2

892 72 17
                                    

Já se passaram três dias desde a minha reunião com Vanessão. Compartilhamos todas as ideias e planos para o Tequila. Mais tarde naquele dia quando eu cheguei na minha nova casa eu me toquei que minha vida estava prestes a mudar. E espero que seja pra melhor.

Agora estou no bar e não paro de ficar encantada com tudo. As luzes deixam o espaço como se estivéssemos em outra dimensão, as mesas estão estrategicamente colocadas em lugares pra deixar tudo mais espaçoso. Caminho até o pequeno palco onde quatro garotas estão sentadas conversando animadamente.

- Devem ser as garotas que contratamos - digo chamando a atenção delas que se calam no mesmo instante.

- Sim, são elas - uma voz atrás de mim diz e eu giro nos calcanhares pra encontrar Vanessão em toda sua glória.

Ela está linda toda de preto e com um salto que deixa ela bem mais alta do que o normal e eu automaticamente me sinto uma completa anã.

- Meninas essa é a Cristal - ela me apresenta. - A patroa de vocês.

Vejo a surpresa no rosto delas. Obviamente estavam esperando alguém com mais experiência, não uma mulher baixinha com apenas dezenove anos, tenho mais cara de colega de trabalho do que de patroa. O tempo está passando, penso ao me dar conta de que meu aniversário passou em branco e eu mal notei.

Vanessão vai até as meninas e apresenta cada uma delas. As duas morenas são Gabi e Maju, as duas não são da cidade e não pararam de agradecer pela oportunidade de estarem trabalhando comigo. A de cabelo azul se chama Ivete e pelos braços cruzados e o queixo pra cima logo percebi que havia uma marra ali. As três vão ser minhas garçonetes.

E também tem a ruiva que dentre todas parece a mais madura. Luna tem um sorriso fácil e é a única que não parece ser uma completa maluca igual as outras. Ela vai ser nossa bartender.

Depois das apresentações deixo a respiração que estava prendendo escapar. Eu estava com medo de que não fosse com a cara de uma delas, ou que uma delas não fossem com minha cara. Mas claramente isso não aconteceu e olhando pra cada uma delas eu soube que não preciso ter medo de fazer um lugar só com mulheres funcionar.

- Eu preciso saber se vocês sabem dançar - digo depois de alguns minutos ouvindo sobre a vida de cada uma delas.

Ivete passa a língua pelos lábios antes de soltar um risinho.

- Amor, você está em Los Angeles, quem aqui não sabe dançar?

- Eu estou falando de dançar pra valer, não só se remexer - digo colocando uma mão na cintura e me balançando pra dar ênfase.

- Acho que os três anos que passei fazendo jazz vai servir de alguma coisa - diz Maju dando de ombros.

- Eu e a Vanessão temos uma proposta pra vocês - digo e então ela começa a explicar.

- Eu e essa baixinha achamos que seria legal usar o palco pra fazer apresentações nos dias que a casa estivesse mais cheia - ela sorri ao subir no palco e fazer uma pose poderosa. - Todos os olhos vão estar em vocês enquanto dançam e fazem a dublagem da música.

- Todas nós de uma vez? - pergunta Luna parecendo interessada.

- Não necessariamente - respondo. - Cada uma pode ter o seu momento, mas apenas quando a casa estiver cheia e não vai ser o tempo inteiro.

- A gente vai precisar tirar a roupa nesse "show"? - pergunta Gabi fazendo aspas com os dedos.

- Meu Deus, não! - arregalo meus olhos. - Não quero fazer disso um bordel.

- Droga - ela diz fingindindo está chateada e eu deixo um riso sair.

- Eu tentei convencer ela a fazer um bordel, daria bem mais dinheiro que um bar normal - diz Vanessão descendo do palco e se colocando ao meu lado.

- Isso está fora de cogitação - reviro meus olhos com um sorriso no rosto.

Estou cercada de malucas. Mas de algum jeito estou na vibe delas. E pela primeira vez em muito tempo sinto que reencontrei minha família.



- Você sabe que mais cedo ou mais tarde vai ter que dizer o que está sentindo pra ele, ne? - pergunta MK ao acompanhar meus olhos.

Estamos empacotando a mercadoria antes de mandar pra venda. Dei uma fugida do bar enquanto Vanessão ensaiava as meninas pra noite de estreia e vim até a casa do Ryan. Está as maioria do pessoal da facção aqui, exceto o Rodrigo que foi falar com os fornecedores de armas.

Ryan está no sofá conversando com alguns garotos enquanto MK e eu estamos na mesa da cozinha apenas observando eles enquanto fazemos nosso trabalho. E é do Ryan que MK está se referindo.

- Eu sei - suspiro. - Quando eu tiver tempo irei resolver isso.

- Ah, esqueci - ele abre um sorrisinho e diz em um sussurro: - Você agora é uma CEO ocupada.

Bato com o cotovelo em suas costelas e ele ri.

- Se alguém aqui escutar isso... - sussurro de volta deixando a ameaça pairar entre nós dois.

Antes que ele possa dizer alguma coisa o noticiário chama a minha atenção e em segundos estou de pé me dirigindo pra sala ao escutar a âncora falar "incêndio" e "boate" na mesma frase.

- Aumenta essa merda Ryan - digo e ele não hesita em obedecer quando a reportagem fica ao vivo.

- As investigações sobre o incêndio aponta que foi proposital - diz a repórter que parece está na porta da delegacia. - Estamos com o policial que acaba de prender os envolvidos suspeitos.

E então um policial começa a falar de como foi a operação. Mas eu mal consigo respirar, pelo visto os desgraçados foram presos e se eu souber quem é...

- Os dois suspeitos tem uma longa ficha criminal - diz a repórter e logo a foto de dois caras aparecem na tela.

E meu corpo inteiro congela. Porque um deles é o Rodriguinho.

Pisco uma, duas vezes.

Ele não teria coragem de colocar a vida de várias pessoas daquele jeito em perigo. Vidas que nem estão aqui pra contar a história, que se foram pra sempre. Ele não seria capaz de fazer isso. Seria? Me recuso a acreditar nisso.

- Desgraçado - escuto MK dizer ao meu lado mas sua voz está distante.

- Os suspeitos serão detidos aqui até o dia do julgamento, que será em quinze dias - diz o policial. - Depois disso serão encaminhados para a prisão.

Meus olhos logo reconhece em qual delegacia ele está e meus pés automaticamente vão para a porta paro somente pra pegar minha bolsa e casaco.

- Onde você pensa que vai? - pergunta MK com a respiração ofegante, parece que correu pra me acompanhar.

- Vou até a delegacia, preciso ver o Rodriguinho e tirar essa história a limpo - digo e então coloco minha arma em sua mão. - Toma a conta disso.

- Você enlouqueceu, Cristal? - ele ruge. - Ele vai pagar pelo que deve.

- Se ele fez mesmo o que está sendo acusado de fazer - digo sentindo um bolo em minha garganta. - Tenha certeza de que ele vai ter o que merece e não vai ser pelas mãos desses Steve.

Entro no carro e piso fundo no acelerador.

Cristal Giorno - O Recomeço Onde histórias criam vida. Descubra agora