Umas horas antes, Luísa insistira em trazer sozinha o carro ao deslocar-se para a igreja onde iria ter lugar o concerto, procurando deixar a amiga livre para vir, depois, acompanhada de Daniel.

Com o nervosismo da sua atuação eminente, ao estacionar no parque que ainda possuía um número muito escasso de veículos, fez uma manobra de marcha à ré mal calculada e bateu no espelho lateral de um enorme automóvel preto, impecavelmente novo, danificando-o. O seu nervosismo aumentou, mas respirou fundo várias vezes e decidiu que se iria importar com o sucedido após o evento.

«Tinha de acertar no carro mais polido do parque, cuja lotação está só ainda em "cinco por cento"! Só eu! Bem... cada coisa a seu tempo!» comentou, troçando de si mesma para se acalmar.

Como não havia modo de saber a quem pertencia a viatura, teve o cuidado de deixar um papel, que rasgou da agenda, indicando o seu contacto de telemóvel e informando que fora a causadora do incidente.

No final da primeira parte do recital, aplausos firmes demonstraram a qualidade dos artistas, tendo, entretanto, Luísa se sentado junto da colega que iria atuar, à frente da orquestra que ainda tocou por mais alguns minutos.

Na segunda parte, entraria apenas a outra intérprete e no final haveria a intervenção das duas numa dupla, soprano e contralto.

Na segunda atuação, Romilheiro constatou que a cantora que lhe tinham indicado era realmente muito boa, corroborando a decisão de avançar com ela para a lançar.

No final do concerto muito ovacionado, João despediu-se dos novos amigos, depois de alguns minutos de amena conversa entre os três, porque tinha de viajar cedo para o estrangeiro no dia seguinte.

– Gostei muito deste teu amigo. É muito envolvente... isto é, ... de uma forma amigável – titubeou Beatriz para que Daniel não interpretasse mal.

– Eu sei. Eu conheço-o há pouco tempo, mas vi logo que era bom tipo. É agente artístico especializado na área musical. É muito versátil e entendido na matéria e muito bom profissional. Vai me lançar internacionalmente.

– Que bom, querido! – sorriu tocando-o na face de mansinho.

– Continua, que eu gosto... – o compositor sorriu-lhe terno.

Foram procurar Luísa para lhe dar os parabéns, a qual irradiava um contentamento desmesurado.

– Estava tão nervosa que até destruí o espelho do único carro que estava estacionado na zona onde pus o meu. – riu-se abanando a cabeça.

– Foste fantástica! Não foi Daniel?

– Muito boa voz! Parabéns!

– Obrigada, meus queridos!

Ajudaram-na a levar as flores para o carro e Luísa comentou:

– A vítima da minha aselhice já não está aqui.... Deixei um papel com o meu telemóvel... Ainda vai sair caro o meu nervosismo.

– Pode ser que o papel tenha voado – brincou Beatriz.

– Sinto-me culpada. Ainda por cima o carro era novo...

– Queres vir connosco tomar um copo? – sugeriu simpaticamente Daniel para a descontrair. Gostava dos modos francos de Luísa.

– Não obrigada, vão vocês. Eu quero descansar!

Despediram-se.

Enquanto Luísa dava um jeito nos dois ramos de flores que tinha pousado no banco traseiro, em cima do casaco que agora queria vestir por sentir frio, o telefone tocou. Era um número desconhecido. Atendeu:

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