Permaneci estagnado e sozinho na mesa daquele restaurante, o qual eu nunca havia entrado antes. Nem sequer teria pedido, quando o garçom se aproximou com a conta. Eu o olhei incrédulo e ele me explicou que a moça que sentou comigo teria pedido pra ele entregar para mim. Arqueei a sobrancelha pegando bruscamente o papel de sua mão. Suspirei fundo e entreguei meu cartão de débito para ele, sem contestar algo a mais. Após isso, levantei-me e fui caminhando, cerrando os dentes de raiva, fui praticamente atacado verbalmente e assaltado! Como aquela mulher poderia agir assim comigo? Nunca fiz mal algum a mulher nenhuma, e a ela, muito pelo contrário, por um instante tive grande interesse em ajudá-la a conseguir uma proposta ótima, ela não teria nada a perder, eu por outro lado teria muito, e mesmo assim aceitei esse risco. Bufei de raiva indo em direção ao meu carro na esquina do restaurante.
Meu celular vibra, é Vando na chamada. "Oi chefe", respondi cabisbaixo.
"Bill, você conseguiu falar com a brasileira? Sua secretária me enviou uma lista dos trabalhos que ela produziu, fiquei muito impressionado eu diria, até quando não parece, você tem razão, você sempre tem não é?" ele disse rindo ao final de sua frase.
"Ela fez o quê?"
"A Wendy! Me enviou uma lista, você não pediu a ela? Bom, essa garota trabalha pra editora Records, é a editora que mais produz best-sallers, e ter meu nome vinculado a essa editora me traria muitos leitores, eu to bem animado, não achei que poderia confiar nela, mas acho que julguei precipitadamente, todos merecem uma chance não é mesmo? Traga-a aqui para nos reunirmos."
"Vando, hmm...ouve um imprevisto nesse almoço" eu disse parando em frente ao meu carro.
"Que imprevisto?"
Suspirei profundamente antes de falar "A Gabriela...." Parei de falar assim que a vi encostada de braços cruzados no meu carro. "Está bem aqui comigo, agora. Eu irei comentar sobre essa reunião com ela e depois te retorno, pode ser?"
"Ótimo! Até mais" Vando desliga.
A olhei confuso por um instante e ela se aproximou. -Como você sabia que esse era o meu carro?- perguntei.
-Bom, temos dois conversíveis, e esse Dodge Charger, então meio que por exclusão ficou fácil de adivinhar qual seria o seu.
Eu assenti deixando escapar um sorriso.
-Isso e porque eu reconheci sua pasta, que passou uma noite inteira na minha casa.- Ela disse apontando para minha pasta em cima do banco do carona.
-Ah é claro..- ficamos em silêncio. - O que ta fazendo aqui?- Disse dando de ombros -Achei que nunca mais te veria depois do que aconteceu lá no restaurante.
Ela suspirou e torceu a boca antes de falar -Eu não gosto de como você age, às vezes, você é uma pessoa muito arrogante. - disse com um tom triste na voz. - Mas acho que sinceramente, esse projeto pode me ajudar com uma coisa.
-Que coisa?
-Podemos entrar?- ela apontou para o carro, eu o destravei e abri a porta para que ela entrasse, entrando logo após. Sentamos e ela começou a explicar.
-Eu estou prestes a assinar um contrato que vai me fazer concorrer o prêmio da Pulitzer, junto com o livro de Stanley Kubrick.
-Stanley Kubrick? O de Laranja Mecânica?- disse surpreso.
-Sim, não serei apenas eu, é claro, serei assistida pela equipe da direção da editora e pelos agentes dele, mas seria de fato uma produção minha, a primeira de fato como escritora. - ela suspirou mais uma vez- Mas... Eu sei que não vou receber esses créditos de verdade, meu chefe quer me fazer assinar um contrato que diminui o meu percentual de lucro, e que permita que meu nome não seja publicado junto ao livro, sendo vinculado unicamente ao nome de todos que participarem da equipe editorial do livro e só se formos indicados ao prêmio.
-Mas que merda.
-Por um lado, se eu ganhar, ainda terei meu nome vinculado ao prêmio e tenho certeza que isso vai me ajudar na minha carreira como escritora, só não é como deveria ser, e vai demorar um pouco pra isso acontecer.
Eu assenti para que ela dissesse o que estava pensando.
-E quando eu saí morrendo de raiva daquele restaurante por você dizer que poderia chamar qualquer pessoa para fazer a biografia de Vando Camperbell, eu só conseguia pensar que você poderia chamar sim qualquer pessoa, mas não uma que poderia fazer com que Vando Camperbell conseguisse ser indicado ao prêmio Pulitzer- ela disse falando pausadamente.
-Você tá dizendo que...
-O livro do seu chefe pode ser muito melhor do que ele pensa. Não precisa ser um livro coach, ou só sobre dicas, poderia ser bem maior do que isso, e ser indicado a esse prêmio... seria muito acima do que vocês estão esperando.
-Isso é incrível!- Eu disse olhando para ela. -Mas... como você pode garantir que vai conseguir ser indicada?
-A editora na qual eu trabalho é uma das melhores de Nova York, ele teria uma equipe inteira para trabalhar nesse projeto, com a oferta certa, eu poderia ajudar vocês com isso.
-E você ganharia o quê?
-Meu nome na capa. - ela disse mordendo os lábios. -Só isso.
-É uma ótima proposta, e pra falar a verdade, meu chefe já está interessado nos seus projetos desde que chegou a Manhattan.
-Ele está?
-Na verdade, ele quer fazer uma reunião para saber o que você acha de trabalhar conosco, e conhecendo bem aquele homem, ele vai adorar essa ideia. Você só precisa garantir que terá o apoio da sua editora pra isso.
-Eu com certeza vou conseguir, a ascensão de empresários multimilionários é uma temática muito chamativa, mas eu preciso que ele queira de fato oferecer uma contraproposta a de Stanley, para que eu posso cobrir esse projeto, sem precisar assinar um contrato que me deixe de fora dos créditos da obra.
-Bom, podemos tentar. - eu disse e ela pulou para cima de mim me dando um abraço. -Ei! - disse a afastando. -Se você quer que isso dê certo, não pode deixar seus sentimentos entrarem no jogo.
-Sentimentos? Você se acha demais!- ela disse soltando uma gargalhada esganiçada, fazendo o meu ouvido doer.
-Está tudo bem trabalharmos juntos?- ela disse de forma sugestiva empinando seu busto para frente. Eu o olhei rapidamente e disfarcei logo em seguida, balançando a cabeça imaginando a loucura que seria trabalhar com uma mulher maluca imprevisível daquela.
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Se puder não se apaixone
RomanceBill Wesher é um homem chegando à meia-idade cuja vida é marcada pela monotonia e previsibilidade. Tudo muda quando conhece uma jovem brasileira de 22 anos, que entra em sua vida de forma avassaladora. Emotiva, escandalosa e intrometida, ela é o opo...