Após o concerto, Maria Eduarda despiu o vestido vermelho de veludo, na pequena sala de apoio aos artistas do Palácio, trocou-o por um vestido preto justo e um sobretudo da mesma cor, retocou os lábios carnudos, colocou as pulseiras, o colar e os brincos compridos vistosos e foi ter com os colegas, que a esperavam para irem festejar na elegante casa do patrocinador dos Red Velvet.
− O Daniel? – procurou saber.
− Não está aqui, mas eu vi-o na plateia. Na última fila – comentou o pianista.
− Vou ligar-lhe. – a cantora procurou o telemóvel dentro da bolsa e fez o contacto – Daniel?... Então? Estamos à tua espera, querido... Não? – afastou-se dos outros para ter mais privacidade – Fico muito chateada se não vieres.... Vem, por favor! Onde estás?... Então ainda estás perto! Vou ficar à tua espera. Só saio daqui contigo!... Vens?... Ah! Lindo! Até já!
Foi ter com os outros.
− Vão indo, que o Daniel já vem.
Os três músicos olharam uns para os outros com ar zombeteiro e saíram.
Daí a meia hora, o compositor apareceu com ar sério.
Maria Eduarda insinuou-se com a pose habitual de diva e meteu-lhe o braço, dizendo:
− Querido, estavas outra vez com as tuas distrações? – riu-se para o alto, atirando os cabelos para trás – Não podemos deixar escapar as pessoas que nos patrocinam, fofo!
Ele não respondeu, mas deixou que ela o conduzisse para fora do edifício.
− Que achaste da minha atuação desta noite? – perguntou ao entrar no carro dele - Estava inspirada. Foi uma das melhores!
− Tocaram bem.
− Só isso? Não ouviste a ovação?
− O público foi simpático.
− Sempre o mesmo! Não interessa. Na festa vou receber os elogios que mereço. – disse resoluta, baixando a pala do teto da viatura, à sua frente, para se apreciar no pequeno espelho sob o lusco-fusco dos candeeiros de rua.
Ao chegarem a um impecável portão gigante, cinzento, liso, lustroso, Daniel saiu do automóvel com o intuito de tocar à campainha. Duas câmaras de vigilância cobriam a entrada. Não chegou a fazer-se anunciar, as duas abas começaram a se afastar de imediato, abrindo caminho para que entrassem, obrigando-o a voltar lesto para a viatura.
Percorreram alguns metros até um espaço amplo coberto de brita branca no solo onde se encontrava mais de uma vintena de carros de marcas de topo.
Mal entraram na imponente casa, o anfitrião e a mulher acolheram-nos com entusiasmo, afirmando que tinham entre os convidados uma pessoa influente para lançar o grupo internacionalmente e ao qual queriam apresentá-los.
Maria Eduarda começou a fazer os seus requebros de conquistadora, mal chegou junto da pessoa-alvo, monopolizando a conversa como de costume.
Daniel ainda conseguiu trocar umas quantas palavras educadas com o tal João Romilheiro, pessoa de estatura mediana e porte distinto, com quem sentiu afinidade espontânea, mas viu-se obrigado a afastar-se, para não ficar maldisposto com a Diva que não baixava as exageradas armas persuasivas, dirigidas ao agente musical.
Logo que lhe foi oportuno, o compositor orientou-se para junto da mesa ricamente adornada e repleta de pratos convidativos para se entreter durante as longas horas que teria de ali estar. Não lhe interessava o convívio.

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DEIXA A TRISTEZA IR
RomanceQuatro profissionais ligados à música cruzam seus caminhos, descobrindo o amor e a amizade. Deparam-se com momentos mágicos, outros melancólicos e alguns de carácter insólito. Uma história que incentiva a imaginação, quer através da forma como as cr...