O bobo ou O poder nos tempos do coronga

251 10 0
                                    

Enquanto isso, no Palácio dos Bandeirantes:

— Vamos! Quero mais idéias.

— E se a gente exigisse de todos os cidadãos infectados, e também dos que vivem com eles na mesma casa, que usassem no pescoço um daqueles sinos que colocam nas vacas?

— Humm. Sinetas... Ótimo, ótimo. Gostei. Quem ouvisse o som, sairia de perto da pessoa e não se contagiaria.

— Mas, senhor governador... não pensarão que é alguma referência aos eleitores do Bolsonaro?

— Verdade. Não tinha pensado nisso. Melhor não irritá-los. Essa gente tem uma lealdade de cão.

— E o senhor tem uma deslealdade de cadela!

— Você ainda está aqui? Eu já não disse que não quero um Bobo da Corte na minha sala?

— Agora é tarde, governador. Ele passou no concurso pra Bobo. Não é cargo comissionado.

— Que saco... Enfim, alguém tem mais alguma idéia?

— E se a gente obrigasse os doentes a usar um emblema qualquer na roupa, aqui, na altura do peito? Sei lá... um com a forma do coronavírus. E em amarelo, para ficar bem visível.

— Excelente! Maravilhosa idéia. Sem o barulho da sineta... não incomodaria ninguém. Uma solução limpa. Acho que podemos implementar isso.

— Mas, se a doença se espalhar muito, meu querido rei, não seria melhor colocar toda essa gente com emblema amarelo no trem que sai da Estação da Luz e levá-la para as ruínas da Fábrica Matarazzo?

— Não é uma proposta ruim, Bobo. Até que você é esperto. Poderíamos criar um hospital de campanha naquele espaço.

— E aí fecharíamos todos por lá, atrás de muros. Daria até para aproveitar as chaminés e...

— Hu-hum. Senhor governador, ele esta aludindo a um campo de concentração. Na verdade, a um de extermínio...

— Seu cretino! Alguém tire esse Bobo daqui!

— Eu sou Bobo mas sou concursado e feliz, mais Bobo é quem me diz!

Crônicas da QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora