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2019

-Professor -eu dou uma risadinha. Ele está bem na minha frente- pessoalmente você é tão diferente.
-Inspetora -ele faz um movimento tosco no óculos. Ele é estranho. Nós dois ouvimos pingos no chão sujo. De início parece uma goteira, mas não. O pequeno sorriso no meu rosto se desfaz, assim como o pavor no rosto do professor. Sinto o líquido amniótico escorrendo pela minha calça- fica tranquilo. Ainda vai demorar. Nós vamos ter bastante tempo para conversar antes -faço uma pequena pausa. Antes de eu parir aqui, em um lugar sujo e sem recursos? Antes de ele ajudar o meu bebê a sair da minha vagina depois de dilatar dez centímetros? Ou antes de eu ir ao hospital e tirarem meu filho de mim?- você sabe. Vamos conversar um pouco?
-Você está em trabalho de parto, Alicia.
-Meu Deus, eu não acredito! -falo sarcástica, tentando disfarçar a onda de nervosismo que toma conta do meu corpo- senta ali -eu aponto para duas cadeiras no canto do armazém sujo. Com os passos lentos e corpo tremendo, o Professor se senta na cadeira e eu faço o mesmo, sempre apontando a arma para ele- vai ficar tão quieto? As contrações já já vão começar e o nosso trabalho vai ficar bem mais difícil.
-Você não pode me entregar, Alicia -ele faz novamente um movimento com o polegar para empurrar o óculos. Sua voz está trémula-
-E porque não?
-Se você negociar a sua liberdade em troca de mim, vão te levar para o hospital e quando o seu filho nascer vão tirá-lo de você. Ninguém deixa uma criança com uma torturadora -eu sou muito mais do que isso, penso- ou você se alia a nós, tem o seu bebê aqui, ganha milhões de euros e vai para onde você quiser com o seu filho. 
-Eu também vou ganhar nome de cidade?  Um macacão vermelho e máscara de Dali?
-Você não vai entrar para o grupo. Ainda mais porque ninguém iria te aceitar depois do que aconteceu com o Aníbal. 

Plano Paris *finalizada* 2020Onde histórias criam vida. Descubra agora