconder minha barriga saliente. Meu vestido preto de mangas para esconder os braços gordos e corte reto, sem brilho, estava estirado na minha cama. Foi o primeiro vestido que minha mãe viu na loja, jogou em meu colo e disse secamente que aquele ali serviria, não precisava de brilhos, ou estampas, que só serviriam para me deixar mais gorda. 

Eu tento fazer algum penteado diferente em meu cabelo, mas no fim opto pelo coque apertado que sempre usava, colocando apenas uma tira brilhante que tinha comprado na noite anterior. Eu seco uma lágrima quando lembro da conversa que tive com minha mãe dias atrás sobre considerar pagar alguém para me maquiar e fazer meu cabelo. 

''Sinto muito Vivi, não posso, sua irmã precisava de um vestido e a maquiadora e cabeleireira só tinha vaga para ela, eu não tenho condições de pagar outra pessoa. Você é bonitinha querida, não precisa de muitos retoques e nem chamar atenção demais né...''

Eu sabia o que aquilo queria dizer. Eu era gorda demais para investir em minha aparência. Precisava deixar que minha gêmea idêntica brilhasse sozinha... 

Era a Verônica que precisava estar perfeita naquela noite, ela era magra com poucas curvas pronunciadas com o rosto idêntico ao meu só que com menos sardas e as bochechas eram mais afinadas. Ela era a queridinha, a que com certeza casaria com um partidão e ficaria bem, enquanto eu, precisava focar em ganhar dinheiro, pois casar estava no fim da lista.

Eu sabia que a minha mãe mentia sobre não ter dinheiro. Meu pai pagava uma pensão gorda para ela, fora escola alimentação e dinheiro para poupança, afinal eu e Verônica éramos frutos de uma relação extraconjugal do famoso Senador Thomas com uma das empregadas domésticas,  uma cubana que na época atendia pelo nome de Yara mas que agora prefere que a chamem de Scarlett.
Ele pagava pelo silêncio dela, para nos manter longe dele e caladas para qualquer investida que a imprensa fizesse contra nós,  afinal na época, quando descobriram o casinho sórdido do meu pai com minha mãe foi um verdadeiro escândalo, o caso foi grande demais e ele quase perdeu o prestígio por ter tido um caso com uma empregada latina, sendo que ele fazia parte do partido republicano de extrema direita dos Estados Unidos e que ironicamente desprezava imigrantes, principalmente latinos.

Parecia que minha mãe sentia prazer em me depreciar, em afirmar nas entrelinhas que eu era a filha que ela desejava não ter tido. Ela tinha complexo de vira-lata, rejeitava a sua origem cubana e evitava sol, se entupia de pó com um tom mais claro para tentar se passar por branca, era uma verdadeira piada.

Eu termino de me vestir e coloco as sandálias de salto baixo, a única que eu tinha, pois minha mãe achava um desperdício de dinheiro gastar com sapatos de salto ou roupas, como ela mesmo adorava dizer, era difícil achar roupas para meu tamanho. Dou uma última conferida antes de descer as escadas e pegar o dinheiro do táxi que minha mãe havia deixado no balcão da cozinha. 

Ela deixava claro seu desprezo e desinteresse por mim, mais uma vez, nem mesmo falou comigo durante o dia, estava ocupada demais cuidando de Verônica. Eu suspiro fundo quando lembro-me do seu cometário ácido desta manhã..

RICO (SPIN OFF DA TRILOGIA PERDOAR)Onde histórias criam vida. Descubra agora