Capítulo 6- O passado

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Eu estava fora da sala agora, enquanto Gabriela conversava com Martin Wellman e Vando, eles haviam começado a discutir sobre sua ideia quando Mary me ligou, minha ex-mulher. Fazia uns cincos anos que não conversávamos mais. Estranhei o contato repentino. Olhei a tela do celular por uns instantes e decidi atender dentro da minha sala.

-Alô?- eu disse.

-Bill? É Mary.

-Eu sei, tá tudo bem?

-Está.. - ela disse dando uma pausa longa. -Na verdade, minha mãe morreu, Bill. Ela teve um ataque cardíaco e nos pegou de surpresa.

-Oh, meus pêsames Mary, eu realmente sinto muito.

-Bem... hoje acontecerá o enterro dela, e... Eu sei o quanto vocês tiveram uma ligação por tantos anos, achei que gostaria de participar.- ela disse com a voz embargada, talvez estivesse segurando o choro. A mãe de Mary foi como uma mãe pra mim durante todo o nosso relacionamento, até quando nos divorciamos mantemos um pouco o contato, e aquela notícia com certeza foi como uma pontada no meu coração.

-É claro, será uma honra. - eu disse.

-Mandarei o endereço por mensagem, tudo bem? O enterro acontecerá às 16h.

-Ok. - olhei no relógio e faltavam algumas poucas horas para o enterro. Peguei meu blazer e minha chave e avisei para minha secretária que teria que sair mais cedo, por conta de um imprevisto familiar.

Andei pela cidade em busca de uma floricultura para comprar o melhor buquê que eu encontrasse, já que eu não pude oferecer nada à ela antes de sua partida, então o mínimo seria um buquê bem bonito.

Pensei em todas as pessoas que iria rever, depois de tantos anos. Não tive mais notícias da família de Mary, muito menos eles tiveram notícias minhas, muita coisa coisa mudou nesses últimos cinco anos. Depois de um tempo, encontrei o buquê perfeito e dirigi em direção ao enterro de Jackelynn.

Estacionei mais perto que pude, e de longe enxerguei Mary de costas falando com seus familiares, de repente, ela vira para minha direção revelando uma gravidez avançada. A cena me estatela, fazendo- me automaticamente voltar para o último dia que eu a vi.





Cinco anos antes.

-Então é isso. Ela disse depois de assinar o seu nome no fim do papel. -Finalmente divorciados.

-Finalmente- disse baixo encarado o papel em suas mãos. Por um instante, bateu-me uma forte vontade de levantar e rasgar tudo, não podíamos jogar 8 anos da nossa história só com alguns papéis.

-Vocês querem um momento à sós? - Sua advogada nos pergunta. Ela olha pra mim e eu confirmo com a cabeça. A advogada levanta e se retira da sala.

-Como você está? - ela quebra o silêncio depois de um tempo.

-Reticente. - Respondi. -Desde o princípio acreditei que conseguiríamos resolver tudo, e que não precisaríamos ir tão longe.

-Já resolvemos, Bill. Não há mais o que fazer.

-Você me amou por quanto tempo? – perguntei sentindo uma forte dor na minha garganta.

-Isso não é justo, não é só sobre amar ou não você, mas...- ela parou e fitou a janela por um tempo. – Nosso casamento não fazia mais sentido.

-Pra mim fazia- sussurrei apanhando minha pasta do chão, permaneci de costas pra ela, quando me despedi e finalmente saí da sala. A cada passo que eu dei depois daquele dia, me "despreencheu" até que eu sentisse um completo vazio em tudo o que fazia; Dirigir, chegar em casa, ir trabalhar, dormir. Passei dias assistindo todos os programas favoritos dela pra de alguma forma sentir que ela estaria ali comigo novamente.

Quando nos apaixonamos intensamente por alguém, nunca imaginamos que algo tão vazio e tão arrebatador como o tempo possa separar você da pessoa que ama. Eu já não era mais o mesmo homem com quem ela namorou durante a faculdade, não fui quem ela achou que eu seria depois do casamento, e me culpar por tudo isso era inevitável.

