- Só mais um pouquinho de batom e... pronto. Estou pronta. - mandei uma mensagem de áudio para Chloe, minha melhor amiga, enquanto falava sozinha na frente do espelho.
Sexta-feira 13. Não era Halloween, mas era uma data facilmente usada para organizar festas à fantasia, seja lá qual for o mês em que estamos. Essas festas costumavam ter uma decoração horripilante, pessoas vestidas com fantasias de terror e álcool, muito álcool. Esta noite, no caso, havia uma festa acontecendo na casa de um amigo, Noah. A festa ficava a quatro quadras de distância de minha casa e aparentemente 99% das pessoas que estudavam comigo iriam para lá. 99%, digo, pois há sempre um dos nerds que prefere ficar em casa.
Enquanto descia as escadas e me sentava no sofá, à espera de Chloe, ouvi minha avó dizer, saindo da cozinha e me encarando por completo.
- Amélia! Você vai sair assim?! Parecendo o... o...
- O inimigo, vó, eu já sei. E é só uma fantasia!
Devo dizer que escolhi me vestir de vampira por ser o traje mais fácil que encontrei. Mas como não gosto nem um pouco das coisas mal feitas, talvez eu tenha caprichado um pouco mais na fantasia, o que significa que parecia que eu havia saído de um filme em preto e branco de 1940. Minha avó, a religiosa senhora que morava comigo, não curtia muito essa coisa de seres mitológicos, ela pensava ser uma ofensa à sua devoção.
- Amélia, Amélia... Você sabe que essas coisas atraem as trevas, depois não diga que eu não avisei. - ela carinhosamente deu um tapinha em meu ombro e voltou para o cômodo de onde veio.
Essa conversa entrou por um ouvido e saiu pelo outro, porque, quando a campainha tocou, eu saí do sofá num pulo e fui abrir a porta. Como esperava, Chloe estava bem ali, vestida como Wandinha da Família Addams.
- Arrasou! - ela piscou para mim e saímos, descendo as quatro quadras a pé, em direção à casa de Noah.
Quando chegamos, ficamos maravilhadas, mas nem um pouco surpresas. O som estava tão alto que eu podia sentir as paredes tremerem e o lugar, tão cheio, que nem me dei o trabalho de procurar por Noah e parabenizá-lo pela festa. As cenas seguintes não são difíceis de imaginar: jovens pulando de um lado para o outro, dançando no ritmo das batidas; bêbados, uns mais, outros menos, mas todos bem vestidos. Desta vez, ninguém economizou nas fantasias - e nem na maquiagem.
Também não demorou muito para que eu fizesse parte de toda essa gente. Meus braços balançavam junto com as músicas, mesmo que eu não conseguisse sentí-los. Minha cabeça, um pouco pesada, se movia de um lado para o outro, e meus pés... Eu já havia dançado e bebido tanto que nem os sentia mais, e se o fizesse, eles provavelmente estariam cansados e doloridos.
Depois de tanta música e bebida, decidi descansar e procurar por Chloe, que havia saído de mãos dadas com Mark, um outro amigo nosso e de quem ela gostava secretamente. Acho que era recíproco. E depois de vasculhar em todos os cômodos, subir e descer uma escada com degraus que levaram uma eternidade para acabar e checar duas vezes o salão em que as pessoas ainda dançavam, fui para os fundos da casa.
Eu não estava preocupada com Chloe, na verdade, torcia para que ela, você sabe, estivesse se dando bem. Eu estava cansada, queria ir embora logo. Por isso, sentei em uma das cadeiras ao redor da piscina, colocando os cotovelos sobre os joelhos e encarando a água suja a minha frente.
- O que faz aqui, Drácula? - uma voz me atingiu por baixo, me dando um susto.
Se lembra do 1% composto por nerds que eu mencionei antes? Que decidiram ficar em casa e não vir à festa? Pois é, eu estava errada. Porque sentado no chão, ao meu lado, estava Elígio, a última pessoa do mundo que eu imaginaria encontrar em uma festa de sexta-feira 13. Ele tinha alguns amigos, mas não era um dos mais populares da sala, digamos assim. Ele era, no mínimo, estranho. Com os cabelos escuros e a pele branca como papel, parecia pertencer a um daqueles desenhos japoneses. Naquela noite, Elígio estava vestido como Freddy Krueger e eu não fazia ideia do porquê ele havia se aproximado de mim.

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Exausto Devaneio
General FictionDesafio: ocasião ou grande obstáculo que deve ser ultrapassado; ato de instigar alguém para que realize alguma coisa, normalmente, além de suas competências ou habilidades. Mais uma coleção de textos, Gabriela? Sim! Em Exausto devaneio, ficarão tod...