parte 2

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Katsuki desviou rapidamente o olhar para ver o que mais ele fazia e notou o vinho que tanto gostava no canto da mesa. Com um suspiro de algo que lembrava vagamente felicidade, ele falou:

— Vinho? Pra me acalmar? Boa ideia, Kana, eu vou mesmo precisar hoje. Acredita que ele reclamou dos meus gráficos e...

Katsuki parou quando olhou para cima e parou de falar. Ele viu a mulher colocar a garrafa de vinho em cima da mesa e dar dois passos para trás, nervosa.

O cabelo cortado sem nenhum cuidado, o terno mal feito que desvaloriza o corpo dela e aquela gravata horrível com um nó mal feito. Mas que porra...?

— Que porra é isso? — Ele perguntou de forma rude, largando os papéis na mesa e se recostando na cadeira confortável para ouvir.

— S-senhor Bakugou, eu... — Kana respirou fundo antes de falar. — Eu sou um homem trans. É com essas roupas que me sinto mais confortável para trabalhar. Esse sou eu e espero que, se eu puder continuar trabalhando nessa empresa, o senhor me chame de Eijirou e use pronomes masculinos a partir de agora. Se o senhor não puder me respeitar como homem, eu peço que me demita.

Bakugou respirou fundo. Aquilo não respondia sua pergunta.

— Okay, Eijirou. O que eu quero saber mesmo é que porra é isso? Essa gravata cafona, ridícula. Esse terno que não te cai bem, olhe os seus braços. E se eu começar a falar do seu cabelo agora eu vou morrer espumando bem aqui nessa mesa e você vai ser o assassino. — Katsuki falou pausadamente, talvez agora ele entendesse o que estava perguntando.

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Eijirou não conseguiu segurar um risinho feliz. Por mais que estivesse sendo, como sempre, um pouco babaca, seu chefe pelo menos não era um babaca transfobico. E se arrepios correram por todo o corpo de Eijirou ao ouvir seu crush o chamar pelo nome, ele jamais admitiria.

— Eu... esse foi o melhor que eu pude comprar com o dinheiro que eu tenho.

Ele observou Katsuki franzir o cenho para sua resposta.

— E quem cortou seu cabelo? Porque eu acho que a gente deve processar essa pessoa. Além disso, você está dizendo que não tem dinheiro suficiente pra um terno melhor? Está insinuando que quer um aumento? De novo? Olha, Eijirou, seu serviço é bom, mas não o suficiente para dois aumentos em menos de seis meses, caralho.

Katsuki parecia indignado e confuso.

A expressão dele era fofa. Ele era fofo. O terno caro que delineava o corpo dele era fofo.

Tudo era fofo para Eijirou naquele momento.

Então ele havia saído do armário e Katsuki estava o chamando por seu nome, usando os pronomes certos e sequer mencionou demissão? Será que ele estava sonhando e sequer havia saído de casa ainda? Ainda era três da manhã? Será?

Ele se beliscou forte na perna.

Não estava sonhando.

— Não, eu não quero aumento. — Eijirou falou rindo, deixando Katsuki ainda mais confuso. — É só que o dinheiro... realmente não deu. É que eu to ajudando minhas mães financeiramente e a transição é meio cara, então não sobra muito. Mas estou 100% feliz com meu salário e já sou muito grato pelo recente aumento. E...eu cortei meu cabelo sozinho...

— Então eu vou processar você. — Katsuki entrelaçou as duas mãos e apoiou em cima da mesa

Eijirou riu, desejando que fosse mesmo só uma brincadeira. Nunca dava pra ter certeza de muita coisa com Katsuki Bakugou.

— Eu vou morrer se tiver que olhar pra essas roupas todos os dias e principalmente se eu passar mais de 8 horas nessa empresa hoje eu vou tacar fogo nesse prédio, a começar por aquela adega pra explodir todo esse andar. Então, eu vou refazer esse gráficos que o puto do Enji reclamou, vou enviar pra ele e mandar ele enfiar no cu e a gente vai comprar roupa nova e te dar um bom corte de cabelo, okay, Eijirou?

Eijirou arregalou os olhos, contento muito mal a risada pelos xingamentos a Enji Todoroki. O dono da Endeavor não era uma figura muito querida por ninguém ali, nem sequer o próprio filho, quanto mais Katsuki que já não parecia gostar de humanos em geral.

— O senhor vai... me levar pra fazer compras?...Olha, eu agradeço muito mas não acho que posso pagar por isso, sabe? Eu adoraria, mas...

— Relaxa, eu posso cobrir uma parte e descontar o resto pouco a pouco, o que acha? Afinal, eu que tô cobrando isso mesmo. Eu só realmente preciso me distrair, okay? Você me ajuda a me distrair, Eijirou?

Vindo de Katsuki, naquele tom bem menos agressivo, quase parecia um pedido.

Quase.

— Sim, senhor Bakugou. Tudo bem.

— Ótimo. Agora eu vou comer e vou refazer os gráficos. Não vou matar ninguém. Não vou quebrar os computadores. Depois vou passar um tempo me distraindo e conhecendo melhor meu secretário, o homem que conhece segredos meus que poderiam me pôr na cadeia. Meu dia não vai ser completamente ruim, né Eijirou? Pode repetir pra mim o que preciso fazer?

Kirishima conhecia aquele olhar de Bakugou. Aquele olhar à beira do surto. Ele discretamente deu um passo pra trás, ansioso pra deixar a sala.

— Comer com calma. Refazer os gráficos. Não mate ninguém. Não quebre nada. Depois podemos sair.

— Valeu. — Bakugou respirou fundo e acenou com a mão para que Eijirou saísse.

Deixando o chefe finalmente comer, ele saiu com pressa não disfarçada, antes que seu chefe explodisse de vez e ele fosse pego pela bala perdida.

Pouco depois das três da tarde, Katsuki se apoiou em sua mesa com uma mão, a postura um tanto quanto constrangida.

— Então, eu preciso que você envie alguém para limpar minha sala. Com cuidado... por causa dos cacos de vidros. Digamos que eu tenha quebrado nossa promessa de não quebrar nada.

— Então o senhor quebrou duas coisas? — Eijirou comentou e riu da própria piada, ficando um pouco sem graça quando Katsuki só o encarou, sério.

— Você tem um humor muito questionável, Eijirou. Te espero no meu carro. Pare de me chamar de senhor nem que seja por hoje, okay?

— É só uma forma de demonstrar respeito, um costume. — Eijirou respondeu.

— Eu sei. Mas Bakugou está bom. — disse Bakugou, já se distanciando em direção ao elevador.

The Way You Look Tonight (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora