Dante franziu a testa, fazendo com que suas sobrancelhas se aproximem e algumas linhas se formam entre elas.
-Seja o que for, mesmo que eu quisesse falar com ela, seria em vão. Ela não iria me ouvir e diria que não me conhece. Qualquer coisa que queira me dizer, não acho que vai mudar algo. Eu realmente gostaria de ser amigo dela, mas para isso acontecer, ela precisaria querer também , não acha?
Por mais que as palavras do menino a entristecesse, ela não podia negar. Sabia que ao mesmo tempo em que aquilo era mentira, não deixava de ser verdade. Então trancou a porta, garantindo que Esther nem notara sua ausência.
- Ela não se lembra de você, né? – Alana começa, aproximando-se do garoto.
-Sendo sincero, eu não sei. Mesmo que nos conheçamos há pouco tempo, eu me lembro dela. Por que ela não se recordaria de mim? Às vezes parece que ela só finge não se lembrar de mim. – Ele responde cabisbaixo.
-Sinto lhe dizer que ela não finge. Há alguns anos atrás, o pai dela sofreu um acidente. Eu queria visitar meu marido no hospital, pois tinha esperança de que ele sairia vivo e assim eu fiz. Visitava-o todos os dias. Uma vez, eu decidi levar a Esther comigo, já que ela sentia muita falta do pai. – A mãe explicou.
-E deu tudo certo? – perguntou Dante.
-Eu escolhi o pior dia para leva-la. Nós duas estávamos sentadas na cama, segurando a mão dele, esperando pacientemente que ele acordasse. Como era muito cedo, decidi sair por alguns instantes para pegar um copo de café. Na cafeteria foi onde tudo começou a dar errado. – Alana dizia, enquanto seu olhar encheu-se de água à medida que se lembrava dos acontecimentos.
Dante percebeu que ela não estava bem e segurou suas mãos, levando-a para perto da escadaria na frente da porta da casa, insinuando que se sentasse para se acalmar e assim, poder contar melhor.
- Corri para a sala onde minha família estava e eu via Esther balançando meu marido para que ele acordasse. Olhei para o monitor cardíaco e só havia uma linha reta contínua. Os médicos chegaram em seguida mas nada. Ele havia partido. – Ela finaliza.
- Nossa... –Ele disse surpreso. – Esther deve ter ficado arrasada.
-Foi pior do que isso. O evento deixou marcas talvez incuráveis nela. No dia seguinte, ela acordou muito mal. Nem sequer sorriu. Eu não desconfiei de nada, até porque era recente, ela tinha toda a razão de ficar assim. Eu também estava. Mas, os dias foram passando e nada mudava. Alguns meses se passaram e eu fui conversar com ela e perguntar se estava tudo bem. Minha filha respondeu que era incompreensível eu perguntar se ela estava bem e até mesmo não chorar o dia todo pelo o que houvera acontecido no dia anterior.
Dante não conseguiu esconder o olhar de confuso em seu rosto e Alana percebeu.
- Eu levei ela ao médico no dia seguinte e depois de vários exames, descobrimos que era algo novo. Ninguém houvera visto isso antes, mas aparentemente o cérebro dela se prendeu à aquele acontecimento e por isso, ela se esquece dos dias que vive atualmente. – Ela explicou.
-E a Esther? O que aconteceu? – Dante questionou.
-Os médicos indicaram alguns remédios. Eles avisaram que não iria curá-la, mas amenizaria a situação. Eu também a tirei da escola e ela estudava em casa, mesmo que não adiantasse.- Alana finalizou.
Dante por alguns minutos ficou paralisado. Ainda não conseguia entender aquilo.
"Então ela não vai se lembrar de mim" - Ele pensou.
-Ela nunca vai se lembrar de mim! – Ele disse em alto e bom som.-Não diga isso. -Alana interrompeu. -O futuro é incerto e vocês são jovens. Infelizmente ninguém é perfeito mas a amizade que vocês estão criando... Vai mesmo acabar com ela por causa disso?
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Além do Tempo
RomanceA vida pode pregar muitas peças e, as vezes, pode te instruir à desistir do amor. Mas quando é para acontecer, nem o tempo pode abalar.