Enquanto isso, no Palácio da Guanabara:
— Mas... senhor governador... convenhamos: essa sua proposta será extremamente impopular.— Mas já aplaudiram meus snipers antes.
— Sim, mas contra os bandidos armados, não contra o povo na rua durante a quarentena.
— Ora, sacrificaremos alguns em benefício da grande maioria.
— E se utilizássemos dardos tranqüilizantes em vez de projéteis de chumbo?
— Boa! O que acha, senhor governador?
— Humm. Pensando bem, tem razão. Não posso me dar o luxo de perder algum provável eleitor.
— Feito então?
— Sim, pode mandar bala... digo, dardos.
— Positivo, senhor. Vou repassar a ordem agora mesmo. Ninguém mais vai se aglomerar na rua impunemente.
Duas horas mais tarde, ao sair do palácio, o governador é cercado pela imprensa.
— Governador! Uma palavrinha!
— A quarentena continua, governador?
Ele se apruma, transpirando solene dignidade:
— Em breve daremos notícias sobre nossas últimas...
Porém, antes que consiga concluir sua fala, cai ao chão, inconsciente. A imprensa se alvoroça. No dia seguinte, a mesma manchete figura em todos os jornais:
"Bolsonarista desconhecido, provável caçador, alveja a bunda do governador com dardo tranqüilizante."
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Crônicas da Quarentena
HumorNarrativas bem-humoradas que, em meio à pandemia do coronavírus, acompanham o cotidiano dos quarentenados. (Capa: Felipe Techio.)