O regador de ferro pairava sobre suas mãos delicadas enquanto cuidava de suas flores, com cuidado. Estava se adaptando a nova rotina, com a casa cheia e sorrisos mais constantes.
Narcissa avistou Draco, com um pequeno embrulho nos braços, perto dos pavões. O rapaz parecia concentrado em explicar algo para o bebê, que no dia de hoje possuía os cabelos verdes e a pele rosada. Logo Andrômeda se aproximou de Draco, mostrando algo que a loira não conseguiu enxergar.
E então um peso estranho tomou conta de seu coração, como uma mão invisível esmagando seu peito. E levou alguns minutos para que ela entendesse o motivo daquela angústia, deixando um suspiro pesado após largar o regador no chão, próximo aos materiais de jardinagem.
Encontrou o marido sentado no enorme sofá branco, com o olhar um tanto perdido. A casa, que antes era cercada de elfos e empregados, agora era habitada apenas pela família. E graças aos feitiços que Andrômeda e Molly haviam lhe ensinado, tudo continuava no lugar.
Os Weasley, assim como Harry Potter, eram visitas frequentes. Tudo devido, é claro, a nova moradora do lugar.
Não que Narcissa se importasse, realmente.
— Querido — chamou com cuidado, sentando-se na perna do marido — Talvez seja hora.
— Tem certeza? — questionou, passando o braço pela cintura da mulher. Ela acenou, recostando sua cabeça no ombro de Lucius — Hoje mesmo daremos um jeito, hm? E amanhã você poderá levar Andrômeda para vê-la.
[...]
As duas lápides estavam cercadas de flores, em um lugar bonito do enorme jardim dos Malfoy. Narcissa terminava de plantar as mudas de lavanda quando um soluço baixo ecoou nas proximidades. Limpou as mãos sujas de terra nas roupas, virando-se levemente. Notou o olhar caloroso do marido e do filho, que estava ao lado de Harry.
Andrômeda entregou Teddy para o padrinho, sentindo-se trêmula demais para conseguir manter o bebê consigo sem derrubá-lo.
Se aproximou da irmã, que estendia a mão para ela e enlaçou os dedos juntos. Por alguns minutos, ambas se olharam e era como a infância outra vez. Juntas, até nos piores momentos.
Narcissa deixou sua mente viajar até Bellatrix, que fora morta na guerra.
— Você fez isso, Cissy?
A voz suave da mais velha pareceu despertá-la, fazendo um breve sorriso tomar-lhe os lábios rosados.
— Não era justo, você sabe — começou, passando o braço pelos ombros da castanha — Você merecia ter sua menina perto, também. E como ela e Lupin não desgrudavam... Enfim, Teddy ficará feliz ao ver os pais juntos, aqui. Harry achou uma boa ideia, e ajudou com tudo.
Um abraço apertado foi o que recebeu em troca. Um singelo ato de amor, de gratidão. Andrômeda sorriu quando a irmã passou os dedos por suas bochechas, as limpando.
— Sinto muito por tudo, Andy. Por tê-la perdido — disse com a voz machucada.
— Nymphadora lutou até o último minuto, Cissy. Por algo que ela acreditava. Sinto orgulho da minha menina — disse baixo, notando que os homens haviam voltado para a casa, deixando-as sozinhas — Sei que deve se culpar, mas existem raízes tão profundas que nem mesmo nós podíamos arrancar. Está lindo, Dora ficaria muito feliz.
E então o sol se despediu aos poucos, deixando que noite caísse sobre as duas almas que se entrelaçavam ali, se reconectando após tanto tempo. Voltando para casa, como as duas garotinhas que já foram um dia.
E como se Nymphadora e Remus realmente estivessem ali, duas folhas caíram do salgueiro, dançando contra o vento frio que balançava a copa da árvore.
Era um recomeço.
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Má-fé
FanfictionOs jardins já não pareciam os mesmos, assim como o rosto pálido que espiava pelas grandes janelas. [família malfoy | short fic]