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M a r g a r i t a      M a r t i n e l l i

11/01/2020        20:03        Florença


- Então, como anda a vida? - Questiono, me sentando no pequeno murinho da ponte. Eu e Alexsandro resolvemos que ir devagar é a melhor coisa, para que esse...lance não atrapalhasse nos nossos objetivos individuais e iguais, se é que me entendem. Na verdade, a ideia foi minha e ele não gostou muito, mas concordou e disse que retomar nosso relacionamento do nada pode dar merda.

Mesmo que a atração ainda exista e o sentimento amoroso também, eu e Alex ficamos muitos anos separados, não nos falamos e nossas vidas mudaram bastante. Não poderemos retomar o namoro do nada, e se quisermos isso, teremos que adaptar, ou o que aconteceu no passado vai se repetir.

- Muita coisa aconteceu nesses últimos dias. - Ele suspira e se senta ao meu lado com nossos cachorros quentes, me entregando um. - Meu irmão está morando comigo.

- É mesmo? Eu nem sabia que se falavam, o que Sandro achou? - Dou uma mordida no cachorro quente e tento controlar o gemido de satisfação. Eu amo tanto isso aqui.

- Não gostou muito, mas ele não possui mais autoridade para dar ordens. Eu, eu defendi o Fernando. - Ele diz a frase final como se isso fosse o maior absurdo que ele pudesse cometer.

- Claro que defendeu. Ele é seu irmão. - Seguro sua mão e encaro seu rosto, compreensiva. - Você precisa se abrir Alex, como se abriu para mim. Não é nenhum pecado você gostar do Fernando.

- É difícil. - Ele vira o rosto para o horizonte, olhando as estrelas quase invisíveis. - Eu tenho medo de me abrir muito e criar algum sentimento fraternal, se eu fizer isso, a vida dele entra em risco. Ele vai se tornar um ponto fraco e têm gente que pode se aproveitar disso.

- Você não se importou em criar algum sentimento por mim. Eu sou seu ponto fraco, e você não parece se importar muito. - Alexsandro vira o rosto para mim, me encarando nos olhos. Há um pequeno V entre suas sobrancelhas. Estranho, está me lembrando muito alguém.

- Você sabe se cuidar, é perigosa e ninguém seria doente de fazer algo contra a princesinha de Henrico Martinelli. - Fala com ironia. - Você é querida, Margarita, não só por algumas máfias Italianas, mas pela máfia Russa também. Acha mesmo que eu devo me preocupar com sua segurança? - Olhando por esse lado, ele está certo. - Mas Fernando não, ele é só a porra de um cidadão exemplar e defensor dos menos favorecidos. - Acabo rindo pelo nariz.

- É, me lembra o Pietro. - Assim que acabo de dizer, algo parece se iluminar no meu pensamento. É, era isso. - Você me lembra muito o Pietro, Alexsandro, ele é sua versão loira.

- Pietro?

- Meu primo. Ele veio morar conosco. Também é um cidadão exemplar, é pediatra. - Digo orgulhosa. Eu realmente acho o que ele faz incrível. - Ele cresceu nas ruas, nunca soube quem é o pai e a mãe era uma prostituta, morreu quando ele tinha uns três anos, foi criado por moradores de rua. Até que meu tio, Frank, o resgatou.

- Por acaso, esse não é o primo que me contou que tirou sua virgindade, é? - Alexsandro me encara com um olhar mortal e tento segurar o riso, mas acabo não aguentando. - PUTA MERDA, ELE ESTÁ MORANDO COM VOCÊ?

- É, é ele. E sim, estou feliz por ter meu primo morando comigo. - Finjo chateação. - Pena que ele se recusa a transar comigo novamente.

Eu só posso querer morrer, não há outra explicação. Alexsandro está calado, parece calmo e sereno, isso só significa uma coisa, ele está prestes a cometer uma chacina.

- Eu estou brincando. - Digo. Na verdade, eu não estou, mas ele não precisa saber. - Não a parte da virgindade, ele realmente tirou, mas a parte que é uma pena ele não querer novamente, essa parte é brincadeira.

