🔱 Capítulo 25

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ELIAS ( parte 2)

ELIAS ( parte 2) 

...Não se detenha se as lágrimas rolarem

E as batidas do seu coração acelerar

É Ele mexendo no secreto da gente

O lugar que ninguém conhece

Mas Ele viu, e sabe curar

Ele viu, e sabe o remédio pra curar toda ferida...

Enquanto tentava dormir ouvi essa canção pelo rádio. Estava desesperado para que meus olhos pesassem, por isso o liguei. Costumava ligá- lo para conseguir dormir em meio às noites de pesadelos. Naquela noite em especial não foram os pesadelos que me tiraram o sono, foram as palavras daquela moça da biblioteca. Naquele momento eu até não entendia ou até mesmo ignorava, mas essa minha dureza não se prolongou, pois algo queimava em meu ser e esse algo precisava ser liberado. Em um salto coloquei me de pé e dobrei meus joelhos, comecei a falar com Deus: 

- Eu nunca fiz isso antes- comecei sem jeito- mas confesso que estou aliviado por contar com alguém. Me disseram que o senhor se chama Jesus e que me ajudaria. Por favor, Jesus me ajude a entender o que está acontecendo comigo. Aqui dentro uma onda de sentimentos está me atingindo, parece ser a chamada esperança. Eu sofri tanto Jesus, e ter um sentimento desses nascendo em mim é atemorizante. Eu tenho medo de te amar, pois quem mais amei me magoou profundamente. Parece excêntrico, mas algo me diz que eu posso confiar no senhor, eu posso te amar. Eu me coloco hoje em suas mãos e peço que por favor me ajude. Já não estou aguentando...

Já não conseguia mais pronunciar nem uma palavra, meu coração estava pronto. Pronto para chorar, pronto para desabafar, pois sabia que daquela vez eu estava sendo consolado.

Mateus 5:4

Bem aventurado os que choram, porque eles serão consolados. 

Em toda minha vida nunca me senti assim, tão leve. As lágrimas banharam meu rosto e os soluços se tornaram intensos. Quando pensei em cair por causa da dor senti algo me sustentando, e mesmo de joelhos no chão algo me amparou para que não caísse no pó. Depois de 10 minutos senti um alívio avassalador me preencher. Fiquei plácido por mais alguns segundos até ser levado à minha cama. Adormeci todas as noites, essa noite porém eu estava me sentindo abraçado e aliviado. Hoje eu sei que foi assim porque o amor de cristo tinha me alcançado. 

Mais um dia de vida, mas não era como os dias anteriores,dias sem vida. Eu estava dando espaço para Jesus, decidi dar espaço para ele. Aos poucos os resquícios do medo estavam sendo quebrados. Em contraposição a isso meu pai estava mais agressivo e frequentemente me batia ou me xingava ofensivamente. Estava pior que antes, já estava ficando aflito. Mas em nenhum momento esperava o mau para o meu pai, ao contrário queria que ele mudasse. As coisas nem sempre acontecem segundo o nosso querer, mas há certas coisas que caem como uma bomba em nossas vidas. Em 12 de junho de 2000 fui à procura de meu pai, mais um dia. Porém desta vez uma dor aguda insistia em me atormentar. A cada esquina era um ponto a menos para a esperança. Andei por longas horas, mas sempre marcando o caminho de volta. Eu já não tinha mais esperança até que uma cena me chamou a atenção: um aglomerado de pessoas rodeava algo. Chegando mais perto vi o que acontecia ali, um homem estava deitado no chão, aparentemente desacordado. Como um balde de água fria senti a dor do desespero me atingir: era meu pai. Corri cambaleando até ele e minha perna mal me sustentava em pé, então me ajoelhei. Chorei compulsivamente, "eu não podia perder meu pai " repetia várias vezes. Nem notei que a ambulância chegasse para socorrê- lo, só queria que ele voltasse, nem que fosse para me bater. Chegando no hospital o médico constatou que meu pai teve um traumatismo craniano e que a situação era grave. Meu desperto aumentou, então busquei força no único que podia me sustentar: Jesus. Pedi a ele que fizesse o melhor para o meu pai e sabia que ele o faria. 

Em 18 de junho de 2000 meu pai veio a óbito. Ao longo de cinco dias ele ficou em coma, mas no sexto milagrosamente ele despertou. Entrei em seu quarto e fiquei o observando, de repente ele abriu os olhos e me encarou " per...per...perdão " essa foi a única palavra antes da linha tênue da vida e da morte se fechar por completo na morte. Estava muito cansado e por um momento senti aquela dor, deixei-me esvaziar e pronunciei por fim:" Eu te perdoo pai, vai com Deus ". 

Foi difícil me acostumar aquela nova rotina, mas eu precisava ser forte. A todo momento o medo de ser levado pelo juizado de menores era recorrente, afinal um menino de 13 anos seria um prato cheio para eles. Era desmotivante a minha situação, precisava de ajuda e Deus seria o meu refúgio. Em um ato de plena rendição deixei Jesus me guiar para um lugar conhecido, mas nunca frequentado: a igreja. Era uma igrejinha simples, mas que me trouxe muita esperança. Mesmo estando do lado de fora pude ouvir com cuidado cada palavra:" Não te deixarei e nem te abandonarei" essas mesmas palavras estavam sendo pronunciadas por uma voz conhecida: era a moça da biblioteca, alegrei-me de imediato. Sentei ali mesmo na calçada, pois tinha receio de entrar. A presença de Deus preenche totalmente o meu coração e se havia algum resquício de medo em mim, ele fora desmantelado naquele momento. Ainda sentado senti alguém se aproximar, era ela. Veio me amparar. Contei à moça da biblioteca sobre a morte trágica de meu pai, vi o lamento em seu rosto, mas quando contei da experiência a pouco ela se alegrou e me abraçou. Aquele abraço me fortaleceu de uma forma maravilhosa. Senti que estava seguro ali, com aquele povo humilde. Eu estava decidido, iria aceitar Jesus e foi o que fiz aceitei a ele como único e suficiente salvador da minha alma. Sabia que não iria me arrepender independentemente do que aconteceria, Deus estaria comigo. 


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