Portas e Aldravas

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Às quatro horas de uma sexta-feira, sobretudo, quieta, Aurora Kingston já havia iniciado os seus trabalhos, com sua atenção voltada para uma tela apoiada em um cavalete de marfim, Mindy Brooke, à sua frente, posava para que um retrato dela fosse pintado pela jovem prodígio, cujas pinceladas eram pontuais, acompanhadas de réguas e referências anatômicas antropocêntricas dispostas na sala de desenho dos Evans, estava tendo um ótimo momento, embora não fosse a maior simpatizante daquela cidade, estar com os Evans fazia daquela experiência muito mais qualificada, uma vez que diante de todo o luxo disposto para seu fascínio, poderia esquecer do nevoeiro e das histórias que corriam sobre Manchester, ouvira uma vez que aqueles pobres eram pecadores, viviam banhados em perdição e miséria, como um castigo de Deus, para ela, aquelas palavras pareciam verídicas, pelo pouco que havia observado, a lembrança do que viu na quarta feira a fazia ter um desejo interno desesperado de voltar para casa.

Enquanto a visitante estava entretida na sala de desenhos, na sala de estar Sophie Evans se encontrava junto de sua mãe, em uma conversa saudável sobre receitas e crianças, o último tópico que Sophie já não suportava mais ter de suportar pela parte de sua mãe, nunca havia conhecido uma mulher tão sedenta para ser avó, por vezes sentia pena de Sra. Hope, pois no fundo, sabia que era apenas uma resposta de sua solidão, uma vez que começou a comentar mais sobre a possibilidade com a filha após a viuvez; enquanto Sophie tentava desviar aquele caminho, Sarah, a adorável moça que trabalhava como criada, surgiu no cômodo para anunciar a chegada de uma visita, precisamente, uma carruagem, para a indagação das senhoras, as visitas que sempre esperavam viriam à pé, como Hunt, que em menos de dez minutos conseguiria caminhar de sua casa para a dos Evans, logo, Sarah antecipou a identidade dos que haviam chegado.

— Senhoras, Sra. Chadwick e Srta. Emma Chadwick vieram prestar uma visita.

A criada, timidamente, se retirou, dando entrada para uma mulher de nariz empinado, vestida em uma peça de faille de cor branca, em detalhes turquesa, acentuado por notáveis babados e camadas que chamavam a atenção da elite, logo atrás, uma moça elegante em sua adolescência, com um sorriso cortês, vestia um vestido rosa coberto de laços e um adorável chapéu como adorno. Conhecidas de longa data da família, as relações entre os Evans-Hope e os Chadwick eram afetuosas e Sophie, de primeira, já sabia que seria algo relacionado à festas. Após breve cumprimentos e cordialidades, o grupo se reuniu na sala de estar para resolver o ponto da visita.

— Sei que ainda estão em luto, e sinto muito! — As anfitriãs assentiram com um sorriso, dando abertura para que a conversa prosseguisse; de uma porta que dava entrada do corredor principal para o cômodo Mindy Brooke observava a conversa. A jovem e bela Emma, próxima a mãe, exibia um sorriso de orgulho. — Mas como bem sabem, Emma completou quinze anos no último inverno, com o casamento de Felicity, sua irmã, não vimos impedimento algum para que ela tivesse seu baile de debutante, adoraríamos que as senhora Evans pudesse comparecer, em honra a aliança de nossas famílias, e pelo carinho que temos.

Sophie parabenizou a jovenzinha de cabelos dourados, a lembrando muito de si mesma naquela idade. Sabia que não poderia comparecer, logo, uma ideia surgiu em sua mente.

— O luto não me permite, Harriet, sabe que é complicado, perdeu o seu pai há um tempo também, lembro como foi complicado para Felicity se casar, pobre menina. Enfim, estou coma filha mais velha de Victoria Kingston aqui, poderei até chamá-la se preferir... É uma doce garota de dezesseis anos, elegante e polida, ela me representaria perfeitamente neste baile! — Neste instante, Aurora, por acaso, passava pela frente de uma das portas que davam para o ambiente; logo, Sophie a chamou para o meio de todos, conhecer novas pessoas que poderiam valorizar a sua imagem na cidade nunca seria algo ruim, não?

— Olá mocinha! Me lembro de sua mãe e de seu pai muito bem, ora, como é bonita. Veja Emma! — Exclamou a bela Sra. Chadwick, assim que a garota beijou a sua mão e sentou como todas as outras. — Seria adorável Sophie, que ideia boa, acredito que já faça parte da sociedade, não é mesmo?

Aurora (Série "Victoria")Onde histórias criam vida. Descubra agora