Acorda filhos. Arruma filho menor. Se arruma. Faz café. Leva para colégio. Vai para trabalho.
Pega criança chorando. Ler história para todas. Separa briga. Leva no banheiro. Ajuda criança que caiu. Ensina no quadro negro. Coordena brincadeira. Resolve briga por brinquedo. Acalma todos. Coloca crianças para dormir. Organiza materiais. Entrega cada criança aos pais. Arruma sala. Se despede dos colegas.
Pega filhos. Deixa mais velho em casa. Faz almoço. Vai para Hospital de Cuidados Paliativos.
Cumprimenta todos. Deixa filho menor brincar. Vai para cozinha. Faz almoço. Serve pacientes. Almoça. Verifica pacientes. Conversa. Faz lanche da tarde. Serve lanche. Joga com pacientes. Faz jantar. Serve jantar. Pega filho menor. Se despede de todos.
A mesma rotina de todos os dias. Ela chega em casa e chama pelo filho mais velho. Se preocupa quando ele não responde e não está em casa. Verifica mensagens e ligações, nada. Isso estava acontecendo há algum tempo, ele não avisa, apenas sai.
Ela liga, duas vezes, caixa postal. Respirando fundo, os pés latejando, a cabeça doendo, ela coloca seu filho menor para dormir e volta para a sala. Liga, liga e liga mais uma vez, nada.
Suspirando, ela vai para a cozinha e prepara o jantar, enquanto liga para as mães dos amigos que conhecia, não sabem de nada, não veem ele há tempos. Claro, ela não conhece os novos amigos dele e se pergunta...
Desliga o fogão e escuta risadas do lado de fora. Logo a porta é aberta e ele entra, se despedindo de alguns amigos.
Sua cabeça ainda está latejando, ela ainda está cansada, mas sabe que precisa ser firme e põe uma postura repreensora, quando ele se vira.
Ao vê-la revira os olhos. Ela questiona onde estava e com quem, ele responde vago e indiferente. Ela reclama de suas saídas e ele levanta o tom e volta a jogar a mesma carta:
"Não é como se você pudesse saber sempre que saio, não para em casa!"
E todas as outras também já conhecidas:
"Você não se importa". "Lembrou que tem filho?". E muitas outras.
Então ele se tranca em seu quarto, batendo a porta... E ela fica lá.
Em alguns minutos, já podia se sentir chorar. Por dentro, destroçada, decepção consigo mesmo, culpa, arrependimento, confusão.
Ela se enrolou em sua cama, sofrendo escondida. Ouviu alguém abrir a porta e fechar, então sentiu alguém subindo na cama, limpou as lágrimas. Viu seu filho menor a abraçar e sorriu, chorando.
Página 55 – Ana Rafaella Bezerra Cavalcante
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Para Nós, as Páginas que Faltavam
Kısa HikayeTodos já tivemos esse livro, uns apaixonaram-se desde a dedicatória e agarram-se à ele, outros o deixaram de lado frustrados ao não compreender a escrita do autor, alguns o perderam antes mesmo de ler a primeira página, também têm aqueles que leram...