- Então, ele quer? - Merda, acho que não usei as palavras muito bem.

- Não. Olha, deixa isso para lá, eu e ele somos apenas primos agora, nada há mais.

- Não, tudo bem, você é solteira. - Okay, eu não esperava por isso, não mesmo. Acho que ele foi abduzido e um extraterrestre está o controlando. - Não me olhe assim, eu tenho bom senso.

- E é por isso que estou o olhando assim. Você nunca teve bom senso, Alexsandro.

- Podemos esquecer o papo do seu primo? Eu não vou conseguir fingir o bom senso por muito tempo. - Acabo rindo e concordando. - Enfim, Fernando, ele era o papo.

- Sim, e, olha, eu te conheço Alex, transformar seu irmão em um alvo para seus inimigos não é sua única preocupação. Você está com medo de se abrir para mais alguém.

- Não estou com medo, porra, eu só... - Ele passa a mão dentre os fios negros do seu cabelo, os puxando levemente. - Não consigo, eu não conseguido fingir que sou um irmão normal, sabe, conversar sobre mulheres, ver filmes de ação e sair para beber, não consigo fazer isso sem me sentir extremamente entediado.

- Você está entediado agora? Comigo?

- Não, eu nunca fico entediado com você.

- Nós saímos para beber, você me levou em uma loja para comprar um vestido e estamos sentados no murinho de uma ponte, comendo cachorro quente e conversando sobre família. Como pode não estar entediado?

- É porque é você.

- E ele é seu irmão. Tudo bem, vocês possuem crenças diferentes sobre a vida, você é um mafioso e ele um homem que defende as leis. Mas isso não é impedimento. - Seguro seu rosto, acariciando sua bochecha e olhando para ele todo. Deus, como esse homem é lindo. - Você merece ser feliz.

- Não, não mereço não. - Ele tenta virar, mas impeço. - Margarita, ele vai se decepcionar comigo. Não posso ser o irmão que ele merece, eu sou mau.

- Se você se preocupa com o bem-estar dele, com a segurança dele e com os sentimentos dele, Alexsandro, você já é o irmão que ele merece e já sente algo fraternal por ele.

- Isso não tem nada a ver com sentimento fraternal.

- Tem tudo haver. - Sorrio e me aproximo de seu rosto, quase grudando nossos lábios. - Promete para mim que vai tentar se aproximar dele.

- Margarita... - Alexsandro tenta me beijar, mas me desvio e ele bufa.

- Promete? - Arqueio as sobrancelhas em desafio e ele parece derrotado.

- Tudo bem, eu prometo. - Sorrindo satisfeita, deixo que ele me beije. A melhor coisa do mundo todinho... O beijo se intensifica, Alexsandro parece faminto, desesperado e quente, muito quente. Eu quero tanto estar nos braços dele novamente. É a porra do meu lugar seguro.

- Me leva para casa. - Peço, sussurrando em seus lábios.

- Que tal irmos para a minha? - Ele se afasta, me olhando com expectativa. Droga, eu queria tanto...

- Não posso. - Ele revira os olhos e cruza os braços em clara demonstração de desagrado. Deus, ele e Pietro fazem o mesmo bico, mas não vou contar isso. - Alexsandro, vamos devagar, lembra?

- E se eu quiser correr? Porra, eu quero voar, Margarita. Eu... eu quero você.

- Eu também quero, mas vamos deixar para depois do roubo, como combinamos. - Ele se levanta e enfia as mãos no bolso da frente. Ainda está com raiva.

- Não precisamos transar, eu só quero ficar com você. Por favor, só dormir? - Merda, como negar um pedido desse? Que caralho, ninguém nunca me pediu apenas para dormir comigo.

- Tudo bem. Eu vou acabar me arrependendo, mas tudo bem. - Seu rosto se ilumina como quem acabou de ganhar o prêmio Nobel da paz.

Ele estende a mão e eu olho para ela, é, não há volta.

Qual a chance de estarmos em uma mesma cama e não rolar nada? Bom, quase nula. Vou dormir de jeans.

Devil EyesOnde histórias criam vida. Descubra agora