CINCO - Caminhos Cruzados

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Penélope seguiu por mais uma trilha falha na floresta, agarrada à mochila como a um escudo. Sua pulsação estava acelerada, assim como seus pensamentos. Ela conhecia aquela figura que a salvara do troll, assim como também sentia que o fato desta criatura habitar uma ponte não lhe era tão estranho quanto era para ser. Penélope sabia que devia estar surtando com o acontecido, afinal, ela vira um troll! Mas estava aceitando bem o fato de ter encontrado uma criatura que só viu em livros.

Penélope agora se encontrava em meio à mata fechada, onde a floresta parecia ainda maior. As árvores pareciam ainda mais ameaçadoras e não se ouvia mais nenhum som — de pássaros ou córregos. Ela até pensou que seria melhor ficar parada no lugar e esperar ajuda, mas sabia que o que podia aparecer por ali não seriam apenas pessoas. Depois do incidente na ponte do troll decidiu encontrar o caminho para a bifurcação a qualquer custo. Afinal, era o único auxílio que recebera ali.

Ela começou andando, mas ao ouvir o som de galhos se partindo decidiu correr e, se fosse necessário, gritar. Passou por galhos, folhas avulsas, arbustos silvestres e até cruzou o caminho de um esquilo para chegar à estrada principal. Continuou numa corridinha até que, finalmente, chegou a uma bifurcação no meio da estrada. Ela se dividia por dois longos caminhos de terra que, tanto um quanto o outro, adentravam a floresta.

Penélope estava tão assustada com as coisas que nem percebeu que alguém se aproximava.

— Ôôô! — Ao se virar, ela se deparou com uma figura bastante excêntrica. — Quer dar licença do caminho, senhora. Oinc!

O que estava sobre a carroça, guiada por um pônei rechonchudo e carrancudo, era um humanoide, híbrido de homem e porco. Ele era baixinho, roliço e rosa. Tinha um focinho avantajado, trajava roupas de fazendeiro, com um bigode handlebar e um sotaque caipira. Penélope tentou conter o grito de espanto quando ele se aproximou mais e mais com a carroça.

— Moça! Será que, oinc, pode dar licença?

Penélope continuou parada no caminho.

— Eu estou muito atrasado, oinc — disse. — Eu não tenho tempo.

— Eu... eu... — balbuciava. Penélope sacudiu a cabeça e pôs os pensamentos em ordem. — Eu preciso chegar ao Reino Encantado.

A carroça parou e o porco se virou para ela, farejando o ar com seu focinho avantajado, o que teria sido bonitinho, se não fossem as condições atuais.

— Hmm! — arfou ele.

— O que foi?

— Você tem cheiro de princesa, mas não se veste como uma.

Princesa — debochou ela.

— E o que, oinc, a senhorita faz por essas bandas?

— Eu me perdi... — Ela tentou parecer a mais convincente possível.

— E agora você acha que eu vou levá-la só porque está piscando esses olhos minúsculos e fazendo beicinho?

— É...?

O porco a olhou com inquisição. Ou Penélope pareceu muita burra fazendo isso, ou o porco simplesmente ficou desconfiado.

— Não sabe onde fica?

Penélope negou com a cabeça.

— Ora, oinc! — grunhiu ele. — Está bem. Eu a levo lá.

— Sério?

— É no mesmo caminho de qualquer forma — disse o porco. — Sobe aí, oinc!

— Uh... Obrigada! — Penélope subiu na carroça e se sentou em um banco feito de palha. O pônei gorducho lhe lançou um sorriso asqueroso, depois soltou um relincho. — O que ele está fazendo?

As Aventuras de Penélope Kindle - O Segredo dos Contos de Fadas | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora