Garotos estragam tudo

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Cada escola tinha uma entrada separada para o Teatro de Fábulas, que era dividido em duas metades. As portas do lado esquerdo davam para a seção dos alunos do Bem, decorado com bancos cor-de-rosa e azul, frisos de cristal e buquês cintilantes de flores vitrificada. O lado direito dava para a seção dos alunos do Mal, com bancos de madeira, entalhes de assassinatos e tortura, e estalactites mortais penduradas no teto. À medida que os alunos entravam em seus lados para as boas-vindas, as fadas e os lobos protegiam os corredores de mármore prateado entre eles. Apesar de seu novo uniforme horrendo, Sophie não tinha nenhuma intenção de se sentar com o Mal. Foi só dá uma olhada para as meninas do Bem, para seus cabelos brilhantes, sorrisos deslumbrantes e elegantes vestidos cor-de-rosa, e ela soube que havia encontrado duas irmãs. Se as fadas não viessem salvá-la, suas colegas princesas certamente o fariam. Com os vilões empurrando-se pelo caminho, ela tentou chamar a atenção das meninas do Bem, mas elas estavam ignorando o seu lado do auditório. Finalmente, Sophie abriu caminho pelo corredor, acenou com os braços e abriu a boca para gritar, quando uma mão puxou-a para debaixo de um banco podre.

 Finalmente, Sophie abriu caminho pelo corredor, acenou com os braços e abriu a boca para gritar, quando uma mão puxou-a para debaixo de um banco podre

