DOIS ‐ Segredos

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"Penélope!"

Alguém me chamou.

"Olá? Tem alguém aí?"

Chamei, sem resposta.

"Penélope!"

A voz parece vir de todo lado. Não consigo identificá-la, mas sinto que a conheço.

Quando senti a grama fina sob meus pés, vi, ao longe, um salão todo feito de ouro. Estou em uma parte cheia de campanários, clareiras com animais brilhantes e... um salão de baile flutuante. Ele está sobre as águas. Ouço música animada vinda dali de dentro, vejo sombras pelas largas janelas.

Caminho em direção à passarela que liga a floresta ao salão, e é então que percebo que estou vestida formalmente, como se eu soubesse que haveria este baile. Meu vestido é azul-turquesa e bufante, com babados brancos e um par de luvas, também brancas.

"Vamos entrar?"

Viro-me imediatamente. À minha frente, um homem todo feito de ouro se encontrava. Ele não possuía expressões e se movia pesadamente, como se fosse uma estátua. Só me dou conta de que é uma quando reparo em uma coluna desocupada.

"Vamos dançar, milady?"

Ele pega minha mão e, num piscar de olhos, paramos no salão de baile. As pessoas dançam alegres e em pares. Onze belas mulheres com onze estátuas de homens, iguais ao meu parceiro. Há uma grande mesa com comidas, bebidas, doces e uma bela fonte de líquido vermelho bordô. O salão é ainda maior do lado de dentro. Há, no mínimo, doze pilastras, todas banhadas em ouro e com adornos de prata. Rosas amarelas e brancas decoravam os muitos vasos espalhados pelo lugar. No centro do salão, um desenho de uma estrela de doze pontas onde todas se ligam a uma mesma imagem, a qual não consigo identificar, pois sou puxada para um canto.

"Não tenha medo, a conduzirei nesta dança."

Disse a estátua.

Por alguma razão, deixo que me conduza pelo salão. Nós começamos a valsar pelo exuberante cenário, observo as outras onze duplas nos encararem com sorrisos e, por um instante, me sinto feliz e animada com a dança. Ele me gira em seus braços e depois toca em minha cintura, conduzindo-me a uma infinidade de movimentos que não reconhecia. Girei a cintura, estiquei os braços, balancei colada à estátua e senti meu coração bater muito rápido. A orquestra, que só agora percebi ser apenas instrumentos tocando sozinhos, começou a acelerar a música e comecei a me sentir um pouco zonza. Os outros casais a essa altura já dançavam também, trocando de parceiros. A minha estátua me jogou para o lado e fiquei suspensa em seus braços.

"Acorde, milady!"

"O-O quê?"

"Acorde!"

De repente, senti seus braços fraquejarem e eu caí. Mas ao invés de sentir o chão duro, algo macio amorteceu a minha queda. A música foi abafando em meus ouvidos e o teto, o salão, os casais, a orquestra, as rosas e o homem estátua começaram a espiralar e a dar lugar a apenas um teto branco e iluminação incandescente por um breu quase visível.

Penélope acordou num pulo. O seu quarto se encontrava na mais pura penumbra. Seu coração batia forte no peito e gotas de um suor frio inundaram seu rosto. Ela não se lembrava de ter dormido.

Deslizando para fora da cama, Penélope sentiu um livro abaixo de si. Ela dormira enquanto lia contos de fadas. Encaminhou-se, então, para fora do quarto, queria ver se sua mãe já havia chegado da entrevista. Porém, ao se aproximar da porta, ouviu uma discussão acontecendo do lado de fora.

As Aventuras de Penélope Kindle - O Segredo dos Contos de Fadas | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora