Capítulo 5: Giovanna

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Estávamos na sala da pedagoga esperando a nossa vez. Leonardo havia me enchido o saco o dia inteiro pra eu ir com ele perguntar sobre o intercâmbio. Eu estava estressada e magoada, ele estava cogitando fugir pro outro lado do mundo e não pensou em mim em nenhum momento.
- Então, como posso ajudá-los? A pedagoga perguntou.
- É que eu queria fazer intercâmbio e gostaria de saber algumas informações. Eu gaguejei.
- Bom, pra isso eu preciso que os pais de vocês venham até aqui pra conversar com a gente e aí nós explicamos direitinho como funciona tudo, tudo bem?
- Tá bom, obrigada. Eu disse, já levantando o Léo
- Mas, moça, só pra gente não ter vindo aqui atoa, você pode falar um pouco do que a gente precisa? Ele perguntou, fazendo menção de se sentar de novo.
Eu sentei também, impaciente.
- Você também quer fazer intercâmbio? Ela perguntou, um pouco cética.
- Talvez.
- Bom, então eu vou buscar uns folhetos e assim vocês vão pesquisando direitinho e seus pais já podem vir informados. Só um minuto.
Ela levantou e entrou em uma sala. Léo apertou minha mão num sinal de aprovação. Ele estava animado. Rolei os olhos aproveitando ele não conseguiria ver.
A moça voltou com os panfletos, me entregando.
- Obrigada. A gente volta com os nossos pais.
- Só uma última dúvida.- Léo falou, eu estava me levantando, sentei de novo.- Você acha que teria problema eu fazer intercâmbio sendo cego?
- Olha, eu vou ser bem sincera. Nunca tive alguém cego fazendo intercâmbio. Mas acho que é do uma questão de encontrarmos uma família preparada pra te receber. A gente faz assim: você me dá o seu telefone que eu dou uma pesquisada e te ligo se encontrar alguma coisa.
Léo ditou seu celular pra moça e finalmente fomos embora. Eu ainda estava irritada por ele ter me arrastado pra lá, mas quando a gente saiu e percebi que ele estava feliz, a irritação sumiu na hora.
***
Era sexta, então chamei os meninos pra minha casa depois da escola. Estávamos todos deitados na beira da piscina tomando sol. O celular do Gabriel tocou e ele atendeu. A ligação no durou nem 5 minutos e ele já estava despedindo com um beijo.
- Quem é? Sua namorada? Eu perguntei em tom de brincadeira mas na verdade estava morrendo de curiosidade pra saber se ele tinha namorada.
- É meu pai. Ele respondeu sem graça.
- Seus pais são super preocupados como os do Léo?
Ele me deu uma cotovelada.
- Na verdade é só meu pai. A minha mãe morreu quando eu era criança.
- E são só vocês dois?
- Não, eu tenho um irmão mais velho também.
- Ele mora com vocês? O Léo perguntou.
- Não, ele ficou na cidade em que eu morava.
- E vocês se dão bem?
- Hm, mais ou menos.
- Por que mais ou menos?
- Ah, a gente é bem diferente, sabe? Ele é engenheiro, só pensa em números. Eu gosto de ler e ele odeia. Pelo menos pra música a gente é igual.
Eu estava um pouco fora da conversa, decidi intervir.
- Sabia que o Léo só ouve música clássica?
- Sempre tive vontade de aprender música clássica, mas nunca tive muita paciência.
- Como não? É o melhor tipo de música que existe.
- Não exagera vai, Leonardo. Respondemos juntos.
- Mas e verdade. Ele estava na defensiva.
- Por que você gosta tanto? Gabriel perguntou.
- Por causa da minha vó. Ela sempre diz: pra entender qualquer coisa, primeiro tem que começar pelo clássico.
- Mas o problema do Léo é que ele começou pelo clássico e empacou nele, né. Eu brinquei.
- Besta.
- Você podia me dar umas aulas depois então, Léo.
- Tá bom.
Estava excluída de novo.
- Era só o que me faltava: Beethoven e Mozart juntos.
Todos nós rimos. Gabriel se levantou.
- Pessoal tá ficando meio tarde e eu preciso ir embora.
- Já?
- Na verdade, Gi, é melhor eu ir também.
- Tudo bem, me espera trocar de roupa e eu te levo.
- Se vocês quiserem eu posso levar o Léo, aí você não precisa ir e voltar, Gi.
- Não, imagina. É aqui pertinho.
- Gi, minha casa é caminho pra casa do Gabriel. Assim facilita
- Sim, bem mais fácil.
- Tudo bem então. Vocês que sabem.
- Então vamos.
Observei enquanto Gabriel estendia o braço pro Léo e os dois saíam em direção ao portão. Percebi que, apesar de não querer admitir, eu estava com ciúmes.

Hoje eu quero voltar sozinho Onde histórias criam vida. Descubra agora