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|M a r g a r i t a|

Acordo com o balanço do carro. Abro os olhos vagarosamente e viro o rosto lentamente. Alexsandro está com um semblante preocupado.

Coloco minha mão sobre a dele, que estava descansada na marcha do carro. Ele se assusta um pouco, o que só comprova minha teoria.

Algo aconteceu.

— O que foi? — Minha voz quase não sai. Ainda estou meio rouca de sono.

A estrada está muito escura, quase não vejo nada, mas claramente é uma subida e possui muitas curvas.

— Alexsandro... — O chamo novamente, já ficando preocupada. Ele não é assim. Porra, nunca vi ele assim.

— Não é nada, Mag. Pode voltar a dormir. — Ele não me olha.

— É claro que é. — Sussurro. Não estou acostumada a vê-lo agir dessa forma. Alexsandro sempre foi muito frio em relação a quase tudo, mas agora parece.... Abalado. — Sei que parece idiotice falar isso, mas você pode confiar em mim.

Aperto sua mão ainda sobre a marcha. Ele suspira e bufa, parecendo ceder.

— Eu tenho um irmão. — Franzo o cenho, completamente confusa. — Não estou falando do Fernando.

Ah...porra.

— E como soube?

— Lorenzo acabou de me ligar. Ele descobriu o motivo do meu pai estar tão... Agitado, ultimamente.

— E já sabe quem é? Quantos anos têm? — Ele abre um sorriso sádico, totalmente puto.

— Sei. Sei quem é o filho da puta. — Alexsandro dá um soco no volante, o que me faz pular no banco. — Droga.

— É tão ruim assim? Você o conhece?

— Margarita, não vou falar mais nada. Preciso pensar no que farei agora, essa situação é uma merda. Podia ser qualquer um, porra, qualquer um... Menos...

— Quem é?

— Você vai descobrir. Mais tarde, mas vai.

Ele não falará nada, resolvo não insistir. Alexsandro não é conhecido por ter paciente.... Pelo menos estou com minha arma carregada na cintura e destravada.
Eu posso....gostar dele, mas isso não invalida o psicopata que ele é.

— Para onde vamos? — Olho no relógio do carro, é madrugada, cinco horas da manhã. Eu dormi por um bom tempo. Acho que estava cansada.  — Onde estamos, Alexsandro?

— Chegando em Milão. — Arregalo os olhos.

O meu pai vai me matar. Ele vai me enterrar viva. Puta que pariu.

— Milão? Alexsandro, você é louco?

— Sou. E só vamos parar em Milão para comer alguma coisa e dormir um pouco. Temos mais ou menos duas horas e meia de estrada até o destino final.

Eu já sei para onde estamos indo.
É a ideia mais perfeita e mais idiota que ele já teve.

— Está me levando para Courmayeur, não está? — Tento esconder o agrado na voz.

Ele finalmente sorri. É um sorrisinho fraco, mas é um sorriso.

— Alexsandro... Eu não sei se te beijo, ou se te dou um tiro.

— Eu prefiro a primeira opção. — Ele leva a mão que estava descansada sobre a marcha para minha perna, apertando minha coxa. — É o nosso lugar preferido depois do Napoli. — Ele murmura. Decido não falar nada, apenas deixar ele continuar seu passeio ao passado. — Nós estávamos namorando há sete meses quando viemos pela primeira vez. Eu ia te pedir em casamento aquela noite na cabana, no jantar.

Acho que meu coração parou. Parou não, ele se derreteu, virou geleia. Meu estômago está mais gelado que a neve que cai lá fora.
O que porra ele está falando? Ia me pedir em casamento?

— Não vai falar nada? — Ele não me olha, continua vidrado na estrada a frente.

— Eu não tenho o que dizer. — Minha voz mal sai. Estou embasbacada demais para acreditar que isso seja verdade. — Alexsandro, eu não entendo...

— O que você não entende, Margarita?

— Você... Você jamais pediria alguém em casamento. Você não ama ninguém. — Ele franze o cenho e sinto sua mão soltar minha perna. — Por que você me pediria em casamento?

— É isso que pensa? — Sua voz não está mais tão serena quanto antes. Eu o irritei? — Margarita. Seja sincera, o que pensa que eu sinto por você?

Não penso duas vezes.

— Tesão. — Dou de ombros. — Acho que é algum tipo de tesão doentio e possessivo.

— É essa porra que pensa? — Ele quase rosna. — Caralho, mulher dos infernos. Você não consegue mesmo entender, não é?

— O que eu não entendo?

— Que eu amo você, Margarita. — Ele finalmente me olha. Seus olhos transbordam decepção e... Tristeza.

Eu amo você, Margarita...
Ele disse isso?
Eu não estou sonhando, estou?

— Você não sabe o que é isso. — Murmuro tentando não chorar ou me iludir.

Não. Ele não sabe o que diz. Ele não sabe o que é amar alguém. Ele não ama ninguém além dele mesmo. Não, Margarita... Não acredita nele.

— Eu sempre amei você.

— Alexsandro, cala a boca. — Cruzo os braços e viro o rosto para a janela. Consigo ver algumas luzes de longe. Milão.

— Você sente o mesmo? — Sou pega de surpresa pela pergunta.

— Alexsandro, podemos mudar de assunto ou simplesmente ficarmos quietos?

— Por que não quer falar comigo? — Não respondo. — Margarita, eu quero resolver a porra do nosso problema. E para isso, preciso que você esteja aberta a conversar.

— Eu não acredito em você, Alexsandro. Tudo bem, admito que você me trata diferente, mas o que isso significa? Nada. Você me mataria sem pensar duas vezes se fosse preciso, porque você não tem sentimentos. Entende?

Ele não diz nada.

Ele não diz nada por um bom tempo.

Entramos na cidade. Está silenciosa e calma, apenas poucos carros passam por nós.

Depois de uns quinze minutos dentro de Milão, Alexsandro estaciona na frente de um hotel. Já ficamos nesse lugar...

Antes que eu pudesse abrir a porta do carro, a voz dele me faz parar. Faz meu coração parar também.

— Eu não mataria você. — Ele sussurra. — Eu mataria por você. — Fico olhando para ele.

Nunca vi Alexsandro tão sério em todos os anos em que o conheço. Ele nunca falou com tanta... Emoção?

— Eu morreria por você, Margarita.

Não chora... Garota, eu vou atirar em você se chorar.

— Sinto muito que não acredite nisso. — Ele murmura e faz um movimento de negação com a cabeça. — Isso foi um erro. Talvez tenham razão... — Alexsandro finalmente me olha. Eu o chateei. — A gente não dá certo.

Ele abre a porta e sai, deixando-me sozinha dentro do carro e sem palavras. Só eu e minha vontade de me bater.

Mas o que eu posso fazer. Ele é o diabo. Ele poderia amar alguém? Eu queria tanto acreditar.

Tanto...

Devil EyesOnde histórias criam vida. Descubra agora