1 - Desprólogo

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Por entre uma viela escura e mal-cheirosa da Tavancy úmida e inebriante do começo do outono, Caterine esgueirava-se. Firme, formosa, funestamente jocosa, a Caterine outonal, encapuzada e nefasta, corria rumo ao bacanal.

Ora pois, seu burgês, lá se vai tua dama. Lá se vai Caterine... Festejar com os pomposos? Vai dar para os poderosos?

Dar o que, monsié mister mén?

Mái resposta: Ohhh... iú don-nou? Oh, bãrainou, iés! Oh, iés, mister burgês!

Oh, mas o que está acontecendo? – É esta a pergunta da senhora dona leitora e do senhor seu leitor. – Oh, que leitura terrível! Que palavras estranhas! Que expressões mal escritas! Que malícia! Cala a boca-te! (Esta última aí: eu respondendo).

Enfim: é, meu caro amigo barão, Caterine se escapa pruma casa dos prazeres... E que fará a respeito?

Ai uíu batê-la!

Oh, mister lorde, mas os rapagões de lá são teus amiguinhos dos negócios. Isso pegaria tão mal... Não?

Dôntim frente ófi deles, dônti... Bãrinmaicasa, monsiér, quando ela voltar!

Pois faz muito bem, senhor lorde burgês.

E a Caterine apressada, na calada da noite, orientava-se pelas tochas fumegantes junto às pedras sólidas dos edifícios da cidade e pelo brilho opaco das janelas, acima. Conhecia o caminho: viela após viela, um beco; em seu fim: a biqueira.

De drogas?

Ha! Não... biqueira em Tavancy que é? É o aglomerado dos bicões dos poderosos nas casas de jogos e prazeres...

Mas jogos e prazeres são proibidos em Tavancy.

Ora pois... A Tavancy outonal é assim surreal, dos mailordes daqui é tão suja a moral... É neblina, é fumaça, é o frio deste clima... Faz do moço, um leão, e da moça... bem, leão também. Tavancy... Tão intumescente! Tão... apertadinha! É casa, é loja, é igreja, varejo, igreja, é barraco, é mansão, é igreja, vielas, becos, vielas, viela, beco... mais beco. E igreja. É este aperto que só. É frio... no outono. E no inverno: ah, congela! Mas a mesma fumaça e neblina que se vê em Tavancy no outono, não se vê no inverno. Congela! A madeira umedece, embebida de neve, e o fogo não pega, ah, de jeito nenhum... nem debaixo da lareira, nem debaixo das cobertas... Em Tavancy outonal, por muito outro lado, o fogo pega. Pega e pega que só, e a consequente fumaça esconde o rastro de senhores e senhoras, todos bem encapuzados e que, caso se esbarrem pelas portas nem tão secretas das casas de pecado, fingem que não aconteceu. No outono, Tavancy é esse cu sem dono.

Volta pra casa, Caterina, que o mai lorde tá brabo, pequena.

Caterina não voltaria. Caterine avançava por sobre as pedras sujas das ruazinhas escuras, rumo a casa dos prazeres.

– Docíssima senhora, pra onde é que vai a essa altura da madrugada?

– Não te devo satisfação, oh, Piolha...

– Mas senhora, se o marido te pega fora de casa numa hora dessa, vai bater nimim também.

– Ora, Piolha, eu escondo meus passos, queridinha.

– As ruelas de Tavancy foram feitas por hómi, filha, pra que os hómi se aventurassem por ela à noite. Se o teu marido te pega fora a essa hora, bate nimim.

– Oh, Piolha, me escuta... A gente está em que século?

– Senhora, não me faz pergunta difícil, não.

– Enfim... Não te devo satisfação. Nem a ele. Não casei pra isso.

– Mas você deve, filha... A ele. É teu marido, ora! Deixa de ser teimosa, que sei do que tô falando...

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