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Dante acorda logo depois que o sino do relógio soa. Aflito, o menino corre até sua janela para ver se teve resposta. Debalde.

Decepcionado, ele sai de seu quarto e move-se até a cozinha para tomar seu café.

Enquanto isso, Esther acaba de tomar seu café e volta para seu quarto, onde encontra a carta. Ela abre e não entende de quem é, ou como aquela carta chegou lá. Então prefere não responder e guarda em uma caixa que estava em cima de seu guarda-roupa.

À tarde, depois de estudar em casa mesmo, Esther decidiu dar uma caminhada para relaxar um pouco. Assim que saiu, viu Dante trancando a porta de sua casa.

-Ei, espera! – Ele gritou, assim que a viu.

Ela olha para ele sem entender o motivo de estar chamando-a e permanece no mesmo lugar, esperando ele se aproximar o suficiente para falar o que quer.

-Por que não respondeu minha carta? - Pergunta, apoiando-se no muro da casa de Esther, retomando o ar que perdeu enquanto corria na direção da nova vizinha.

-Então foi você quem mandou a carta?

-Quem mais seria?

-Por que quer que eu saiba seu nome? Nunca te vi antes. E eu não iria responder um estranho. Na verdade nem sabia pra quem entregar a resposta. - Ela replica, dando as costas para caminhar em outra direção.

Dante rapidamente inspira uma última vez antes de andar atrás dela.

-Eu sou o menino que você viu na janela ontem à noite!

Esther para de andar e olha para frente, como se estivesse tentando se lembrar.

-Perdão, mas eu não me lembro de nada disso. Ontem eu estava no hospital, só voltei para a minha casa de madrugada.

"De madrugada? Mas eu jurava que era ela ontem na janela" - Dante pensou.

-Bom, então eu sou seu novo vizinho! Você já sabe meu nome porque... bem... ta na carta que você provavelmente jogou fora. E o seu nome é? -pergunta, meio decepcionado com o fato dela não se lembrar dele.

-Primeiramente, oi e sim, estou bem. Obrigada por perguntar. Em segundo lugar, eu não joguei a carta fora. Eu a guardei em uma caixa em cima do meu armário e me chamo Esther.

-Você é sempre tão rude assim?

-Não é que eu seja rude, mas você é um estranho. E não deveremos falar com estranhos né?

Dante ia responder, mas percebe que ela tinha razão, então só continuou andando.

Algum tempo depois, enquanto iam para casa, passaram pela ponte perto do Big Ben.

-Sabe... É minha primeira vez aqui. Sempre ouvir falar desse relógio, mas nunca vi pessoalmente. É lindo! - Dante diz, admirado.

Esther também olha para o relógio e sorri, concordando com a afirmação do menino.

-Bom, chegamos! - Ele diz quando param em frente à casa de Esther.

-Sim. Até que sua companhia foi legal.  Até amanhã. - Ela diz, dando um sorriso. Era a primeira vez que Dante viu a expressão de felicidade no rosto dela, onde diminuía o tamanho dos lindos olhos castanhos daquela menina.

-Boa noite- Ele respondeu, enquanto via sua nova vizinha abrindo a porta de sua casa e sumindo de seu campo de visão.

Dante voltou para casa sorridente, como se houvera passado em uma prova muito importante.

Na casa de Esther, Alana estava sentada no sofá, vendo TV e esperando pacientemente pela volta de sua filha.

-Quem era ele, filha? - pergunta Alana, expressando já entender o que está acontecendo.

-Era nosso novo vizinho. Caminhei com ele hoje.

-Amigo, hein?

-Ah mãe, já deu! Vou para o meu quarto. Boa noite. - diz a menina enquanto se direciona para a porta de seu quarto, fechando em seguida.

"Só espero que ele perceba e entenda o que está acontecendo. Ela não tem culpa de nada." - Alana diz para si mesma em sua mente.

Um novo dia começava e mais uma vez, Dante acordava disposto a se aproximar de sua nova vizinha. Por outro lado, ao acordar, Esther nem se importara em demonstrar um pouco de alegria sobre ver seu novo amigo ou ao se lembrar do dia anterior. Como todos os outros dias, Alana vai até o quarto de Esther, onde a chama para a primeira refeição do dia.

Assim que se sentam à mesa, o questionário se inicia, com as mesmas perguntas de todos os dias, exceto que dessa vez, a mãe da menina se arriscou em perguntar sobre o dia anterior.

- Eu não gostaria de me lembrar sobre ontem. – Esther responde – É doloroso ouvir o som da máquina do hospital ecoar em meus ouvidos, com uma linha contínua passando ao visor da pequena tv que ficava ao lado da cama, onde o corpo do meu pai se encontrava, imóvel.

Alana abaixa a cabeça e com uma expressão magoada, torna a tomar seu café e o silêncio toma conta daquela casa.

Enquanto isso, a casa azul já acordava em festa. A mãe de Dante houvera preparado um delicioso prato de panquecas com a doce calda de mel por cima. Seu pai colocava a música em alto volume, embora fosse ciente do horário. Dante chegara à cozinha sorrindo de orelha à orelha. Seus pais, mesmo sem entender tamanha alegria, apenas sorriem junto e assim, eles vivenciam um prazeroso café da manhã em família.

O período da tarde finalmente chega e confiante, o menino vai até a porta da casa ao lado e toca a campainha. Uns minutos se passaram e ele estava quase desistindo, quando escuta o barulho da chave abrindo a fechadura. A porta se abre e ele pode ver a menina, com seus cabelos castanhos, vestindo um lindo vestido amarelo.

Enquanto ele a olhava de cima a baixo, Esther permanecia parada, com uma expressão onde aparentemente, esperava que ele houvesse algo a dizer.

- Nossa... É... Oi! – Ele disse ao perceber que gaguejou por tempo suficiente para se constranger.

-Oi?

-Bom... Eu estava entediado em casa e pensei que talvez fosse uma boa ideia repetir nossa caminhada de ontem. O que acha?

-Creio que você se confundiu. – Esther responde. – Não caminhei com ninguém ontem, muito menos com alguém que eu nem conheço.

-Para de brincadeira, Esther. – Dante diz, esperançoso que aquilo não fosse sério.

-Desculpa... Como sabe meu nome?

- Você me contou ontem, e eu te contei o meu, Dante, não lembra?

- Não, não me lembro. Nem sequer me recordo de seu rosto. Acho que deveria ir embora. Tchau – A menina diz, fechando a porta.

Dante pôde ouvir o som do sapato de Esther ecoando no chão, cada vez mais longe. Ele ficou um tempo esperando que ela admitisse que fosse uma brincadeira, ou se lembrasse dele, mas nada. Quando se cansou de esperar e virou as costas, escutou a porta novamente se abrindo.

Com o olhar por cima do ombro, ele viu uma mulher, muito parecida com Esther, porém com traços mais maduros. Ele se virou, e assim que abriu a boca, preparando-se para dizer algo, a mulher o interrompeu.

-Escuta, a Esther não pode saber que eu vim falar contigo, e muito menos o assunto.  É muito sério e eu preciso acreditar que não contará nada para ela.

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