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Agatha puxou-a para um abraço. "Eu encontrei a torre do Diretor da Escola! Fica no fosso e tem guardas, mas de nós conseguirmos chegar até lá, podemos..."
"Oi! Que bom ver você! Dê-me suas roupas", disse Sophie, olhando o vestido rosa de Agatha.
"Ahn?"
"Rápido! Isso vai resolver tudo."
"Você não pode estar falando sério! Sophie, não podemos ficar aqui!"
"Exatamente", Sophie sorriu. "Eu preciso estar em sua escola e você precisa estar na minha. Exatamente como conversamos lembra?"
"Mas seu pai, minha mãe, meu gato!", Agatha vociferou. "Você não sabe como eles são aqui! Eles vão nos transformar em cobras, ou esquilos, ou arbustos! Sophie, nós precisamos voltar pra casa!"
"Por quê? O que eu tenho em Gavaldon para querer voltar?" Disse Sophie.
Agatha ficou corada de mágoa. "Você tem... É, você tem..."
"Certo. Nada. Agora meu vestido, por favor."
Agatha cruzou os braços.
"Então eu mesma vou pega-lo", Sophie fez uma careta. No entanto, bem na hora em que ela agarrou Agatha pela flor em sua manga, algo a fez parar subitamente. Sophie ficou escutando, de ouvidos atentos, e partiu feito uma pantera. Ela mergulhou embaixo dos bancos empenados, esquivando-se dos pés dos vilões, abaixou-se atrás do último banco e pôs a cabeça para fora para espiar.
Agatha foi atrás, exasperada. "Não sei o que deu em você..."
Sophie cobriu a boca de Agatha e ficou ouvindo os sons que foram ficando mais altos. Sons que fizeram todas as meninas do Bem ficarem eretas. Sons pelos quais elas haviam esperado a vida toda. Do corredor, as batidas das botas, o tilintar do aço...
As portas do lado esquerdo foram escancaradas para sessenta garotos belíssimos com espadas em punho.
Todos tinham peles bronzeadas, que era possível ver por debaixo das mangas azuis-claras e dos colarinhos engomados; botas de cano alto combinavam com os paletós acinturados e as gravatas finas de nós bem dados, cada uma delas bordada com uma única inicial dourada. Enquanto os meninos cruzavam as lâminas alegremente, suas camisas saíam das calças beges justas, revelando cinturas finas e lampejos de músculos. O suor brilhava nos rostos, enquanto eles se lançavam pelo corredor, com as botas batendo no mármore, até que rapidamente a luta de espadas chegou ao seu clímax, com meninos prendendo outros meninos junto aos bancos. Em um último coro de movimento, eles sacaram rosas de suas camisas, e com um grito de "Milady!", jogaram-nas às meninas que mais lhes chamaram a atenção. (Beatrix viu-se com rosas suficientes para plantar um jardim.)
Agatha observou tudo aquilo com enfado, mas depois viu Sophie, com o coração na garganta, ansiando por sua própria rosa.
Nos bancos decadentes, os vilões vaiavam os príncipes, mostrando faixas com os escritos:" OS NUNCA DOMINAM!" e "OS SEMPRE NÃO ESTÃO COM NADA!" (Exceto por Hort cara-de-doninha, que cruzou os braços emburrado e murmurou:" Por que eles têm direito a uma entrada especial?"). Com uma reverência, os príncipes mandaram beijos para os vilões, e prepararam-se para tomar seus lugares, quando as portas do lado esquerdo subitamente escancararam-se uma vez mais.
E mais um entrou.
Seus cabelos eram como um halo cor de ouro, seus olhos azuis pareciam um céu sem nuvens, sua pele era da cor da areia quente do deserto, e ele reluzia como um nobre, como se o sangue em suas veias fosse mais puro que o dos restantes. O estranho deu uma olhada para os garotos armados com espadas, puxou a sua... e sorriu.
Quarenta meninos vieram para cima dele de uma só vez, mas ele desarmou cada um deles com a velocidade de um raio. As espadas de seus colegas de classe empilharam-se aos pés, enquanto ele os afastava sem causar-lhes um só arranhão. Sophie sonhava acordada, boquiaberta, enfeitiçada. Agatha torcia para que ele se espetasse acidentalmente. Ela, porém, não teve essa sorte, pois o garoto descartava cada novo desafio com a mesma rapidez que surgia, fazendo o T bordado em sua gravata azul reluzir a cada dança de sua espada. E quando o último dos príncipes quedou-se abismado e sem espada, ele embainhou a sua e sacudiu os ombros, como se dissesse que aquilo não queria dizer nada. Contudo, os meninos do Bem sabiam o que aquilo significava. Os príncipes agora tinham um rei. (Nem os vilões encontraram motivos para vaiar.)
Enquanto isso, as meninas do Bem já sabiam que cada princesa de verdade encontrava um príncipe, portanto não havia necessidade de brigar. Entretanto, esqueceram-se daquilo quando o garoto dourado puxou uma rosa da camisa. Todas elas pularam, acenando com seus lencinhos, agitadas como gansos na hora de comer. O menino sorriu e ergueu sua rosa no ar.
Agatha viu Sophie mexer-se tarde demais. Ela correu atrás dela, mas Sophie disparou pelo corredor, pulou por cima dos bancos cor-de-rosa, saltou para alcançar a rosa e, em vez disso, alcançou um lobo.
Enquanto ele arrastava Sophie de volta para o seu lado, ela fixou seus olhos nos do menino, que ficou analisando seu belo rosto e seu horrendo uniforme preto. Ele inclinou a cabeça, perplexo. Depois ele viu Agatha espantada, de cor-de-rosa, com a rosa dele recém-caída na palma de sua mão, e se retraiu pelo choque. Enquanto o lobo atirou Sophie no lado do Mal e as fadas empurraram Agatha para o meio do Bem, o menino, com os olhos arregalados, observava estupefato, tentando entender tudo. Então, uma mão puxou-o para sentar-se.
"oi. Eu sou Beatrix", ela disse, fazendo questão de que ele visse todas as suas rosas.
Dos bancos do Mal, Sophie tentava chamar sua atenção.
'transforme-se em um espelho. Então, você terá uma chance."
Sophie virou-se para Hester, que estava sentada ao seu lado.
"O nome dele é Tedros", disse sua colega de quarto. "E ele é tão presunçoso quanto seu pai."
Sophie estava prestes a perguntar quem era o pai dele, mas olhou para sua espada de prata reluzente, com um cabo de diamantes. Era uma espada com uma empunhadura de leão que ela conhecia dos livros de histórias. Uma espada chamada Excalibur.
"Ele é filho do Rei Arthur?", Sophie sussurrou. Ela estudou as maçãs saltadas do rosto de Tedros, seus loiros cabelos sedosos, seus lábios grossos e macios. Seus ombros largos e braços fortes preenchiam sua camisa, o nó da gravata estava desfeito e o colarinho, aberto. Ele parecia tão sereno e tranquilo, como se soubesse que o destino estava a seu favor.
Olhando para ele, Sophie sentiu seu próprio destino encaixar-se.
Ele é meu.
Subitamente, ela sentiu um olhar apimentado do outro lado do corredor.
"Nós vamos para casa", Agatha pronunciou claramente as palavras.

A Escola do Bem e do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora