q u a t r o

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Cinza. Seu terno bem passado era cinza. Não qualquer cinza, cinza concreto. Do tipo forte. Um cinza que diz que é real, tangível, imutável. Um cinza firme, que transmite uma certeza inabalável, ela observou. Sua gravata branca emanava paz e confiança, uma pureza de escolha, onde as dúvidas foram caladas.

Não. Ele com certeza não era o que ela escolheria para sua filha. Por baixo da postura decidida, um homem indeciso, já trocara de profissão três vezes, de casa, então...

Ela sempre imaginou essa situação diferente, o homem no altar sendo loiro, aquele loiro melhor amigo de sua filha desde a infância, o menininho que chegava em sua casa correndo e perguntava sorrindo onde estava a amiga.

Mas aqui está, ao seu lado, sendo padrinho do casamento da melhor amiga. Já um homem feito, acompanhado da própria noiva. Talvez, ela tenha se precipitado, o loiro estava feliz.

A música aumentou em um toque forte e sua atenção voltou-se para o corredor. Pequena e enfeitando o caminho com flores, a daminha entrou, atrás dela pôde ver o vestido de renda delicada, o véu no cabelo arrumado... Sua filha estava linda.

Ela já a tinha visto no vestido antes, mas agora, enquanto atravessava a passarela espelhada, de braço dado com o pai... Era como a primeira vez. Focou em seu olhar brilhoso e o sorriso que se negava a sair de seu rosto.

Ela observou a troca de olhares dos noivos e não pôde evitar sorrir, as lágrimas fazendo seu caminho por seu próprio rosto. Ele não era quem ela escolheria, mas foi quem sua filha escolheu e ela só podia ficar feliz e desejar toda sorte e amor para os noivos.

Afinal, a felicidade de sua filha sempre será seu objetivo.




Página 73 – Lúcia da Graça Ferreira

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