Maria Eduarda continuava muito desagradada com a postura de Daniel.
Recentemente, ele não só rejeitara a possibilidade de se reverem, como não dava sinais de querer contato algum com ela. Os Red Velvet tinham-lhe encomendado mais duas músicas, quinze dias atrás, as quais ele prontamente lhas enviou, sem ter havido uma troca de impressões com a cantora, prévia às suas criações, como era comum no passado, sempre que compunha para o grupo.
O efeito do malefício que D. Fátima fora encarregada de elaborar, já devia estar a desempenhar o seu objetivo macabro, porém a cantora queria manter a discrição, não podendo por isso confirmar o facto ao espiar Beatriz.
Um pouco exasperada, congeminava formas de o saber pois ainda não tinha a certeza se funcionara. Uma vez que a namorada do compositor vivia isolada, seria fácil de se detetar a presença de emissários para averiguações e ela queria estar eficientemente oculta para poder ir manobrando a situação conforme lhe convinha. Por essa razão não pedira a D. Fátima para mandar espiar a vítima.
Chegou a casa perto da hora do almoço e encontrou a empregada ainda a ultimar as limpezas.
– Ermelinda! Preciso que me faça uma coisa.
Desconfiada, a mulher acercou-se, com expressão séria.
A patroa indicou-lhe um endereço e perguntou:
– Conhece esta zona?
– Sim. A minha filha mora muito perto.
– Se me fizer o que lhe vou pedir eu pago-lhe um dia completo.
– Para o que é?
– Precisava que fosse a esta morada ao fim da tarde. Arranje uma desculpa qualquer para andar por lá. Não quero que ninguém saiba que está a colher informações e muito menos para mim.
Feliz por ir ganhar alguns euros mais, sem grande esforço, e ainda tendo a possibilidade de visitar a sua família mais querida, anuiu de imediato, informando:
– Não vai ser difícil, porque a minha filha faz compras na Venda, a única de lá, e a dona, a Antonieta, sabe tudo o que se passa na vizinhança... O que quer saber?
– Diga-me se há alguma coisa de anormal com a rapariga que viu no outro dia no restaurante com o Sr. Daniel, e que vive lá numa casa geminada. É professora de música, de flauta mais precisamente.
– Anormal como?
– Doenças, acidentes e coisas assim...
– Não se preocupe. Logo, ao fim da tarde, já saberei alguma coisa.
– Telefone-me, mal saiba! Pode ir agora embora.
– Sim, senhora – aproveitou, ágil, Ermelinda, para sair uns quinze minutos antes da hora.
A meio da tarde já tinha notícias para dar à patroa, mas resolveu ficar duas horas mais, na boa cavaqueira com a filha e brincar com o neto, matando saudades.
Tinha sido fácil extrair a informação da comerciante. Bastou dizer que procurava casas por ali para trabalhar como mulher-a-dias e fazer alusão às duas casinhas geminadas, para a Antonieta desbobinar tudo o que sabia sobre as ocupantes.
Decidiu-se, por fim, fazer o contacto com a megera.
– Menina Maria Eduarda?
– Conte!
– A menina Beatriz anda muito adoentada e no outro dia ficou sem o carro, que avariou. Foi até o marido da Antonieta que lhe valeu, porque passou e viu-a na estrada parada. Foi quando ele reparou no aspeto dela ... assim ... pró desmaiado. Ele perguntou-lhe se se sentia bem e ela disse que estava a fazer análises, porque andava doente. Era isto que queria saber?
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DEIXA A TRISTEZA IR
RomansaQuatro profissionais ligados à música cruzam seus caminhos, descobrindo o amor e a amizade. Deparam-se com momentos mágicos, outros melancólicos e alguns de carácter insólito. Uma história que incentiva a imaginação, quer através da forma como as cr...