Capítulo 3: Giovanna

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Léo estava mais desanimada do que o dia anterior, os círculos embaixo de seus olhos revelavam que ele não tivera uma boa noite de sono. Não falou mais do que o necessário. Sim, ele estava bem. Não, ele não ia pra casa da avó hoje. Sim, ele tinha feito o dever.
Achei melhor não insistir em outra conversa depois dessas respostas monossilábicas.
O dia seguiu o tedioso padrão de sempre: os meninos zoando e falando alto a aula inteira, Karina fofocando sobre suas férias como se alguém estivesse realmente interessado em ouvir, tudo estava como sempre. Nada promissor.
No intervalo, coloquei a cabeça do Léo sobre meu colo e comecei a fazer carinho em seu cabelo, na esperança de que isso o animasse. Enquanto passava o olho pelo pátio pude ver o garoto novato sentado sozinho, lendo um livro.
- Ai, eu vou te falar, esse menino novo é muito fofo. Eu comentei.
Gabriel era alto e levemente magro, os cabelos escuros em uma confusão de cachos encaracolados, os olhos castanhos e profundos escondidos atrás de uma longa e grossa cortina de cílios.
- Quem sabe esse ano as coisas não melhoram né? Indaguei esperançosa. Quem sabe ele não é o meu príncipe?
- Não exagera, vai Giovanna. O menino mal chegou na escola, você nem conhece ele.
Por que ele ficou tão estressado de repente?
- Você está com ciúmes, Leonardo?
- Sim, Giovanna, estou morrendo de ciúmes.
Eu ri. Pelo menos ele ainda tinha algum humor pra ironias.
Então eu vi uma juba de cabelos loiros esvoaçantes correndo em direção ao novato.
- Aff não acredito! Que cara de pau!
- O que foi?
- A Karina! Ela dá em cima de todo mundo.
- Do que é que você tá falando Gi?
- Ela acabou de sentar do lado do Gabriel e já tá dando em cima dele. Não bastasse dar em cima de você, é só um menino novo chegar que ela já aproveita.
Ele não se deu o trabalho de responder.
Mais tarde na aula de biologia, na qual, eu devo admitir, fiquei encarando o Gabriel mais tempo do que os bons modos permitem, vi o menino se inclinar pra frente e sussurrar no ouvido do Léo pedindo uma borracha. O garoto cego fez uma cara de desculpas e respondeu que não usava borrachas. Gabriel pausou os olhos no datilógrafo e, percebendo seu deslize, pediu várias desculpas extremamente envergonhado. Leonardo, talvez desconfortável com o mal jeito que causou ao garoto, esticou os braços em direção à minha mesa tateando a superfície a procura da borracha, coloquei-a em sua mão e ele emprestou para o novato que o agradeceu, em seguida, me deu um olhar extendendo o gesto. Sorri pra ele rapidamente antes de desviar de seu rosto.
Ao fim da aula, Gabriel me devolveu a borracha, agradecendo de novo, Perguntou a mim e ao Léo se morávamos perto da escola e, quando apontamos a direção que seguíamos, ele disse que passava por lá também. Perguntamos se ele queria ir com a gente e o garoto pareceu animado em ter companhia de volta pra casa. No caminho, nós três conversamos sobre a vida que o garoto levava na sua antiga cidade antes de se mudar pra cá, eu e Léo falamos um pouco sobre nossa vida na cidade em que crescemos juntos e por fim falamos um pouco sobre a escola. Paramos em frente à casa do Léo e, quando abri o portão pra ele, me virei para o Gabriel e dei um beijo de despedidas na sua bochecha.
- Você não vai continuar subindo? Ele me perguntou, confuso.
- Ah não, eu moro duas quadras pra trás, mas sempre venho trazer o Léo em casa.
- Ah, tudo bem então. Até amanhã.
Ele continuou subindo a rua enquanto eu fazia o caminho de volta pra casa.

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