Belas lembranças

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Streetville, Sexta-feira, 24 de junho de 2016, 23:35

-É muito bom ver você - me dirijo a ele e lhe dou um abraço.

Ele percebeu o quanto eu estava a vontade.

-Velhos costumes nunca morrem - e soltou uma risada. Ele possuía um cabelo escuro com olhos azuis. Tinha a aparência de qualquer com 40 anos, mas conservado - é muito bom te ver de novo, Robert.

-Digo o mesmo, Castiel.

Castiel costumava ser uns dos meus melhores amigos quando criança. Ele acompanhou uma boa parte da minha infância e adolescência. Como eu nunca possuí muitos amigos ao longo da vida, Castiel foi uma peça-chave nela. Ele é o que costumam chamar de amigo imaginário. Mas para mim, ele é muito mais que isso. Ele foi como um irmão protetor, um anjo da guarda.

******


Resolvemos nos sentar no sofá da sala.

-E, então, parece que cresceu, hein? - disse em tom de brincadeira.

-Bem, fazem vinte anos desde que você sumiu. Demorou um tempo para eu acostumar, mas acabei me adaptando à sua ausência.

-*suspiro* Você sabe porque eu fui embora, não é, Robert? Quando você saiu da escola naquele dia, estava mudado. Percebi que conversava com uns colegas e que estava bem alegre. Em todo aquele tempo que estivemos juntos, eu nunca tinha visto você sorri tanto sem ser comigo. Sabia que era hora de partir, que eu tinha cumprido a minha missão - pôs a mão no meu ombro - A partir daquele momento, você ia precisar de um tempo sozinho para se entender e comigo ao lado isso seria inviável.

-Você deve ter razão. As coisas mudaram bastante depois daquele ponto. Mas, então, o que te trás aqui novamente vinte anos depois?

-Andei notando que você está com problemas.

-Espera um pouco, então você me observa?

-Claro que sim, mesmo não conversando com você, sempre estou te vigiando caso volte a precisar de mim. E, bom, esse é um dos casos.

-Entendo. Mas você tem razão, ando meio atordoado nos últimos dias. Voltei a ver a minha antiga amiga. Isso já tinha acontecido antes, mas eu tinha conseguido conter. Mas também…eu escutei a voz de outra mulher, não quem ela seja. - Noah parecia um pouco surpreso.

-Ora, Robert, essa mulher era eu.

Fiquei chocado com a resposta.

-O quê? Como assim era você?

-Ah, Robert - falava com uma voz suave - pelo que lembro já tivemos essa conversa. Talvez essa lembrança tenha se apagado com o tempo. Caso tenha esquecido, eu não possuo forma própria - eu estava bem concentrado em sua explicação - esse corpo em que estou agora é apenas um veículo que sua mente escolheu para me representar. Então, eu posso ser tanto homem - instantaneamente se transformou em uma mulher com um longo vestido preto - quanto uma mulher.

-Essa parte parece muito esclarecedora agora - ele voltou para a forma original.

- Mas voltando para a parte que importa, temos que falar sobre sua amiga Claire. Provavelmente, ela irá aparecer mais vezes. Não faz sentido ela sumir de repente, talvez ela queira te contar algo.

-É, talvez tenha razão. Mas por que ela não conta de uma vez? Ela fica fazendo esse zique-zaque na minha cabeça, brincando com os meus pensamentos. Isso está me deixando louco.

-Entender nossa mente não é uma tarefa nem um pouco fácil. E você, como psicólogo, tem que saber disso mais do que ninguém. - eu concordei com a cabeça - Talvez ela esteja tentando te passar um código.

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