UM - Era Uma Vez

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Para variar, Penélope era a única viva naquela sala.Os outros alunos ou observavam as nuvens pela janela, ou simplesmente dormiam descaradamente, com as cabeças em cima da mesa e o ressonar pesado.

— Ser diferente, em diversos casos, é ótimo — disse a senhorita Delanay para a turma. — Pois a diferença é a maior qualidade que alguém pode ter. Afinal, se todos fossem iguais, qual seria a graça nisso? Todos com o mesmo corte de cabelo, com a mesma cor de pele, mesma etnia, religião. Precisamos ser autênticos, ser únicos!

Penélope Kindle endireitou-se na cadeira de maneira brusca.

Ela era uma linda menina de cabelos ruivos, bochechas e lábios rosados, e o que chamava mais atenção — a qual ela não queria — eram seus olhos num tom perfeito de verde-escuro.

Senhorita Delanay continuava seu discurso sobre a "diferença ser a maior união" enquanto Penélope observava atentamente o relógio acima do quadro.

43, 44, 45...

Contava mentalmente os segundos para acabar a aula.

Não que estivesse desinteressada ou com preguiça de escutar aquilo, afinal, era uma das poucas alunas da Academia Monroe que se interessava pelos estudos. Ela só não gostava do assunto tratado em específico. Não se sentia à vontade para falar sobre diferença.

— Então, classe, alguém gostaria de falar a respeito da aula de hoje? — perguntou a senhorita Delanay.

Ninguém se pronunciou.

Imediatamente, bufando e revirando os olhos, a professora esquadrinhou a sala com seu dedo indicador. Como quando fazia para procurar algum aluno para perguntar ou responder alguma coisa.

Senhorita Delanay era uma professora jovial, com cabelos cacheados castanhos presos por uma faixa roxa, contrastando com sua pele cor de avelã. Vestia-se sempre como uma professora do primário, mas tinha um ímpeto de advogada.

— Penélope!

Tão logo, todos os olhares da sala, assim como o da senhorita Delanay, voltaram-se para ela.

— S-Sim, senhorita Delanay?

— Poderia, daí mesmo, de seu lugar, nos dizer o que em sua opinião te torna diferente de nós?

Os olhares continuavam fixos nela. Penélope sentia suas bochechas queimarem com tantas pessoas olhando.

— B-Bom... — pronunciou-se. — Eu... eu...

Penélope olhou diretamente para a professora. Uma súplica disfarçada de olhar.

— Ah, vamos lá! — encorajou. — Deve haver alguma coisa.

Penélope até poderia pensar por horas que não acharia nada para dizer — nada que fosse relevante. Não era uma garota muito sociável, com certeza não era a mais inteligente, e muito menos a mais legal. Então, o que a tornaria diferente do restante da turma? O que a autenticava do restante da turma?

— Ergh...

Triiim!

O sinal tocou.

— Salva pelo gongo — disse Delanay com um ar de desapontamento. — Ok, classe, não vou mais segurar vocês, podem ir! Mas, quero que todos façam uma redação sobre o que os faz autênticos, para ser entregue semana que vem!

Todos bufaram.

Rapidamente, todos saíram da sala, deixando-a quase vazia. E, como todas as outras vezes, Penélope esperou que todos saíssem primeiro para, assim, poder sair.

As Aventuras de Penélope Kindle - O Segredo dos Contos de Fadas | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora