"Eu estava passando por uma noite muito difícil. Muitas dores e incômodos. German insistiu que fôssemos ao hospital, mas eu consegui convencê-lo de me deixar em casa naquela noite, supondo que seriam apenas algumas contrações de treinamento. Por mais que estivesse exausta daquela gestação, estava muito preocupada. Sabia que havia algo de errado com o Pedro. Deitada na cama, eu tentava manter a minha respiração ofegante calma por entre aquelas dores:
-Como você está, querida? -German me abraçou. Eu recolhi as minhas poucas forças para respondê-lo-
-Mal -eu ficava mais fraca a cada minuto-
-Vamos para o hospital. Agora -German anunciou enquanto me ajudava a levantar. Senti que ia cair para frente, que a minha barriga era grande demais e que o meu corpo não tem forças para sustenta-lá-
Eu cheguei no hospital quase inconsciente. Me lembro apenas de alguns flashs antes de acordar em um quarto no hospital. Meu primeiro sinal de consciência fez com que German se aproximasse. Fiquei surpresa ao perceber que o bebê estava para nascer. Uma manta branca me impedia de ver minha barriga. Um grupo de médicos circulavam em volta dela agilmente. German acariciava a minha cabeça enquanto observava através do pano.
-Oi, meu amor -German beija minha testa-
-Oi. O bebê. O nosso bebê está bem?
-Sim. Está tudo bem. Você teve um sangramento e eles acharam melhor fazer uma cesárea -respiro com dificuldade mesmo com a ajuda do respirador."-E depois? -Marsella me questiona. Seu olhar curioso está fixado em mim. Continuo contando a história tragicamente real a ele continuamente-
"Os médicos não deixaram o German cortar o cordão umbilical e nem me entregaram o bebê para que eu o amamentasse. Levaram meu filho para longe. Em silêncio. Não tinha choro. Nenhum além do meu e o do German. Ele estava morto."
-Era ele ou eu. Um dos dois tinha que morrer -eu tento conter as lágrimas que se estão se esvaindo pelo meu rosto- o instinto materno não é tão forte quando o instinto de sobrevivência.
-Eu sinto muito -Marsella coloca sua mão sobre a minha, gesto idêntico ao de Rachel durante um dos nossos interrogatórios. Eu não me afastei dessa vez- você não é tão culpada.
-O que? -eu pergunto realmente instigada-
-A vida fez você assim. Você perdeu pessoas e -eu o interrompo rude-
-Todo mundo já perdeu pessoas e nem todos se tornaram monstros que torturam.
-Você é muito mais do que isso. Não é o que você diz?Marsella me lança novamente um olhar apaixonado. Eu sorrio.
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Plano Paris *finalizada* 2020
Fanfiction6 de abril de 2019: Em passos largos chego no galpão velho e sujo. O chão está encharcado, e espero que o som das botas na água não anunciem a minha chegada ao idiota do Professor. As paredes acinzentadas e enferrujadas me atormentam. Abro a única...