Todas as brigas que tivemos, todas as vezes que ela foi dormir sozinha e eu preferi sair de casa para não ter que lidar com isso, me trouxe a dura realidade de ter que conviver comigo mesmo. Sair com outras mulheres era pior do que permanecer sozinho, e ver meus colegas de trabalho se policiando entre comentários quando eu chegava perto, porque minha cara cansada evidenciava minha solidão. Eu fui infeliz com ela, porque não soube lidar com todas as suas diferenças, e fui ainda mais quando ela partiu. E eu prometi a mim mesmo, que nunca mais me apaixonaria novamente.








-Bill?- ela disse batendo na janela do meu carro. Balancei a cabeça afastando aquela forte lembrança.

-O-oi.- tirei o cinto de segurança e saí do carro para poder cumprimentá-la. -Como você está?- perguntei a abraçando sem jeito, e a entregando as flores.

-Ah, obrigada, são lindas. Estou tentando me acostumar com a ideia de que ela não conhecerá sua avó- ela disse acariciando sua barriga.

-Oh, meus parabéns, antes de tudo.- Eu disse encarando sua barriga, sem saber o que dizer. -Eu sinto muito por sua perda, Jackelynn foi uma grande mulher, e tenho certeza que seria uma avó perfeita.- ela confirmou com a cabeça dando um pequeno sorriso.

-Você não mudou nada- ela disse ainda sorrindo.

-Obrigada, você está ótima- eu disse a fazendo sorrir ainda mais.

Um homem alto de cabelos grisalhos se aproximou de nós.

-Esse aqui é Fred, meu marido. - Mary disse, e ele levantou sua mão para eu cumprimentar.

-É um prazer, Fred. Eu sou...-

-Bill Wesher- ele disse. -Eu sei, Mary já me falou de você, bom, é um prazer conhecê-lo pessoalmente- ele disse com um tom cordial. Eu sorri amigavelmente balançando a cabeça. Nos aproximamos dos restantes dos convidados, quando a celebração começou.

Maryanne se aproximou das flores do microfone e começou a fazer seu discurso.

"Caros amigos e familiares,

Hoje nos reunimos para homenagear e despedir-nos de Jackelynn, uma alma adorada que partiu cedo demais. Jackelynn era mais do que uma presença em nossas vidas, ela era a luz que iluminava nossos dias mais sombrios.

Sua bondade e generosidade tocaram incontáveis corações, sua alegria era contagiante e seu amor incondicional irradiava calor a todos que a cercavam. Em cada gesto, em cada palavra, ela transmitia uma sabedoria e compaixão que poucos possuem.

Embora sua ausência nos deixe mergulhados em tristeza e saudade, devemos nos lembrar do legado que Jackelynn deixou para trás. Seus sorrisos que permanecem gravados em nossa memória, suas palavras de conforto que ecoam em nossos corações, seu espírito que agora habita em nossa gratidão.

Que a luz que Jackelynn trouxe para este mundo continue a brilhar em cada um de nós. Que possamos honrar sua memória vivendo com a mesma bondade, generosidade e amor que ela nos ensinou. Que seu espírito encontre paz e seu sorriso eternize em nossas lembranças.

Descanse em paz, mamãe. Sua presença será eternamente sentida e sua falta será profundamente lamentada. Que a suavidade dos seus gestos e a ternura do seu ser permaneçam em nossos corações para sempre.

Você sempre será lembrada com amor e saudades."

Todos choravam a cada palavra que ela dizia. Pude perceber o quanto Jackelynn era amada, haviam tantas pessoas que mal cabiam na celebração e não paravam de chegar mais. Todos com o semblante da mais pura e intensa tristeza, pois apesar da idade ela era uma mulher forte e muito saudável, que sempre fazia todos rirem.

Parei para refletir sobre a necessidade real de me distanciar de tantas pessoas após o divórcio com Mary. Habituado a cortar laços com tudo que me recordava dela, percebi que também perdi pessoas essenciais durante aqueles anos. Ali estava eu, sozinho, encarando a inevitabilidade e a intensidade da morte.

Num instante, as palavras de Gabriela sobre minha timidez e medo de me expor ecoaram em minha mente. Será que esse receio de ser vulnerável é a razão pela qual me sinto sem propósito?

Se puder não se apaixoneOnde histórias criam vida. Descubra agora