3. Clima - Ela é a Menina Clima

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- Se precisar de ajuda de cima, chame a Menina Clima! - ela cantarolou, imitando a personagem do desenho que passava na tv.

A Menina Clima, a personagem, era uma garotinha que ajudava seus amigos ao controlar as condições climáticas. Ela tinha um painel de controle completo e, com apenas um botão, ela poderia fazer chover. Ou nevar. Ou até mesmo aumentar a temperatura, se quisesse. 

Mas, pensando bem, a garota alegre e saltitante ao meu lado não era muito diferente. Ela poderia muito bem ser a Menina Clima, se estivesse afim. O painel de controle ficava dentro de sua cabeça, interligado ao seu coração. Vou te explicar o porquê.

Em dias como esse, de alegria, em que ela saltitava e ria das minhas besteiras, o sol brilhava lá fora. Não havia uma nuvem sequer no céu que, por sua vez, era de um azul tão intenso quanto seus olhos. O calor não era tão intenso, mas era o suficiente para que seu coração não temesse - e nem tremesse de frio. Eu sentia vontade de colocá-la no carro e fazer uma viagem a dois. Ou então, ir à praia. Ou apenas esperar que a noite chegasse e deixar que ela decidisse onde iríamos jantar. Sobretudo, eu sentia uma vontade incontrolável de fazê-la feliz. De fazer com que esse sentimento não acabasse. Mas nada é perfeito, e os dias ruins existiam também. 

Nestes, seja lá qual fosse o motivo, a chuva caia. Pesada e intensamente. Na maioria das vezes, no mesmo ritmo em que suas lágrimas. Se fosse um pequeno problema, garoava. Isso era fácil de se resolver: eu recolhia a roupa lá fora rapidamente e a acolhia em meus braços. Às vezes, as lágrimas que escorriam embalavam um sono escondido. E no outro dia, estava tudo bem novamente. 

Difícil mesmo eram os dias de tempestade. Lá fora, chovia como se o mundo fosse acabar. Aqui dentro, as lágrimas não escorriam, e sim, corriam; como a correnteza de um rio, deixando seus olhos inchados, vermelhos, irritados. Eu ouvia soluços escaparem de sua garganta, entre os trovões estrondosos. Era preciso ter um cobertor por perto, de tanto frio que fazia. Estes eram os dias em que tudo parecia perder o sentido, a confusão e o caos se instalavam. Nessas situações, parecia não haver muito o que fazer. Eu não sabia o que fazer. Tentar acalmá-la em meus braços parecia tão inútil quanto recolher a roupa esquecida no varal. Mesmo assim, eu tentava. Em algumas vezes, era em vão: o temporal continuaria a madrugada toda. Em outras, eu conseguia arrancar o menor dos sorrisos e então, sentia uma brisa fresca soprar.

De qualquer modo, eu enxergava esses dias como uma oportunidade. É claro que detestava vê-la chorar, assim como detestava as tempestades. Mas era apenas depois delas que eu poderia aproveitar o fenômeno natural mais bonito e o meu preferido: seu sorriso. Ou melhor dizendo, o arco íris. Eu conseguia sentir todas as cores em uma só ao ver seus dentes brancos-amarelados-de-café formarem um sorriso, por menor que ele fosse. O sorriso, depois de uma piada tosca, uma provocação, um carinho e, - por que não? - algumas cócegas, se transformava em riso. E assim, pouco a pouco, o sol ia tomando de volta o seu lugar.  

- Amor. - ela chamou, um tempo depois. - Onde vamos jantar?

- Eu não sei. - sorri para ela, deixando um beijo em seu rosto. - Você escolhe hoje, o que acha? 

- Pode ser. - e ela sorriu de volta, fazendo meu coração esquentar com o sol, acionado pelo painel de controle que ela possuía dentro de si mesma. A minha Menina Clima. 

Exausto DevaneioOnde histórias criam vida. Descubra agora