Capítulo 4

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Uma série de fatores geográficos e climáticos tornam o céu do Atacama especial e único com as melhores condições para observá-lo. Estamos a mais de 2400m de altitude, no deserto mais árido do mundo, ou seja, com pouquíssima umidade no ar. Aprendi durante a faculdade que quanto menor a umidade, menor o desvio da luz que são emitidas pelas grandes e maravilhosas bolas gasosas, as estrelas, nas gotículas de água em suspensão na atmosfera.

Pesquisei sobre tudo isso antes de vir, e segundo o site, o céu aqui fica limpo 300 dias por ano. Tornando raro as nuvens cobrirem a constelações, com excessão durante o inverno Altiplânico, onde ocorrem as chuvas entre dezembro e março. O inverno do deserto é durante o verão do Chile, esses meses são péssimos para quem decide admirar as estrelas.

Eu não me aguentava de ansiedade, mas a comida demorava a chegar. O céu já estava cheio de estrelas, do restaurante eu já admirava as belas estrelas. 

- Disseram que demos sorte, essa semana conseguiremos ver o braço da Via Láctea! -- Lucas fala enquanto, mesmo dentro do restaurante, todos procuravam achar alguma constelação.  

Eu teria pulado o jantar se não estivesse morrendo de fome, não só eu, mas todos eles também. Soubemos, quando fizemos o check-in no hotel que é bastante comum a nossa empresa mandar grupos para lá como bonificação.

- Finalmente! -- Ravi celebra quando o garçom chega com nossos pedidos. Ele parecia estar ansioso, não conseguia deixar a perna parada. Dou risada quando ele percebe que estou o encarando e fica vermelho.

- tudo bem? -- pergunto baixo para ninguém ouvir, mas eles pareciam tão centrados na comida que eu poderia gritar e eles nem iriam perceber. 

Ravi apenas concorda com a cabeça, com o menor dos sorrisos nos lábios. Pego sua mão livre e sussurro em seu ouvido.

- "Vai ficar tudo bem, eu estou aqui."  

Sorrio, quero entender sua preocupação repentina, mas ele apenas agradece e volta a comer, sem dizer mais nenhuma palavra. Continuo o observando de canto de olho, e ele continua igual, até bateu os dedos na mesa com os olhos fechados. 

***

Poder enxergar tantas estrelas ao olho nu é simplesmente a realização de um dos meus sonhos. Ajusto o ISO da câmera e depois de algumas fotos tiradas, coloco com uma boa posição no tripé, enquanto ajusto o telescópio no tripé dele. 

- Como ficaram as fotos? -- Evi pergunta, eu tinha fotografado todos e pedi para que ela tirasse algumas minhas, sozinha e com Ravi. E surpreendentemente ela soube capturar muito bem as fotos com pouquíssima explicação. 

- Incríveis, de verdade. -- falo me abaixando para encaixar direito o telescópio no tripé. -- Depois que voltarmos vou revelar e colocar em um quadro. -- completo sorrindo enquanto meus pensamentos xingavam o tripé que estava desestabilizado. 

- Quem revela fotos hoje Alya? -- ouço ela rir, apenas dou de ombros. Eu era apaixonada por um bom e velho porta retrato.

Ouço Ravi e os meninos rindo de longe, aparentemente o nervoso ou ansiedade dele já tinha passado, mas demorou um pouco. Evi disse que podia ser o ar seco daqui de cima, mas não tinha nada a ver com como Ravi estava. 

- Posso segurar a câmera para tirar mais algumas fotos Alya? -- Evillin pergunta quando eu finalmente prendo tudo no lugar. Dou risada e me abaixo de novo para soltar a câmera, era a amais fácil de ser presa, então já aproveitar para ensinar a Evi a prender, para quando estiver cansada de usar. 

Quando finalmente acabo de arrumar tudo os meninos ainda estão um pouco longe, mas como as coisas estão posicionadas e prontas abro meu pequeno telescópio. Consigo ver algumas constelações, chamo Evi para ver também, mas ela parece não ouvir, devia estar ocupada tirando algumas fotos. Procuro mais algumas e observo o braço da Via Láctea, que é simplesmente perfeito. O universo é vasto demais e com uma beleza que deixa qualquer um maravilhado com tamanha beleza e imensidão. É assustador pensar no quanto somos pequenos e insignificantes em um universo com tantas belezas de tamanhos e core totalmente diversos. Mas, tudo fica escuro e ouço eles cochicharem e rir de alguma coisa.  

Abro um dos os olhos que estava fechado e me levanto para o descobrir o problema do meu telescópio. Não foi difícil de resolver, era Ravi que estava na frente dele com um sorriso enorme no rosto. Me assusto quando de repente ele resolve se ajoelhar, com os olhos fixos nos meus.

Porque ele não me chamou? Eu estava apenas tentando observar as milhares de estrelas acima de nós, era Ravi quem resolveu me atrapalhar. E agora lá estava ele, ajoelhado a minha frente.

- Alya, — ele começa, não consigo desviar o olhar e dou um passo em sua direção, tremendo e com um frio no estômago. — nunca imaginei que poderia encontrar um amor em um sistema solar com 8 planetas, 204 países, 7 mares e 7 bilhões de pessoas. Você é a única pessoa neste vasto universo que preciso para ser feliz! – ele sorri e abre a caixinha pequena e delicada que estava em sua mão, não a tinha visto ainda. Revelando um par de alianças douradas, que refletiam a luz das estrelas. – Alya, você aceita me fazer a pessoa mais feliz desse universo, me dando a honra de te chamar de esposa? – Ravi termina de falar, podia jurar que seu sorriso estava maior e agora, um olhar esperançoso tomava conta de seus olhos. Ele provavelmente tinha passado a semana ensaiando para esse momento. Agora entendi todo o seu nervosismo durante o jantar, e o porque a Evillin resolveu me maquiar antes de sair do quarto.

Meu coração estava a mil, meu olhos lacrimejando. Nunca sonhei com pedido de casamento melhor do que esse. Na verdade nunca imaginei esse momento, esta prefeito.

Eu não pensei, me joguei em seus braços e enrosquei minhas mãos em seu pescoço. Foi um abraço apertado e esperançoso. Tínhamos um futuro para traçar juntos e as estrelas testemunham tudo.

Após um beijo rápido, olhei bem em seus olhos chocolate que brilhavam com as luzes refletidas do céu.

- Sim!


Até o fim do universoOnde histórias criam vida. Descubra agora