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2019

Mais uma hora se passou. Eu já tinha dilatado todos os 10 centímetros quando comecei a empurrar meu filho para fora de mim. O médico clandestino não chegou a tempo, e esse trabalho foi designado para o Professor, que ficou entre minhas pernas olhando para minha vagina fixamente.
Um último empurrão foi necessário para que toda a dor acabasse e eu me esvaísse em lágrimas ao ver minha bebê pela primeira vez. Solto a arma que estava apontada para a cabeça do meu "parteiro", que me entrega minha filha chorosa. Minhas lágrimas caem sobre seu corpinho e limpam os restos de sangue e líquido amniótico que o cercavam. Eu a ofereço meu seio. Ela mama excitadamente. Vejo seus olhos cheios de vida se abrirem pela primeira vez.
Marsella se aproxima e me entrega um cobertor, e eu envolvo minha filha nele. O pseudo assaltante a observa:
-Ela é linda -Marselha lança um olhar alegre para mim-
-Ela -eu engasto. Nunca senti tanta felicidade antes- é perfeita. Minha filha -eu beijo sua pequena testa-

Se passaram apenas 50 minutos e minha filha já está dormindo profundamente. Sua respiração suave me hipnotiza e eu observo suas mãozinhas, tão pequenas e delicadas. Seu corpo já está limpo depois de um banho breve e está envolto por um dos bodys que eu trouxe na minha mochila, de precaução. Não consigo largá-la, e quero que essa bebê fique no meu colo assim para sempre.
Enquanto o Professor tenta contornar o assalto, Marsella curiosamente insiste em se aproximar de mim, puxando assunto pior do que um homem machista e levemente embriagado que se aproxima fazendo cantadas sexistas. Se bem que é impossível superar esses caras.
-Aonde você estava no primeiro assalto? -Marsella me questiona. Eu balanço meu corpo suavemente na tentativa de ninar minha bebezinha-
-Estava recusando a proposta de ser a negociadora do caso. E depois a Rachel aceitou. Sempre foi do seu feitio ficar com os meus restos.
-E o que te fez recusar a proposta?
-Isso é um interrogatório? -eu o indago sarcástica, estranhando a onda de perguntas por mais que saiba que ele está as fazendo sob orientação do Professor- eu estava grávida. Mas imagino que o Professor já saiba isso.
-Ele não me pediu para te perguntar nada -Marsella fica em silêncio por alguns segundos- e o que essa gravidez tinha de diferente da outra?
-No primeiro assalto o meu marido me convenceu a dizer não, já que a gravidez já estava mais avançada. Também tem outra diferença -eu suspiro fundo- dessa vez eu pari um bebê vivo -sinto uma pontada no meu peito ao lembrar do corpo sem vida do meu primeiro bebê. Seus olhos opacos. O rosto do German quando a médica anunciou que eu fiquei 12 horas em trabalho de parto para sair do hospital apenas com um caixão branco do tamanho de uma caixa de sapatos nos braços. Não deveriam existir caixões tão pequenos, dizia meu marido-

Plano Paris *finalizada* 2020Onde histórias criam vida. Descubra agora