Capítulo 8: Gabriel

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Fui me deitar mais cedo pra não levantar suspeitas, talvez meu pai deixasse eu ir de boa se pedisse mas não queria colocar o Léo em problemas. Ás 22:00 da noite passei pela sala indo pro quarto para que meu pai me visse de pijama e não desconfiasse de nada. Fiquei inquieto na cama até às 11:30 quando ouvi os roncos altos do meu pai no quarto do lado e levantei pra trocar de roupa. Enquanto pedalava em direção à casa do Léo senti algo diferente na boca do estômago: ansiedade, nervosismo, não sabia dizer.
Parei em frente a casa dele 5 minutos mais cedo do horário combinado mas ele já estava sentado no meio fio me esperando, ajudei ele me alcançar e subir na bicicleta. Achei graça de como ele apertava meus ombros com força durante as curvas do trajeto.
Encontramos um lugar alto na praça e sentamos sobre a grama, esperando.
- Qual a graça de um eclipse? Léo perguntou.
Eu estava perdido em pensamento quando sua pergunta me trouxe de volta.
- Ah, acho que é ver a lua sumindo do céu.
- Como assim sumindo?
- Ela desaparece do céu. Quero dizer, ela deixa de ser iluminada.
- Ou seja...?
Precisei de um tempo pra pensar: como explicar para um cego os efeitos de um eclipse?
- Quer ver... sabe quando você está tomando sol e você sente o calor dele em um lado do seu rosto?- Toquei sua bochecha pra demonstrar o gesto e ele tremeu sob meus dedos. Afastei a mão na hora. - Então, esse mesmo lado do seu rosto tá sendo iluminado pelo sol.
- Mas o que isso tem a ver com um eclipse?
- Espera um pouquinho.
Pensei mais um pouco antes de responder e conclui que talvez fosse melhor mostrar do que tentar dar exemplos que ele não compreenderia, então levantei pra procurar umas pedras.
- Me dá sua mão. - Ajudei ele a encontrar as pedras que eu posicionei enquanto tentava explicar. - Aqui tá o sol, aqui a terra e aqui a lua. O sol ilumina a terra, ilumina a lua, assim como ilumina seu rosto.- Ele riu enquanto eu segurava sua mão, ajudando-o a tocar as respectivas pedras/astros as quais eu me referia. - O eclipse acontece quando os três ficam perfeitamente alinhados. E aí aquela luz que iluminava a lua, deixa de iluminar, e, como a gente só vê o que é iluminado, a gente não enxerga mais a lua. Mas é bem rápido porque a terra sai do meio dos dois e a gente volta a enxergar a lua. Entendeu?
- Acho que sim.
- Engraçado tentar explicar isso. - Eu ri. - Parece tão simples.
O eclipse terminou em questões de minutos, mas demoramos um pouco pra ir embora. Por um tempo, ficamos apenas sentados na grama sem conversar enquanto eu olhava as estrelas. Assim que começou a ficar tarde, deixei o Léo em sua casa, pedi pra que ele levasse pra escola meu moletom que tinha esquecido no seu quarto mais cedo e fui embora.
Quando cheguei em casa e me deitei, senti a estranha sensação na boca do estômago de novo. Mais cedo, pensei ser a ansiedade de sair de casa escondido mas, seguro de volta em minha cama, comecei a achar que estava enganado.

Hoje eu quero voltar sozinho Onde histórias criam vida. Descubra agora