5. Fobia - O medo de ficar sozinho

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Andrew.


Eu precisava contar isso a ela. Devia ter contado, desde o início, eu sei. Mas não consegui.


Já fazia semanas que eu conhecia Bonnie, e ainda não havia contado a ela a verdade sobre mim. Acontece que, para ela, eu ainda era o Andrew legal, com as camisas xadrez que ela gostava e tal. Sabe se lá o que ela ia pensar se eu contasse assim, de uma vez. E se ela surtasse, e me deixasse, assim como Nora fez? E se ela trocasse a passagem de volta e embarcasse hoje mesmo? E se... ela me abandonasse?

Esse era o problema. O abandono. A solidão. Como um gatilho, eu corri para o computador. Pesquisei por "monofobia". Também conhecido por isolofobia ou autofobia, esse era o nome que davam para o medo de ficar sozinho, mesmo que fosse por pouco tempo. Basicamente, era a cruz que eu carregava, desde os meus doze ou treze anos. E era por isso que eu temia contar sobre mim para Bonnie. Era por isso que eu temia fazer várias coisas, na verdade.

Ler outros relatos sobre monofobia na internet não me ajudava. Nunca ajudou. Mas eu fazia aquilo como uma punição. Eu sentia que merecia a dor. Não, Andrew. Você não merece sofrer, muito menos deve se punir por ser quem você é. Eu tentava me lembrar das palavras da Sra. Dallas, minha psicóloga. Em meio às lágrimas, e tentando buscar forças, fechei as páginas na internet. Deitei a cabeça sobre a escrivaninha e acabei soltando o punho fechado nela. O som provido do soco no móvel saiu um pouco mais alto do que deveria, pois quando olhei na direção da porta, Bonnie estava lá, parada, com seus cabelos curtos e escuros.

- Andrew. - ela inclinou a cabeça. - Que barulho foi esse?

Fiquei em silêncio, mas sem deixar de olhar para ela.

- Ei. - ela chegou mais perto - Você está chorando?

Bonnie agachou-se entre as minhas pernas, chegando ainda mais perto.

- O que houve? - eu escondi meu rosto para que ela não visse que eu chorava ainda mais.

- Não foi nada. - insisti.

- Tudo bem, então. - ela se levantou e sentou em minha cama - Não saio daqui enquanto você não contar.

E eu me virei de costas para ela. Eu não queria que fosse daquela maneira, mas eu teria que contar. Ou então, meu plano para reconquistar minha ex-namorada, Nora, novamente, iria por água abaixo. E eu realmente precisava da ajuda de Bonnie. Num ato de coragem, - que não sabia de onde havia surgido - enxuguei as lágrimas que escorriam e limpei o rosto, que por sua vez, estava vermelho. Me sentei ao seu lado e respirei fundo, dizendo, finalmente:

- Eu sou bissexual. E monofóbico.

Bonnie pareceu confusa, mas não surpresa ou chocada, como eu achei que aconteceria. Enquanto ela encarava o chão, um silêncio constrangedor se construía entre nós. Eu senti as lágrimas escorrerem mais uma vez e sabia que a crise de choro estava prestes a começar. Como se levasse um susto, Bonnie caiu em si, mas para a minha surpresa, ela me tomou em seus braços, num abraço forte e apertado. Ela não iria embora... pensei.

- Andrew, - ela me chamou, sem se soltar de mim - você é o quê?

- Bissexual. - disse, ainda entre as lágrimas.

- Não, não. A outra parte.

Quem teve que soltar o abraço fui eu. Ela não estava surpresa?

- Como assim?

- Você disse que é mono...

- Monofóbico. - eu tive tanto medo de contar sobre minha sexualidade a ela, que esqueci que havia contado sobre isso também. Ótimo, dois motivos para ela ser a próxima a me deixar. - É o medo excessivo de ficar sozinho. - ela concordou com a cabeça, mostrando que havia entendido. - Espera. Você não está nem um pouco chocada com o que eu falei?

- Por que eu ficaria? - ela voltou a me olhar, confusa, sem entender o que eu dizia - Você sabe que não está sozinho, não é?

E de repente, como se seus neurônios dessem um estalo, ela entendeu. Era da minha sexualidade que eu estava falando. A monofobia vinha depois disso. O medo de estar sozinho, de ser deixado, abandonado, largado e rejeitado talvez provesse do fato de que eu não me sentia normal, nunca havia sentido. O fato de eu gostar de garotos e garotas trouxe várias consequências: a) eu não podia falar sobre isso, pois; b) quando eu tentei, fui praticamente linchado na escola e em casa e, por fim; c) eu havia ganhado um término de Nora Campbell, a garota que eu mais amava e confiava. Tudo isso me trouxe a monofobia, minhas noites de insônia e pesadelos e consultas regulares à psicóloga. Tudo isso fez que eu tivesse medos terríveis, desde ir à padaria da esquina sozinho, até ser traído, mesmo quando a pessoa não demonstrava indícios disso. Tudo isso construiu a pessoa que sou hoje, um garoto fraco e que tem pavor de estar sozinho. Quanto mais medo de estar sozinho eu sentia, mais solitário eu ficava. Eu era escravo da minha própria condição mental. Simplesmente porque eu havia descoberto que, além das garotas, eu me atraía por garotos.

Como se lesse todos os meus pensamentos, Bonnie me abraçou mais uma vez, sem saber muito o que dizer.

- Andrew. - ela segurou meu rosto com as duas mãos e olhou profundamente em meus olhos - Está tudo bem ser quem você é.

Exausto DevaneioOnde histórias criam vida. Descubra agora