Duas vezes

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A manhã chegou e os dois colegas de quarto continuavam a dormir profundamente. Tudo o que queriam - e precisavam - era uma boa noite de sono. Tirá-los da cama não seria um trabalho tão simples, mas necessário. Os alarmes de seus celulares tocaram ao mesmo tempo, causando mais uma vez o som caótico de duas melodias distintas em conjunto.

Thomas foi o primeiro a acordar - e para a surpresa de zero pessoas, já estava estressado -. Seu humor pela manhã já era sensível demais para ter que lidar com aquela barulheira insuportável há uma hora dessas.

"Precisamos desativar um dos alarmes, e com certeza vai ser o dele." Westwell resmungou mentalmente.

Tom pensou que esse seria o pior detalhe de sua manhã, mas bastou seus olhos manchados recuperarem a visão para que ele visse estar enganado. A sua frente estava o rosto de Todos adormecido, com aquela cara torta e amassada de quem ainda estava no oitavo sono. Mas com frente, eu quero dizer na frente mesmo, beeeem na frente, mais do que deveria.

Seus sentidos começaram a voltar, e foi num estalar de dedos que deu-se conta dos seus braços ao redor do norueguês, que também estava agarrado nele. Thomas entrou em pânico, mas antes que pudesse sair de seu abraço e fingir que isso nunca aconteceu, os olhos do outro rapaz se abriram lentamente. Westwell pôde ver a consciência de Tord voltando, e junto com ela, o fim de sua glória.

O jeito assustado que Tom carregava em seu rosto deixou Arkel confuso. Suas pálpebras tremiam, Tord pensou ter sido algum pesadelo muito tenso até se lembrar que seu dakimakura da Ibuki Mioda não tinha braços. Ele estava agora igualmente desesperado.

Os dois se empurraram segundos depois, como se fossem bombas prestes a explodir, trocando olhares de nojo e desgosto entre si.

— Que porra foi essa, cara?! — Questionou, Thomas.

— Eu não sei, eu estava dormindo! — Tord retrucou. — Eu sempre durmo com a Ibuki então eu pensei que-

— Você tá me comparando com uma guitarrista de anime?! — Interrompeu.

— Eu estava dormindo, idiota! Você realmente vai me culpar por ter feito algo inconscientemente? Lembre-se de que eu não era o único abraçando alguém ali!

Tord tinha razão. Os dois estavam praticamente desmaiados, não havia condições de acordarem no meio da madrugada ou se importarem em descobrir porque seus travesseiros estavam respirando.

— Ok, você tá certo. — Westwell assentiu com a cabeça, um pouco mais calmo. — Só vamos esquecer que isso um dia aconteceu.

— Por favor. — Disse Arkel, de nariz torcido.

O diálogo se encerrou, e em meio ao silêncio o alarme do celular do norueguês voltou a tocar.

— Puta merda, mas você precisa de tantos despertadores assim?

— Não subestime o quão pesado pode ser meu sono, Thomas. — Afirmou ele, indo em direção ao seu telefone para desativar o barulho irritante que preenchia o cômodo. Mas ele não conseguiu, ficou parado olhando para a tela enquanto o som permanecia a rodar.

— Tá esperando o que, babaca? — Thomas cruzou os braços. — A gente não tem a manhã inteira.

Realmente não tinham. Tord pegou o aparelho e virou seu rosto apavorado na direção do britânico. Ele ficou sem palavras, no fundo, já sabia do que se tratava.

— A gente... — Gaguejou, arrastando o dedo pelo botão de desligar sem tirar seus olhos cinzas dos manchados de Westwell. — A gente não reconfigurou os alarmes, não é?

Silêncio. O músico respirou fundo, devastado, percebeu naquele instante que teriam de repetir tudo outra vez. Continuou a encarar seu colega de quarto, dessa vez, com fogo nos olhos e a mão sobre seu ombro.

Tomtord - We don't believe whats on TVOnde histórias criam vida. Descubra agora