Capítulo 2

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  Dia 22 de Outubro.
E lá estava eu completando meu vigésimo aniversário. A nossa maior alegria ainda continuava sendo o sumiço de Patrick, mas a miséria e a fome Em Baixo e inclusive na mina casa estava cada vez pior.

Eu não aguentava mais ver como parecia que a gente ia morrendo aos poucos, a fome mata muito mais que todo o resto por aqui. Me levantei do sofá e fui em direção a porta.

-Aonde você vai Maya? -Minha mãe com a voz rouca pergunta, deitada em sua cama.

-Atrás de comida, não posso ficar vendo você morrer com câncer e ainda por cima com fome. -Minha mãe franze a testa e uma lágrima escorre de seus olhos e só aí percebo o quão forte foram minhas palavras. -Mãe, me desculpa, eu não quis dizer isso.

Falo me aproximando dela e sentando em sua cama, ela passa as mãos pelos meus cabelos escorridos e então sorri.

-Eu tenho tanta sorte de ter você, minha guerreirinha. Sei que estou doente, mas só quero que você se preocupe com você e a Louise. -Eu aceno com a cabeça e dou um beijo em sua testa, me levanto e saio de casa.

Daqui não conseguimos ver o céu, então não conseguimos ter plantações o que faz a miséria ser ainda maior.

Os corredores sempre mal iluminados e eu sem nenhuma libra no bolso. Ando um pouco, cumprimento algumas pessoas e me sento na janela de uma vendinha, abaixo minha cabeça e fico pensando em como esses meus 20 anos puderam ser tão miseráveis.

Mas o ronco da barriga era mais alto do que meus pensamentos, então escuto a voz de Louise vagamente, mas acho que é coisa da minha cabeça por estar preocupada com ela e mamãe.

-Maya, planeta terra chamando. -Levanto minha cabeça e lá estava ela na minha frente toda sorridente.

-Não era pra você estar na casa da sua amiga, Louise? O que você faz na rua sozinha. -Ela percebe meu tom de voz firme, se senta do meu lado e se posiciona para falar perto do meu ouvido.

-Eu tenho uma ideia, a gente não vai passar fome nunca mais. -Ela sussurra. Eu a olho e faço uma cara de quem não estava entendendo. Até porque Louise tinha uma forma peculiar de pensar sobre qualquer coisa. -Tá, na verdade a ideia não foi minha, mas eu escutei o Jorge e o Josh falando sobre roubar uma casa hoje lá em cima, a casa dos Hideki. Eles vão para a casa de campo e lá vai ficar sozinho e podemos pegar muita coisa de valor que tiver lá e toda comida que aguentamos. -Ela terminou ainda sussurrando.

-Louise eu jamais quero ver você falando sobre uma coisa dessa novamente, você é uma garota linda, nao vai ser igual eu que nem consegue arrumar um marido. Nao precisa manchar sua reputação e outra se os dois patetas já vão para lá nos sobraria o quê? Nada.

-É só nós irmos antes deles e podem vender as coisas para comprar um remédio para nossa mãe. -Confesso que na hora senti como se fosse uma boa ideia, mas não poderia deixar Louise fazer uma coisa dessas, basicamente ela só tem a mim, não posso afundar ela e a encher de traumas igual a mim.

-É, aí quando der tudo errado seremos queimadas vivas na praça de cima igual as bruxas. Vai para casa, prometo que hoje terá janta. -Eu completo dando risada.

Louise me olha com cara de reprovação, mas sai sem falar nada.
 
Quando a avisto sumindo no meio da rua mal iluminada, vejo Josh vindo de outra direção e minha cabeça não para de pensar em como é um bom plano e que eu não tenho mais nada a perder mesmo.

Josh para na minha frente assim como minha irmã estava, eu apenas olho para cima pois sua sombra deixa ali ainda mais mal iluminado do que já é.

E lá estava ele parado com seus 1,85 de altura, seus cabelos lisos e castanhos médios assim como sua pele morena clara e aqueles olhos azuis feito o céu em um dia lindo.

-Maya? Você está bem? -Ele pergunta me olhando toda desengonçada sentada ali.

-Maya o foco! -Eu deixo escapar sem querer para mim mesma.

-Que foco? -Ele pergunta com cara de quem não está entendendo nada.

-Nada, só pensei alto. -Eu tento concertar o que eu deixei escapar, mas ele percebe que eu estou escondendo algo.

-Doida, então tá né. Sua irmã falou que você queria falar comigo.

-Eu não. -Respondo sem jeito.

-Parece que você está com a cabeça bem longe daqui, depois conversamos. - Ele se vira e sai andando.

Droga, droga, droga. Josh sempre me deixa sem rumo, eu gosto dele desde que me lembro por gente, mas nunca tive coragem de falar. Nao posso deixar isso afetar minha mae e minha irma, preciso ir com eles ate os Hideki. Entao me levanto e saio correndo atrás  dele e o chamo.

-Josh. -Falo alto parando no meio do corredor que chamamos de rua. -Ele olha para trás e vem em minha direção, me puxa para a parede para dar espaço para as outras pessoas passarem. -Eu vou com você hoje. -Falo em um tom firme.

-Você está maluca? E como você sabe? -Ele demonstra estar muito bravo.

-Isso você não precisa saber, mas se você não me levar eu falo para os Hideki não saírem hoje se não eles vão ser roubados.

-Você nao tem esse direito. -Ele fala mais bravo ainda.

-Tenho tanto quanto você e aquele besta do seu amigo, sou muito mais útil do que ele, sou rapida e esperta. -Falo olhando no fundo dos seus olhos.

-Maya, voce pode ate ter razão, mas não  quero que voce se prejudique caso algo aconteça, eu sou homem e posso aguentar apanhar, mas você não!

-Como você é ridículo, do mesmo jeito que você é o chefe da sua família e precisa levar comida para eles, eu tenho que levar para minha e posso aguentar tanto como você. Eu ser mulher não justifica que não sou suficiente para fazer o que quero. -Meu coração se encheu de ódio ali naquele momento, quem ele está pensando que é?

Me viro e saio andando, então ele puxa minha mão e eu viro, ele segura a palma da minha mão e vê as marcas dos machucados que eu fiz no dia do sumiço do Patrick.

E por alguns segundos me vem na cabeça aquele menino desconhecido pegando na minha mão.

Do Outro LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora