Just The Way I'm Not

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Camila

"Ao levantar a cabeça, eu percebo que ele está bem ali, na minha frente. Em suas mãos segura uma caixinha preta de veludo e me encara com um sorriso, talvez o mais bonito que eu já havia visto. Todos a nossa volta me olham, com curiosidade e tensão, esperando pela minha resposta. Abro a boca para falar algo, mas nada sai, o nervosismo está me vencendo..."

- Última chance. Se você não levantar agora, eu vou pegar um balde de água fria - escuto uma voz familiar.

Com uma certa dificuldade, abro um pouco os olhos e tento me acostumar com a claridade. Ally chacoalha o meu braço e está praticamente encima de mim, o que me assusta um pouco. Olho para os lados, e percebo que dormi num colchão colocado no chão do quarto.
Claro, o pedido de namoro de Charlie tinha sido apenas mais um sonho como tantos outros que eu já havia tido. Coisas assim nunca vão acontecer na realidade, ainda mais agora que não estudamos mais juntos e raramente nos falamos. Ainda que Charlie more numa casa na mesma rua que eu e meus pais, eu não posso simplesmente fazer visitas pra ele sete vezes por semana. Minha mãe diria que não é correto uma garota e um garoto ficarem sozinhos, porque isso não obedece seus conceitos religiosos.
Porém, ele é um Miller. Uma das famílias mais ricas e bem sucedidas da região de Washington, devido ás joelheiras que eles têm espalhadas por todo o país. Charlie Miller é com certeza o garoto que meus pais desejariam que eu um dia namorasse e talvez me casasse, e eu faria isso sem reclamar. Não por causa do dinheiro, até porque eu e minha família temos isso de sobra, mas sim porque eu tenho uma queda por ele desde que estávamos na 9º série.

- Você quer ficar sonhando acordada ou levantar a bunda daí pra me ajudar a arrumar meu quarto? - Ally pergunta me tirando de meus devaneios.

Contra a minha vontade, eu acabo saindo de debaixo dos cobertores e o dobro para guardar no armário. De repente, lembro que é hoje que eu vou voltar pra casa depois de dois meses hospedada na casa da minha melhor amiga, já meus pais e minha irmã mais nova estão voltando da Europa, onde foram tirar férias do trabalho. Meu pai e minha mãe trabalham na mesma clínica, em Miami, onde são cirurgiões plásticos. Eu sei que parece estranho o fato de eles serem extremamente religiosos e ainda assim trabalharem com algo relacionado á ciência, mas eles continuam seguindo todas as "regras" e conceitos ditados pela Bíblia.

- Meu pai ligou pra cá? - pergunto ajeitando os travesseiros encima da cama dela.

- Ligou - ela responde - Não se anime muito, ele mandou você ir a pé até em casa, e acho que já estão te esperando.

- Você bem que podia ir comigo, né? - eu digo, olhando pra ela - Eles me disseram que vão trazer o filho do amigo do meu pai, que vai fazer estágio aqui em Miami. Deve ser um daqueles universitários metidos a besta.

- Eu tive que te aguentar as férias inteiras, e você ainda me pede pra passar mais um dia com você? - ela diz e eu faço cara de quem não estava achando graça - Além disso, seus pais querem matar a saudade de você, e esse garoto aí deve ser seu noivo arranjado - ela ironizou.

Ally vive fazendo piadas sobre o exagero no quesito religião que meus pais têm, ela não perde uma oportunidade de fazer um trocadilho ou uma indireta. Não a culpo, eu também acho sufocante algumas coisas que eles dizem e fazem, às vezes, mas tenho que me comportar como se aceitasse tudo aquilo e concordar com eles.

- Muito engraçado - rio falsamente - Coloque uma roupa que fique no mínimo quatro dedos acima do joelho e vamos.

- "Vamos"? Você está me achando com cara de pau mandado, Karla? - ela cruza os braços.

- Na verdade, sim, Allyson - respondo - Tenho certeza de que você ia ficar o dia inteiro trancada nesse quarto sem fazer porcaria nenhuma, então não custa nada você ir comigo tomar café da manhã com os meus pais.

Fire And GoldOnde histórias criam vida. Descubra agora